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Quando a vontade de ganhar dinheiro sobressai a fé das pessoas
Foto: Heryvelton Martins
E se você ficasse perdido em uma ilha, morrendo de fome e sede quando um ser celestial caísse em sua frente? A peça Caravela da Ilusão apresentada na noite de ontem (10) na 50ª edição do Festival Nacional de Teatro retrata exatamente isso. Uma família que passa por maus bocados descobre uma forma de ganhar dinheiro na fé das pessoas, que acreditam que um anjo, preso em uma gaiola, é capaz de realizar desejos e ainda melhorar a vida de todos.
Uma crítica severa ao capitalismo e à própria religião, o espetáculo apresenta a história de uma família inteira com apenas três atores, que começam a vender parte de um anjo e até objetos “benzidos” por ele como forma de ganhar dinheiro. Com uma troca rápida de figurino, entre anjo e coadjuvante, e um trabalho de iluminação que consegue imergir o público na história os três atores, Matheus Gonçalves, Felipe Santos e Victor Ferreira. e o diretor, Jonatas Noguei, conseguiram entregar uma história que certamente está no páreo do Fenata.
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A marcação feita pelos atores tanto na música quanto na iluminação foram favoráveis a produção, isso porque as músicas pareciam “comandar” o corpo dos atores em alguns momentos e ajudavam a transmitir os sentimentos de medo e alegria, que aparecem diversas vezes na peça. Quanto à iluminação, ela certamente favoreceu e muito o sentimento que cada personagem sentia, com cores escuras em momentos de tensão, claras em momentos de felicidade e até piscando em momentos de caos. O destaque fica para a aparição do anjo, que foi iluminado de trás do palco, fazendo o público ver apenas a silhueta e imaginar o que seria aquela criatura estranha.
Serviço
Peça: Caravela da Ilusão
Autoria: Jonatas Noguei
Grupo: Espaço Nucleo
Trilha sonora: Espaço Nucleo
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Peça do grupo paulista situa fanatismo religioso em comunidade de trabalhadores rurais
Alienação, pecado e violência religiosa. São alguns dos temas explorados no espetáculo Vereda da Salvação, apresentado pela Cia Beradeiro, de São José do Rio Preto (SP). Baseada na obra homônima de Jorge Andrade, a peça retrata uma comunidade rural que tem a vida transformada pelo radicalismo religioso. As relações dos personagens com a terra em que habitam e trabalham, assim como com o divino, guiam a trama e a jornada comunitária.
O antagonismo entre dois dos personagens principais, Manoel e Joaquim, movimenta a história. A dualidade entre eles representa os modos como é possível se relacionar com a fé, o trabalho e a família, mostrando que as relações podem ser saudáveis ou problemáticas, de acordo com a perspectiva e características de cada um. A interpretação de Joaquim é feita por dois atores, causando um estranhamento que evidencia as características do personagem, assim como a atuação sóbria do ator que interpreta Manoel ressalta as posições que ocupam na comunidade em que vivem.
Imagem: Ccom-UEPG
A cenografia acompanha o conteúdo do espetáculo, o palco coberto de terra e de vegetação representada por decorações de madeira, ajuda a ambientar os atores na fazenda onde a história se desenrola. O figurino simples em tons pastéis, com as luzes amareladas dos refletores dá uniformidade à estética do espetáculo e transforma os atores de forma crível e precisa em moradores do interior agrário brasileiro.
A peça prende o público do início ao fim, a trama que começa de forma calma escala em intensidade à medida em que o fanatismo religioso de Joaquim contamina os demais personagens, resultando em um final que choca tanto pelo potencial violento desencadeado pela crença no divino, como pela atuação dos atores e a qualidade do roteiro.
