Batalhas de rap incentivam a expansão do hip-hop em Ponta Grossa
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- Produção: Lucas Ribeiro
- Categoria: Periódico
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Apresentações são quinzenais; próxima acontece em 1 de junho
A cultura do hip hop ganha destaque em Ponta Grossa. Nos últimos meses, eventos que reúnem cantores e compositores da área têm atraído cada vez mais adeptos ao movimento. A Batalha do Coliseu (BDC) é um desses eventos, que surgiu em julho de 2021 por iniciativa de jovens que passaram a ocupar a praça que dá nome ao evento, no coração da cidade, atrás do Restaurante Popular.
Desde a primeira edição, a Batalha do Coliseu teve impacto importante no município. Em um lugar pouco cuidado pela Prefeitura, a BDC trouxe visibilidade à praça, tornando-a atrativa para a população. “A Fundação de Cultura passou a cuidar do local depois que começamos a usar”, conta Adrian Silva, rapper, compositor e um dos fundadores da BDC, conhecido como PIQ.
Batalha do Coliseu chama atenção para o cenário do Hip-Hop em Ponta Grossa
O BDC também atua no combate ao preconceito contra o hip hop. Antony dos Santos Viera é DJ e já atuou na Batalha do Coliseu. Conhecido como djNuno, ele destaca que “a importância do hip hop e a vontade de crescer são inigualáveis, porque é uma cultura criminalizada muitas vezes, mas é uma cultura que salva vidas. É uma forma de tirar uma criança das ruas, de ser você mesmo, de trazer atividade para um lugar público que às vezes não está sendo usado da forma correta”.
As batalhas acontecem normalmente a cada dois sábados, no período da tarde. Os encontros reúnem cantores, compositores e DJ´s não apenas de Ponta Grossa. A presença feminina também é presente nos eventos.
Paula Gomes é cantora e compositora de rap, conhecida como Paulera. Segundo ela, “ser artista por si só já é difícil pra caramba, quando se é mulher o caminho é mais difícil ainda, assim como tudo na vida, não devia ser assim, mas é”. Apesar dos obstáculos, Paulera diz ser bem recebida no meio da cultura, principalmente por cantoras que buscam se destacar no meio. “É massa ter essa troca de experiência, ainda mais quando se ouve artistas femininas locais, porque são mulheres que vivem na mesma cidade ou no mesmo estado que você. Quando uma mina canta, às vezes não é só sobre ela, é sobre várias.”
Ficha Técnica
Reportagem: Lucas Ribeiro
Edição e publicação: Catharina Iavorski
Video e Imagem: Divulgação Batalha do Coliseu
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
Alunos continuam à margem na eleição para reitor da UEPG
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- Produção: Da Redação
- Categoria: Periódico
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Às vésperas da consulta, poucos discentes conhecem as propostas das chapas concorrentes e a diferença do peso dos votos
Apesar da maioria dos alunos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) entrevistados pelo Periódico saberem da eleição para reitor, das datas, e avaliarem seus votos como necessários, eles desconhecem as campanhas, a composição das chapas, as propostas e o peso dos seus votos na consulta - nome oficial da votação.
O diálogo seguinte, com um dos 50 entrevistados pela reportagem do Periódico na unidade de Uvaranas, ilustra a situação:
- Sabe que haverá eleição para reitor?
- Não.
- Sabe o dia da eleição?
- Não. Eu vi o cartaz, mas não me recordo.
- Conhece os candidatos e suas propostas?
- Também não.
- Tem intenção de votar?
- Não… É obrigatório?
- Conhece a diferença de pesos dos votos?
- Também não.
- Acha positivo que os alunos votem?
- Sim.
A divisão dos votos considera o número de alunos, professores e servidores. Como a maior parte dos votantes é composta por alunos, o peso do voto deles cai para compensar os votos das outras duas categorias, com menos pessoas.
As chapas são formadas pelo cisão da atual reitoria, a chapa 1 é encabeçada pela atual vice-reitor enquanto a chapa 2 é representada pelo atual reitor. | Foto: Yuri A.F. Marcinik
Assim, o voto dos servidores têm maior valor, seguidos por professores e alunos. O acadêmico Caio Amorim, do segundo ano de Agronomia, soube desta diferença próximo ao período da eleição. “O peso deveria ser equivalente, já que somos maioria. Nós seremos os mais afetados com as decisões do futuro reitor”, critica o acadêmico.