Por Gabriel Ferreira
Serviço:
Peça: Vereda da Salvação - Apresentação em 09/11/2022, 20h, Cine Ópera) - Drama, 60 minutos
Direção: Fabiano Amigucci e Fagner Rodrigues
Elenco: Andrea Capelli, Beta Cunha, Christina Martins, Daiane Souza, David Balt, Deivison Miranda, Esmeraldina Reis, Ester Carvalho, Geovanna Leite, Giovana de Paula, Jéssica Paladino, Nathalia Navarro, Pietra Borges, Simone Moerdaui, Su Mayê, Vladimir Banhara.
Classificação: 16 anos
Produção e Realização: Cia Beradeiro (São José do Rio Preto/SP)
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A caravana dos pássaros errantes retrata a história do massacre de 200 ciganos, no Piauí
Para fazer teatro nem sempre é preciso de um palco e iluminação. O teatro de rua mostra que pode preencher os espaços da cidade com música, poesias e encenações. A Praça Barão do Rio Branco, ficou mais colorida e alegre com o Grupo Nômade e a apresentação A caravana dos pássaros errantes. O trabalho do grupo apresenta a cultura cigana e a história real do massacre que ocorreu no Piauí, onde cerca de 200 ciganos foram assassinados, em 1913.
A peça aborda temáticas sociais e existenciais, através do drama e da comédia. Mesmo com uma história real, a peça atualiza, de maneira ficcional, o preconceito, intolerância, perseguição, protagonismo feminino, entre outros temas, que não deixam de existir na história dos ciganos.
"A caravana dos pássaros errantes". Foto: Luiz Cruz/Foca Foto
As personagens interagem com o público e compartilham energia, além de ocupar espaços que, até então, não estavam delimitados na praça. A apresentação conta com quatro personagens: dois protagonistas, Ana Cristina Freitas e Jonas Di Paula, condutores da história da caravana que, no desentendimento com um comerciante local, são perseguidos por policiais. Os outros dois personagens são músicos, interpretados por Carlos Medeiros (violino) e Guilherme Padilha (sanfona), que criam uma musicalidade para a peça, envolvendo o público na cultura cigana.
A articulação da peça consegue prender o público e encantar com a expressão cultural. O final do espetáculo deixa uma melancolia, pois apresenta o massacre e o assassinato de uma criança, que se torna um santo na cultura cigana. É o momento em que a peça aborda a vida e a morte, bem como a metáfora de que, ao morrer, os ciganos se transformam em pássaros.
Por Janaina Cassol
Serviço:
Peça: A caravana dos pássaros errantes - Teatro de Rua do 50. Fenata (Praça Barão do Rio Branco, Centro de PG) 9/11/22, 10h
Dramaturgia: Jonas Di Paula
Direção: Atul Trivedi
Elenco: Ana Cristina Freitas, Jonas Di Paula, Carlos Medeiros e Guilherme Padilha
Classificação: 12 anos
Produção e Realização: Grupo Nômade (São José dos Campos/SP)
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A peça é produzida e apresentada pelo Grupo Lampejo de Ponta Grossa
Em apresentação para o 50° Festival Nacional de Teatro Amador, no Sesc Estação Saudade, a peça infantil “Fada Maria" faz uma crítica ao uso excessivo das redes sociais e a falta de consciência ambiental nas grandes cidades, com linguagem acessível para crianças.
Com cerca de 40 minutos, a encenação conta a história de uma fada chamada Maria apaixonada pelo mundo dos humanos, que decide percorrer um longo caminho até chegar à metrópole. Durante o trajeto, a fada conhece quatro personagens: o guarda do reino das fadas, a senhora “Carolcol”, o Hugo o tartarugo e a coruja, que a alertam sobre os poderes hipnóticos da internet.
As luzes do teatro mudam de acordo com cada novo lugar que a personagem protagonista passa, com tons de roxo, verde, branco e azul, o que cria uma atmosfera de imersão no cenário para o público. Outro ponto positivo a se mencionar é a utilização intuitiva do som, que se modifica durante as falas da Fada Maria, dando entonação certa para cada sentido da frase, como drama ou tristeza.