Além do desconhecimento de boa parte dos alunos, as campanhas não são voltadas a eles, pois atingem, prioritariamente, servidores e professores. Para a professora de pedagogia Gisele Brandelero, acadêmicos não têm acesso às campanhas para além de faixas e adesivos.
“Penso que poderiam ter acontecido outras frentes nessa instituição e lá no centro”, diz a professora que atua na unidade de Uvaranas. Ela acha válido que servidores e professores sejam livres para manifestar apoio às chapas. “A única forma que eu não acho válida é quando um candidato agride o outro e as pessoas que o apoiam”.
A eleição para reitoria da UEPG acontece sábado, 09 de abril, para os campi fora de Ponta Grossa, e em 13 de abril, 13, nas unidades de Ponta Grossa.
Ficha técnica:
Repórteres: Lucas Müller, João Gabriel Vieira, Cássio Murilo,Yuri A.F. Marcinik, Marcella Panzarini, Leonardo Duarte, Evelyn Paes, Lilian Magalhães e Luiz Tramontin
Edição e Publicação: Lucas Müller, João Gabriel Vieira
Supervisão de Produção: Maurício Liesen e Marcos Zibordi
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi
“É absurdo, não pode ocorrer despejo durante a pandemia”
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- Produção: Da Redação
- Categoria: Periódico
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Líder de ocupações alega que sem-teto não podem ser retirados de áreas ocupadas
Nos últimos meses, a cidade de Ponta Grossa teve três ocupações de áreas reivindicadas por famílias sem-teto. O líder dessas ocupações é Leandro Santos Dias, 35 anos. Entre outras atividades sociais, ele está à frente da ocupação que vem sendo chamada de Parque das Andorinhas.
Dias é advogado formado pela UEPG e se tornou um estudioso na área do direito à moradia digna. Em 2002, começou a fazer parte de movimentos sociais e já participou de outras ocupações. Atualmente, ajuda em cursinhos populares na Rede Emancipa.
Com companheiros do cursinho, observou a demanda por moradias na cidade. Segundo dados da Companhia de Habitação de Ponta Grossa (PROLAR), existem aproximadamente 23.000 famílias na fila por uma casa na cidade.
Diante desse quadro, os ativistas passaram a planejar a ocupação no Parque das Andorinhas no começo de outubro de 2021. Ela ocorreu em 4 de dezembro do ano passado. Hoje, reúne cerca de 700 famílias. O nome oficial homenageia Ericson John Duarte, um jovem ativista que morreu de Covid em 2020.
Além dessa ocupação, mais duas ocorreram recentemente no município, ambas eme áreas desocupadas. Uma delas, no terreno vizinho à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), chamada ocupação Rosa Luxemburgo. Nela, Dias quase foi preso em 27 de março. O líder da ocupação teve que ir até a delegacia, mas, como não havia crime, foi dispensado.
A outra ocupação é a Fidel Castro, no Parque do Sabiá, ocorrida em 4 de fevereiro, no final da tarde. Na madrugada seguinte, a Polícia Militar, com cerca de duzentos policiais, desocupou a área.
Na entrevista a seguir, Dias detalha os processos de ocupação, as reivindicações, a ameaça de prisão e a situação jurídica dos acampados.
Leandro Dias, líder do movimento Frente Nacional de Luta Ponta Grossa
Periódico - Pode resumir a desocupação do Parque dos Sabiá?
Leandro Dias - Nós fizemos a ocupação no dia quatro de fevereiro e lá nós fizemos às seis e meia da tarde. Quando foi na madrugada do dia cinco, a Polícia Militar (PM) chegou lá numa mega operação, com mais de cem viaturas, com mais de duzentos policiais e apontando a arma pra cabeça de todo mundo, criança, mulher, idoso, as pessoas dormindo já nas suas barracas e fizeram o despejo. Essa ocupação a gente batizou de Fidel Castro, e já tinha demarcado 83 lotes, caberiam ali 400, 500 famílias. É um terreno abandonado pela Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). Existe um imbróglio jurídico que nós estamos batalhando na justiça pra ver exatamente quem é o dono, porque tá nebuloso isso né. A PROLAR diz que não é dona, mas, no entanto, foi ela quem entrou com a ação. Então existe uma ilegitimidade.
No último domingo, dia 27 de março, vocês fizeram uma nova ocupação?
Realizamos essa ocupação no domingo, com 50 famílias. Essa nós fizemos diferente: entramos no terreno às três horas da madrugada. Abrimos uma picada no mato, que tem três metros de altura. Engraçado que a propriedade é tão sagrada para alguns setores da sociedade, que eles preferem mato, cobra, escorpião, mas se um grupo de sem tetos ocupam, eles vão lá e, mesmo ao arrepio da lei, desocupam. Não havia documento nenhum, não tinha boletim de ocorrência dos donos, não tinha mandado de reintegração, não tinha nada. Assim como no Parque dos Sabiás. Eles estão chamando isso de operação da polícia e chamando de crime de esbulho possessório, sendo que isso não existe no código penal. Você pode procurar lá em todos os artigos do Código Penal, não existe esse crime. Tanto é que eles queriam me conduzir no carro da polícia até a delegacia para assinar um termo circunstanciado e eu me recusei, porque eu sou advogado, eu tenho as minhas prerrogativas, eu não me negava a ir até a delegacia com o meu próprio carro. E termo circunstanciado e nada, dá no mesmo. É uma forma que eles têm de querer criminalizar, com o líder foi preso. Eles queriam me conduzir, eu falei ‘não vou, não tem porquê eu ser conduzido’. Aí eles acharam um meio termo. ‘Então você vai no seu carro e vai um policial dentro’. Não, não tem cabimento. Eu tenho as minhas prerrogativas como advogado, não tem porque, eu não sou um criminoso. Aí eles quiseram agarrar no meu braço, começar a me puxar e eu deitei no chão, falei ‘então vocês vão ter que me arrastar, vocês que sabem, vocês tem que consumar o abuso de autoridade de vocês, porque isso é um absurdo’. Aí a gente conseguiu contato com o setor de prerrogativas da OAB, que o advogado, quando está numa situação dessas, ele tem direito da Comissão de Prerrogativas da OAB acompanhar. Chegaram lá e o comandante da operação, o major Moreira Só, virou a criatura mais doce e educada do mundo.
Aí vocês foram para a delegacia?
Fui com meu carro mesmo, como de fato eu tenho direito, e chegando na delegacia, uma demora para fazer um Boletim de Ocorrência, como sempre. Eles são tão eficazes que é sempre três, quatro horas para fazer um mero Boletim de Ocorrência. Quando, de repente, me chamaram para uma sala, o delegado da Polícia Civil queria me ouvir, não assinei nada, inclusive eu iria me recusar a assinar, porque primeiro eu gostaria ter registrado o meu boletim contra o comandante da operação da Polícia Militar.
Qual o tamanho do terreno da ocupação do Parque das Andorinhas?
O terreno tem 12 hectares, contando com rua. Equivale a 12 mil metros quadrados, com aproximadamente 700 famílias. Noventa e cinco por cento da área pertence à Companhia de Habitação de Ponta Grossa, PROLAR. Nós fizemos uma extensão da ocupação, já que muitas pessoas estavam procurando a gente, isso três semanas depois da primeira ocupação. Essa parte estendida pertence ao ex-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Antonio Busato.
Tem alguma novidade jurídica?
Na sexta, dia 25 de março, houve uma audiência, foi fechado um acordo parcial. Estamos aguardando o desenrolar dos fatos e do processo. Agora a PROLAR está fazendo o cadastro, que já deveria ter sido feito. Eles descumpriram a determinação do TJ Paraná, que era de cadastrar as pessoas nos 30 primeiros dias. E agora foi determinado que eles façam o cadastro de novo.
Houve mais alguma decisão?