Atriz Ana Almeida interpretando a personagem Fada Maria / Foto: Valéria Laroca
A personagem principal se utiliza de alguns artifícios específicos para chamar a atenção do público infantil, com uma composição de roupas coloridas, elementos que caracterizam uma fada, como maquiagens com glitter, asas de borboleta e cabelos criativos, que remetem à fantasia.
A presença de uma moral da história também é outro elemento, pois, ao longo da estadia da Fada Maria na metrópole, a personagem é inserida dentro do mundo digital ao ganhar um celular, mas é alertada pela fada Rainha, sobre cuidar com a quantidade de tempo ao utilizar a internet.
Um adendo precisa ser feito com relação à participação do personagem Hugo, pois apesar de se apresentar como uma tartaruga marinha, o mar ou o litoral não é citado pela fada durante sua narração.
A peça tratou de temas relevantes de forma pedagógica, o que demonstra a importância de tratar, desde a infância, sobre o uso excessivo da internet e das redes sociais, a falta de cuidados com o meio ambiente nas grandes cidades, a carga horária das jornadas de trabalho e o despejo de lixo nos mares.
Por Valéria Laroca
Serviço:
Peça: “Fada Maria” – Mostra Especial do 50º Fenata (10/11/22, 15h)
Produção e Realização: Grupo Lampejo- Ponta Grossa/PR
Duração: 40min
Local: Estação Saudade/Sesc
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Peça experimental usa a tecnologia digital para discutir espetacularização da violência
“Tudo o que você quer é que algo aconteça”. A peça experimental de Max Reinert tem como tema principal a maldade máxima que a psique de um indivíduo pode atingir, indicada pela escala psiquiátrica de 1 a 22, de acordo com o texto do diretor em 2011. Denise da Luz é a intérprete que recupera o trabalho em 2018 e, a partir de então, a dupla trabalha na peça pela perspectiva da internet como um meio de propagação da crueldade.
Ao utilizar retroprojetores, sons distorcidos de guitarra e batidas no microfone reverberando em tempo real, a tecnologia é o instrumento que protagoniza a peça, e amplia no momento em que Denise simula uma live no Instagram enquanto agoniza sobre os próprios machucados corporais. A obra é visceral: o monólogo é composto majoritariamente por falas sobre violências físicas e psicológicas e, repetidamente, sobre como a protagonista sente as dores em cada um de seus órgãos.
Atriz simula suicídio assistido em live do Instagram / Foto: Lilian Magalhães
De acordo com Max, o objetivo da peça é levar o público a experimentar sensações de choque e incômodo. Assim, quem acompanha é levado a entrar na mente da protagonista através da psicodelia causada pelas luzes e ruídos, o que pode ser um movimento agressivo para quem não está preparado para a sensação de ansiedade que o monólogo causa.
A peça é uma crítica à normalização de conteúdos de violência na internet, sejam os vídeos de assassinatos e massacres popularmente categorizados como gore ou a leitura de relatos de violência explícita nas redes sociais, que geram um ciclo de amplas visualizações e compartilhamentos. O fim da peça deixa a impressão de que se assistiu, alí, a um suicídio de uma persona que consome e pratica violências. A relevância do texto, adaptado em 2018 para introduzir outros elementos sobre um mundo virtual violento, é perspicaz e alcança o objetivo em trazer, nos 45 minutos de espetáculo, o sentimento cruel de uma sociedade motivada pela maldade. É o Índice 22 no 50º Fenata!
Peça: Índice 22 - Mostra Telmo Faria da 50º Fenata (Cine Ópera, 9/11/22, 22h)
Ficha técnica:
Dramaturgia: Max Reinert
Direção: Max Reinert
Elenco: Denise da Luz
Classificação: 16 anos
Gênero: Experimental
Duração: 45 minutos
Produção e Realização: Téspis Cia. de Teatro (Itajaí/SC)