A audiência ocorreu no CEJUSC Fundiário, comandado pelo desembargador Fernando Prazeres, uma audiência para tentativa de mediação entre as partes, se havia uma possibilidade de um acordo sobre a ocupação. Não foi possível um acordo porque a Prefeitura segue irredutível, eles querem retomar a área. Agora dizem que tem projeto, depois de dez anos parado, com o terreno juntando mato, entulho, sendo um criadouro imenso de cobras, ainda hoje tem muita cobra lá, inclusive perigosa, como a urutu cruzeiro. Só houve um acordo parcial, que é a PROLAR cadastrar, entre segunda e sexta-feira, das 14h às 19h. Porque eles foram lá e sacanearam o primeiro cadastro, oram durante o dia, quando poucas pessoas estão lá. Conseguimos essa extensão até às 19 horas para facilitar para quem trabalha. O outro acordo é que vão ser fixadas quatro placas nas laterais e uma perto da nossa sede, informando que é área está sob litígio, está proibido vender, locar ou ceder. No dia 25 de abril vai retomar a audiência, às 15 horas, para tentar fazer uma composição entre as partes, para que não chegue à situação de despejo. Há tratado internacional de Direitos Humanos que o Brasil assina, que numa situação de despejo tem que prever onde vai levar as famílias, não pode largar nas ruas. Então, é uma situação difícil para a Prefeitura, porque toda vez que eles são questionados, eles dão a mesma resposta, eles não têm para onde levar essas famílias.
Ocupação Rosa Luxemburgo, localizada próxima a UTFPR, foi desocupada - Foto: Redes Sociais FNL-PG
Para onde foram as pessoas das desocupações?
Elas voltaram de onde elas vieram, coabitação com parente ou amigo, alguma parte voltou para rua, tinha moradores de rua lá no Parque do Sabiá e o pessoal que está pagando aluguel, está sofrendo em pagar aluguel, por isso é uma grande demanda da ocupação porque não estão conseguindo pagar aluguel, comprar comida, comprar roupa. Então elas voltam de onde vieram, via de regra essas trẽs situações: voltam pra rua, voltam pra morar de favor e voltam pra onde estavam pagando aluguel.
Os despejos estão proibidos durante a pandemia?
É um absurdo o que está acontecendo, não pode ocorrer despejo durante a pandemia, e ocorreram dois. Nós estamos tomando as providências, vamos cobrar na justiça, vamos entrar com um processo na Corregedoria da Polícia para cobrar do comando da Polícia Militar a punição aos envolvidos. A polícia não pode agir ao arrepio da lei, como se ela fosse portadora de condições de criar a própria lei. Se isso acontecer, a gente está lascado; eles têm o poder das armas, o poder da força e a gente fica à mercê disso. Nós estamos fazendo um esforço para que se prorrogue até dezembro deste ano a proibição de despejo, mas mesmo assim você precisa ter um boletim de ocorrência dos donos, um pedido de reintegração de posse, tudo conforme o devido processo legal e o princípio da ampla defesa, questões aí que estruturam o direito processual civil. Precisa haver o cometimento de um crime segundo algum dos artigos do Código Penal, e não existe, repito, não existe o crime de esbulho possessório, eles estão confundindo com um conceito do código de processo civil com o Código Penal. O que houve ali foi um abuso de autoridade e, enfim, a Polícia Militar quer desmontar as ocupações. A gente está absolutamente tranquilo, a gente sabe que luta de classes é assim mesmo, a gente sofre muito mais derrotas do que vitórias, mas a gente segue na luta.
Ficha técnica:
Repórteres: Maria Eduarda Eurich, Matheus Gaston, Larissa Onório, Ana Moraes, Lucas Müller, João Gabriel Vieira
Edição e Publicação: Lucas Müller, João Gabriel Vieira
Supervisão de Produção: Maurício Liesen e Marcos Zibordi
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi
UEPG flexibiliza o uso de máscara em espaços abertos
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- Produção: Erica Fernanda de Souza Ramos
- Categoria: Periódico
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Nesta quinta-feira (24), a Universidade Estadual de Ponta Grossa, através da Comissão de Biossegurança da UEPG, deliberou a flexibilização do uso de máscaras nos ambientes abertos da instituição.
Com relação às resoluções estaduais que desobrigam o uso da proteção facial em locais abertos, a UEPG permite que funcionários, estudantes e demais servidores não utilizem a máscara nos ambientes sem incidência ou possibilidade de aglomeração de pessoas. De acordo com a presidente da Comissão de Biossegurança, Andrea Tedesco, a obrigatoriedade da proteção facial continua nos locais fechados, como auditórios, salas de aulas e corredores.
A resolução tem validade de 12 dias, prazo estipulado para a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná analisar se houve aumento de contágio da Covid-19 depois da nova determinação.
Atualizado às 19h35 do dia 24/03/2022 com o anexo da deliberação.
Ficha técnica:
Publicação: Erica Fernanda
Reportagem: Cássio Murilo e Erica Fernanda
Supervisão de Produção: Maurício Liesen
Supervisão de Publicação: Maurício Liesen
Com avanço do desemprego, o número de pessoas em situação de rua aumenta em Ponta Grossa
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- Produção: Manuela Roque
- Categoria: Periódico
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Atualmente cerca de 150 pessoas sobrevivem nessas condições
Resumo da matéria:
- Oswaldo Pereira e Maicon estão em situação de rua e sobrevivem com apoio da prefeitura e instituições de caridade;
- Prefeitura disponibiliza dois serviços de assistência para atendimento das pessoas em situação de rua;
- A estimativa atual da Prefeitura é de que Ponta Grossa comporta de 25 a 30 pessoas em situação de rua e cerca de 120 pessoas estão nas ruas e têm residência fixa, mas utilizam o espaço público como meio de sobrevivência.
Oswaldo Pereira chega na Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Praça dos Polacos, todos os dias às 18 horas. Quando toca o sino da igreja ele entra, faz uma oração e conversa com o padre. Ao final da missa, coloca a mochila e o cobertor corta-febre na escadaria e espera o sono vir. Valdo, como é chamado pelos amigos que dividem a entrada da igreja à noite, conta que vive nas ruas há cerca de um ano e meio, quando perdeu o emprego de ajudante de pedreiro e não conseguiu mais pagar as contas da casa de um cômodo, alugada no bairro Cará-Cará.
Esta é uma das várias histórias escondidas nos rostos cabisbaixos que habitam os arredores de igrejas, praças e das ruas de Ponta Grossa. Com a chegada da pandemia, em 2020, Oswaldo esperava continuar trabalhando em pequenos serviços domiciliares, mas as oportunidades não vieram. O pedreiro entregou a casa para o proprietário, vendeu seus móveis e passou a procurar abrigo em instituições de acolhimento da cidade.
Oswaldo guarda suas economias para almoçar no Restaurante Popular e, no fim da tarde, entra na fila da marmita da instituição Irmã Scheilla. “Eu não tenho vergonha de pedir ajuda, ficar na fila, esperar pela comida, eu teria se eu não tivesse trabalhado nada nessa vida”, diz. Oswaldo nunca foi casado, mas tem um filho de 22 anos que mora e trabalha em Carambeí. “Ele tem a vida dele e eu tenho a minha, amo meu filho, mas não preciso que ele cuide de mim, eu tô bem aqui”.
Ao lado de Oswaldo, na escadaria da igreja da Praça dos Polacos, dorme Maicon. O morador, que não quis compartilhar seu sobrenome, conta que foi expulso de casa por ser usuário de drogas e hoje vive nas ruas. Maicon se alimenta diariamente tanto das refeições da instituição Irmã Scheilla, como do “sopão” na Praça Barão do Rio Branco, conhecida como Praça do Ponto Azul, além disso, também utiliza os serviços da Prefeitura para banho. “Minha mãe não me quer, o que eu posso fazer? Se tá lá e eu posso usar, eu tomo meu banho, ‘vazo’ e durmo onde der”, desabafa.
Prefeitura presta suporte para pessoas em situação de rua | Foto: Vitor Almeida
Voluntariado
Diversas organizações ponta-grossenses trabalham em prol da população de rua na cidade. A Organização Espírita Cristã Irmã Scheilla, em atuação desde 1954, é uma delas. De acordo com Maria Etelvina Wosiacki, vice-presidente, a procura pelas refeições promovidas diariamente pela instituição aumentou durante a pandemia, principalmente de pessoas que perderam o emprego neste período. “Não temos apenas moradores de rua, temos também famílias com dificuldades financeiras e sociais que precisam da nossa ajuda, que não têm dinheiro para pagar uma refeição e nos procuram para se alimentar. Nós alimentamos quem tem fome, independentemente de ter um lar ou não”.
Em 2021 a instituição realizou uma pesquisa para conhecer o público auxiliado pelas refeições diárias. No total, são distribuídas nos dois turnos (manhã e noite) de 400 a 500 marmitas, atendendo em média 120 pessoas e de 30 a 40 famílias.
Antes da pandemia, a maioria dos assistidos eram pessoas em situação de rua e pessoas que viviam à margem da sociedade. Atualmente, apenas 30% dos que procuram as refeições são pessoas nessa condição. Os outros 70% têm casa e vivem de renda informal ou estão desempregados e se encontram em situação de risco social.
Segundo Rosicleia Venske, coordenadora das refeições da instituição, a distribuição das marmitas de sopa começou nas praças da cidade durante o inverno. “O perfil do morador de rua quando começou a casa é totalmente diferente do de hoje em dia. Antes eram muito ligados às drogas e pessoas que viviam em barracos ou vielas, hoje está mais ligado à perda de emprego e falta de renda”, relata.
Para a manutenção da sede e a garantia das refeições diárias na entrada da instituição, a Organização Irmã Scheilla realiza artesanato de bordados, produção de enxovais para bebês e venda de roupas no brechó. Também são distribuídas mensalmente cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social cadastradas pela organização.
A casa, composta majoritariamente por voluntárias da terceira idade, não recebe nenhuma ajuda governamental e sobrevive apenas de doações da população. Para colaborar com a entidade basta realizar o contato através do telefone (42) 3224-4828 ou visitar a sede na Rua do Rosário, 556, no Centro.
Prefeitura
A estimativa atual da Prefeitura é de que Ponta Grossa comporta de 25 a 30 pessoas em situação de rua, ou seja, pessoas sem referência domiciliar nenhuma. Por outro lado, cerca de 120 pessoas estão nas ruas e têm residência fixa, mas utilizam o espaço público como meio de sobrevivência.
A Prefeitura conta com dois principais serviços para atendimento das pessoas em situação de rua. As equipes de abordagens, que trabalham com o encaminhamento de pessoas vulneráveis para abrigos conveniados. A segunda é a equipe de acolhimento para as dependências do Centro Pop, vinculado à Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG). A estrutura conta com espaço para banho, almoço, café da manhã e da tarde, auxílio para emissão de documentação e disponibilização de passagens de ônibus para itinerantes.
De acordo com o órgão, as equipes relatam que desde o começo da pandemia têm notado um crescimento do número de pessoas em situação de rua que procuram os serviços disponíveis. Entre os principais fatores que ocasionam o aumento estão o uso de drogas e/ou de álcool, conflitos familiares e dificuldades financeiras. Outro fator apontado pelo Centro Pop é que Ponta Grossa se trata de um entroncamento rodoviário, e por consequência recebe muitas pessoas de fora da cidade.
Covid-19
Segundo o Centro Pop, o município já vacinou mais de 100 pessoas em situação de rua, o que equivale a 60% dessa população calculada pela Prefeitura. Além disso, em 2021 foram feitos 587 atendimentos pelo órgão, com uma média de 53 atendimentos por mês. O cálculo engloba também os que necessitam do serviço mais de uma vez.
Tanto Oswaldo quanto Maicon relatam que se contaminaram com a covid-19 enquanto estavam na rua, mas também já foram vacinados contra o vírus. “Eu fiquei ruim, tremia de frio e nem era inverno. Eles [Prefeitura] me ajudaram, fui na UPA e no outro dia voltei pra cá”, conta Oswaldo. Maicon acredita que se contaminou em um grupo de pessoas na Praça do Ponto Azul. “Lá todo mundo ficava junto, ficava tossindo um no outro, ninguém usava máscara, ninguém se importava, a nossa vida não tinha como ficar pior, sabe?”.
As abordagens feitas pelas equipes acontecem de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, à noite, das 21 às 23 horas, e nos finais de semana em regime de plantão. Para informar aos órgãos responsáveis e solicitar ajuda, basta ligar para o telefone (42) 98872-3820.
Ficha técnica
Reportagem: Manuela Roque
Edição e Publicação: Ana Paula Almeida, Gabriel Ryden e Tayná Lyra
Supervisão de Produção: Rafael Kondlatsch
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen