Moradores reclamam de falta de registro vacinal contra Covid-19 em Ponta Grossa

Além da instabilidade do ConecteSUS, prefeitura e Ministério da Saúde culpam um ao outro

 

Com base em dados da prefeitura de Ponta Grossa, sobre a cobertura vacinal na cidade, quase 93% das pessoas receberam as duas doses da vacina contra a Covid-19. Entretanto, alguns vacinados notaram que as doses aplicadas não constam no sistema do ConecteSUS - que contém dados sobre procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como a vacinação. A ausência do registro oficial faz com que os moradores do município se questionem se o percentual de vacinados está correto.

Esse é o caso de Elza Rebonatto que, por ter 69 anos, possui o esquema vacinal  completo, com duas doses, desde maio de 2021. A aposentada afirma não confiar no "vacinômetro" da prefeitura. “Se eu, que já tomei a primeira dose de reforço a algum tempo, que nem está registrada no sistema, como podem provar que essa porcentagem é verdadeira?”.

Elza descobriu que não constava a terceira dose registrada no ConecteSUS ao ir tomar a vacina contra a influenza. “Quando a enfermeira perguntou o porquê de ainda não ter tomado a terceira dose, eu fiquei em choque e, por azar, nem estava com o papel colado na carteirinha, que eles dão ao ir tomar a vacina”, relembra. 

Ao chegar em casa, a idosa conseguiu encontrar o comprovante da terceira dose. Porém, diz não saber como resolver o problema. Segundo ela, a enfermeira que a atendeu não soube explicar como ela deveria comprovar o esquema de vacinação. 

O mesmo questionamento é feito pelo assessor de comunicação, João Guilherme Castro, de 24 anos. Mesmo com as três doses recebidas, ele não consegue comprovar a dose de reforço. “Eu tenho as minhas três doses registradas na carteirinha, mas se precisar de um comprovante oficial, infelizmente só poderei comprovar as duas doses”.

Ana Paula Pontaldi, assistente de juiz, também enfrentou a demora para ter a segunda e a terceira doses comprovadas no ConecteSUS: a segunda foi aplicada em Ponta Grossa e a terceira em Blumenau, Santa Catarina.

Em Ponta Grossa, ela precisou ir até o Pronto Socorro para comprovar a segunda dose. “Como a terceira dose, aplicada em Blumenau, demorou mais de um mês para aparecer no sistema, resolvi entrar em contato com a prefeitura de lá pelo Instagram e, cerca de meia hora depois de ter enviado os meus dados, a minha terceira dose foi comprovada.”

Foto Diego Chila

Foto: Diego Chila

Leva-e-traz

  Para o Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), o problema nos registros das vacinas aplicadas na população são de responsabilidade do DataSUS, gerenciado pelo Ministério da Saúde. A mesma alegação é feita pela Prefeitura de Ponta Grossa, ao mencionar que o Ministério da Saúde apontou instabilidades do ConecteSUS. A prefeitura ainda comunica que o problema no sistema não possui relação alguma ao ataque hacker que aconteceu em dezembro de 2021. 

Sobre a perda do cartão ou do selo de vacinação, a Prefeitura reforça o cuidado com os documentos. Caso não haja a confirmação da comprovação das doses, o cidadão é considerado como não vacinado. Em Ponta Grossa, para solicitar a atualização e inclusão dos dados, o vacinado precisa ir até o Centro de Imunização, que fica aos fundos do Pronto Socorro Doutor Amadeu Puppi, portando a carteira de vacinação e os documentos pessoais.

Em nota, o Ministério da Saúde informa que não há instabilidade no ConecteSUS. Além disso, esclarece que o sistema espelha exatamente os registros inseridos pelos estados e municípios através da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), conforme a Lei Nº 14.124/2021. O ministério também explica que, quem não tiver o registro disponível no aplicativo em até 10 dias após a data da sua vacinação, ou que o registro apresenta informações incorretas, deve buscar o local de vacinação ou as secretarias de saúde da cidade em que tomou a dose, para solicitar a correção.

 

Ficha técnica

Reportagem: Leriany Barbosa

Edição e publicação: Diego Chila e Tamires Limurci

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Arrecadação de leite materno em PG tem baixa no quadrimestre

Banco de Leite Humano não supre necessidades dos hospitais da região entre janeiro e abril

Em maio se comemora o Dia Mundial de Doação de Leite Humano mas, em Ponta Grossa, houve falta de leite materno nos primeiros quatro meses deste ano. O Banco de Leite Municipal de Ponta Grossa não atingiu o mínimo necessário de 130 litros para atender a cidade. No período de janeiro a abril, deveriam ser arrecadados 520 litros e o índice não chegou nem a 375. Segundo a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH) - Brasil, o menor índice foi em abril, com 79,3 litros de leite. 

 

“Estamos com estoque baixo, praticamente sem. Tivemos que diminuir os pedidos dos hospitais porque não conseguimos mandar todo o leite necessário”, salienta a nutricionista responsável pelas doações, Letícia Cruziniani. A baixa doação ainda é reflexo da pandemia. De acordo com a profissional, devido ao isolamento pandêmico, era possível fazer a coleta na casa das mulheres e, com a volta das atividades laborais, essa medida não é mais viável.

 

O leite materno arrecadado em Ponta Grossa atende os recém-nascidos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), dos hospitais Unimed, Santa Casa e o próprio Hospital Universitário Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A última vez que o Banco de Leite em Ponta Grossa alcançou a meta ideal foi nos meses de junho e julho de 2021, com 140,5 e 150,5, respectivamente. 

 

Para além da pandemia, algumas mães não doam por acreditar que possa faltar leite aos seus filhos. Cláudia Cancian, técnica de laboratório no BLH de Ponta Grossa, explica  que esse pensamento não é verdadeiro. “Se ela estimular pra tirar leite, nunca vai sentir a mama vazia, pois ela tem uma média de produção acima do consumo do bebê”, explica. 

 

Caso não haja doação e o Banco tenha falta de leite para a UTI, é necessário completar a alimentação dos bebês internados com leite de fórmula, que não é ideal  do ponto de vista nutricional para os primeiros meses de vida.

 

Situação Global

A Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH) - Brasil foi criada em 1998, em uma parceria do Ministério da Saúde (MS) e da Fundação Oswaldo Cruz, e tem como objetivo promover o aleitamento materno, coletando e distribuindo leite. O Ministério da Saúde (MS) recomenda que o leite materno seja a única fonte alimentar dos recém-nascidos de até 6 meses e, até os dois anos de idade, ainda permaneça na dieta da criança. 

 

E maio, comemora-se o Dia Mundial de Doação do Leite Humano. A data reforça a importância da doação para prover a alimentação de bebês que não conseguem ser amamentados por suas mães devido a dores, doenças, ou pega incorreta da mama.  

 

Para doar

As mães que desejam doar podem entrar em contato com o BLH do Hospital Universitário, pelo WhatsApp (42) 99102-0564 ou pelo fixo (42) 3311-8400. Após o contato, a mulher é cadastrada com algumas informações sobre seu estado de saúde. Com a confirmação do cadastro, o Humai disponibiliza material para coleta do leite, que será realizada semanalmente. A coleta também pode ser feita na sede da instituição, localizada na Rua Dr. Joaquim de Paula Xavier, 500, na Vila Estrela. "A rede de apoio é muito importante. Se a mãe não tem colaboração em casa, ela não tem tempo para fazer a retirada, que demanda tempo, pois é extração manual’’, afirma Claudia Cancian.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Bettina Guarienti e Isadora Ricardo

Edição e Publicação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de produção: Muriel E.P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Falta de políticas públicas prejudica saúde em PG

Em média, 200 pessoas procuravam a UBS Sady Silveira; cerca de 12 são atendidas diariamente

Desde o dia 16 de maio, os serviços oferecidos pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Sady Silveira, em Olarias, foram transferidos para a UBS Madre Josefa, na Vila Princesa. Para conseguir atendimento, pacientes precisam andar mais de 3,5 quilômetros, um caminho formado por ladeiras. A mudança é resultado da inauguração do Centro de Atendimento da Criança (CAC), que atende a população infantil de Ponta Grossa na antiga estrutura da unidade Sady, onde estão concentrados todos os atendimentos.

O trajeto entre as unidades leva cerca de 43 minutos a pé e 20 minutos de ônibus. Devido ao tempo de deslocamento, alguns pacientes optam pelo transporte por aplicativo. Moradora de Olarias, Janete Fonseca Mendes, de 61 anos, tratava ferimentos no rosto na unidade Sady, que foi fechada. Agora, ela precisa ir até Uvaranas para conseguir acompanhamento médico. "Preciso gastar mais que o dobro com locomoção do que antes. É perigoso vir andando já que é distante e ainda estou com a vista debilitada". 

De acordo com Janete, outros exames que estavam marcados precisaram ser adiados, o que atrasa ainda mais o tratamento. Com a transferência, toda a estrutura da UBS foi remanejada de forma improvisada para duas salas da unidade Madre Josefa, uma delas a de vacinação, o que gerou a suspensão da aplicação de vacinas.

 

Dificuldades de atendimento

Cerca de 10 mil pessoas eram cadastradas para o atendimento na UBS Sady Silveira. Segundo uma funcionária que não quis ser identificada, em média, 200 moradores procuravam a unidade por dia. Hoje, na unidade temporária, esse número é de aproximadamente 12 pacientes. Para ela, a distância entre os postos dificulta o deslocamento até a unidade. Além disso, o espaço cedido na UBS Madre Josefa não é suficiente para fazer certos atendimentos.

Atualmente, sete profissionais atendem os pacientes da unidade Sady, localizada na região de Olarias. Antes, eram 12, mas parte foi enviada para outras unidades. Com as limitações na estrutura e a redução da equipe, os pacientes atendidos têm acesso apenas a pedidos de receitas, consultas que já estavam agendadas e coleta de sangue em um espaço improvisado até a Prefeitura definir um novo local.

Na unidade para onde os atendimentos foram transferidos, UBS Madre Josefa, um pai que faz parte da associação de moradores da Vila Princesa e preferiu não se identificar, diz que “não tem estrutura para suportar todos os funcionários e a população dos bairros que buscam atendimento”. Atualmente, o local recebe moradores da Vila Princesa, Coronel Cláudio e de Olarias. 

 

Centro de Atendimento da Criança

O novo Centro de Atendimento da Criança (CAC) foi inaugurado em 16 de maio. Antes, a população infantil era atendida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sant’Ana, no centro da cidade. A abertura do espaço faz parte das cinco metas do município para a área da saúde. Uma das principais propostas é acelerar o atendimento infantil na região, destinando um local exclusivo para crianças de até 11 anos. No entanto, por ser o único local a prestar o serviço para este público, o tempo de espera permanece longo.

Na última quinta-feira (19), a equipe do portal Periódico esteve no local e acompanhou pais, mães e responsáveis que declararam aguardar mais de 3 horas após a triagem para a consulta. Rodrigo Silva, pai de uma criança de oito anos, mora em Ponta Grossa há um mês. Ele se diz impressionado com a demora no atendimento infantil. “Estava procurando um atendimento particular agora pela internet, já que estamos esperando há 3 horas e ela está piorando”, diz o pai da criança, que foi transferida de uma Unidade de Pronto Atendimento para o CAC.

UBS Ponta Grossa PG saúde Moradores esperam até 3 horas por atendimento no Centro de Atendimento da Criança em 19 de maio de 2022. Foto: Matheus Gaston

 

Para Simone Penteado, que está grávida e buscou atendimento no centro infantil para seu filho de 5 anos, o deslocamento do bairro onde mora para a unidade de Olarias é difícil. “Agora com o CAC, não quiseram atender na UBS de Oficinas. Estão encaminhando para cá. Precisei vir de Uber por causa da distância, mas caso precise voltar mais vezes, se torna inviável devido ao gasto com transporte”. 

Pouco depois da chegada dos repórteres no Centro de Atendimento da Criança, uma funcionária pediu que os estudantes fossem para a área externa e questionou quem havia autorizado a produção de fotografias e a realização de entrevistas. Por se tratar de um espaço público, o registro fotográfico é permitido, e a autorização das entrevistas depende apenas das pessoas consultadas. Mesmo assim, a funcionária comunicou a presença da equipe ao setor de Comunicação do município, e, somente depois disso, disse que os estudantes poderiam fazer fotos e conversar com os pacientes.

 

Prefeitura

Através de e-mail, a reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Ponta Grossa para questionar até quando os pacientes de Olarias serão atendidos na unidade Madre Josefa. Perguntou também se o município planeja reabrir a UBS Sady Silveira em um novo espaço e quando isso deve acontecer.

Também perguntamos em que momento foi decidido que o Centro de Atendimento da Criança iria funcionar na estrutura do postinho Sady, quais adaptações foram feitas no local e quanto foi gasto nesse processo. Até o fechamento do texto, não houve resposta.

 

Ficha técnica

Reportagem: Matheus Gaston e Victória Sellares

Edição e publicação: Victória Sellares, Maria Helena Denck 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

NUNTIARE: Ponta Grossa não tem estatísticas de covid-19 entre moradores de rua

Segundo os dados disponíveis, são 40 casos positivos e duas mortes.

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Fonte: Agência Brasil

 

Desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, Ponta Grossa registrou 40 casos da doença entre moradores de rua da cidade. Além disso, duas mortes foram confirmadas. Contudo, não existem estatísticas oficiais. Segundo Rose Christoforo, coordenadora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS-POP, “podemos computar uns 40 casos, mas não podemos afirmar com certeza, alguns não chegaram ao nosso conhecimento”. 

De acordo com dados da Assistência Municipal de PG, são 150 homens e 10 mulheres em situação de rua na cidade. Christoforo afirma que o número aumentou por conta da pandemia, mas não é possível ter dados atualizados pois, segundo a coordenadora, muitos itinerantes vem para a cidade e alguns permanecem em situação de rua, além de outras pessoas que, mesmo possuindo moradia, permanecem, sobretudo, na área central da cidade. 

Dados do CadÚnico mostram que o número de pessoas morando na rua no Paraná aumentou 49,3% nos últimos três anos. Em Ponta Grossa, são 9.427 famílias em situação de extrema pobreza, segundo a mesma fonte. O Cadastro Único é uma iniciativa que soma um conjunto de informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e pobreza extrema. São com essas informações que os governos implementam políticas públicas para promover a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. 

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Segundo a ONG Anjos da Noite, que ajuda moradores de rua com alimentos, roupas e produtos de higiene, aumentou o número de pessoas na rua. De acordo com um dos fundadores, Lucas Malaquias, a ONG atendia, até o fim de 2021, cerca de 30 moradores de rua e 25 pessoas em trânsito, que vão de uma cidade a outra. Malaquias percebeu aumento de pessoas, mais de transitantes do que de moradores de rua. 

Quanto aos casos positivos de Covid-19, eles conhecem poucos. Porém, os integrantes da ONG ouvem relatos de mortes durante os atendimentos, de colegas e companheiros dos moradores de rua que faleceram por conta da doença. 

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Mesmo sem dados oficiais, Christoforo acredita que 85% daqueles que estão em situação de rua tomaram a vacina de dose única contra a Covid-19, e aguardam a dose de reforço. A Abordagem Social, da Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa, está realizando, desde o começo da pandemia, o atendimento de pessoas em situação de rua, de acordo com os protocolos. 

“Encaminhamos para UPAS, Casa da Acolhida, Campanhas de Vacinação onde foi coberto a grande maioria de pessoas em situação de rua, de abrigos, comunidades terapêuticas, acolhimentos institucionais, entre outros”, explica Christoforo.

 

Ficha Técnica:
Reportagem: Emanuelle Salatini
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral

Março Lilás: vamos falar sobre o câncer de colo de útero?

Voltado para a conscientização das mulheres sobre o câncer de colo uterino, o mês de março veste lilás para informar sobre a doença

 

O mês de março é responsável por voltar os olhares para o público feminino de modo geral. No Brasil, além de marcar o calendário com o Dia Internacional da Mulher, acontece a campanha Março Lilás, dirigida à difusão de informações sobre a conscientização da prevenção e detecção do câncer de colo de útero. De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), este é o quarto tipo de câncer que mais mata mulheres no país. 

Segundo informações divulgadas pelo INCA, o câncer cervical, como também é chamado, é causado pela infecção persistente de alguns tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano - HPV. Dessa forma, de acordo com o cirurgião oncológico Ricardo Restivo, o risco de desenvolvimento da doença surge a partir do início da vida sexual, quando é possível ocorrer a primeira contaminação pelo vírus HPV. O médico expõe que a evolução de células anormais na parte estreita do útero são indícios para o diagnóstico do câncer, entretanto, ele afirma que a contaminação do vírus não seja um fator determinante para o consequente desenvolvimento da doença.

A campanha do Março Lilás traz como um de seus enfoques principais o reforço da prevenção do câncer de colo de útero. De acordo com dados do INCA, este é o terceiro tumor maligno que mais afeta a população feminina. A campanha está relacionada à difusão de informações a fim de conscientizar as mulheres para a realização de exames preventivos anuais, conhecido como Papanicolau,  além da vacinação de jovens entre 9 a 14 anos e a utilização de preservativos durante as relações sexuais.

Após ser diagnosticada e vencer o câncer, Carine Barth, conta sobre suas dificuldades em encontrar informações confiáveis e sem preconceito nas redes sociais relacionadas com a doença. Nesse contexto, ela afirma que isso a motivou a criar o perfil ONG Câncer de Colo de Útero, um espaço seguro e acolhedor para as mulheres que estão passando por essa situação e para aquelas que desejam se informar mais sobre o assunto. Carine também ressalta a importância da campanha do Março Lilás para reforçar o cuidado e a atenção das mulheres com seus corpos, além de enfatizar a necessidade de consultar médicos ginecologistas regularmente.

 

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Foto: Agência Brasil/EBC 

 

Março Lilás e o câncer de colo de útero no Paraná

No estado do Paraná, segundo a ginecologista Maria Tereza Blum Portela, apenas 25% da população feminina realiza o exame preventivo anualmente ou a cada dois anos, como orientado pelo Ministério da Saúde. Ainda que sejam feitas campanhas de conscientização sobre a importância da realização do Papanicolau, a médica ressalta a pouca adesão das mulheres. "Mesmo com campanhas, somente uma a cada quatro mulheres acabam colhendo o preventivo anualmente ou bianualmente”. Além disso, a ginecologista reforça as dificuldades que impedem diversas pacientes de fazerem seus exames periodicamente e enfatiza a necessidade de se divulgar as campanhas de conscientização, “as mulheres têm vergonha, têm dor, enfim, tem vários tabus, também tem o fato da falta de informação por isso a importância da campanha para a conscientização”.

Em Ponta Grossa, a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) atende a população carente (homens, mulheres, crianças), que buscam o auxílio da instituição para o fornecimento de remédios, cestas básicas, fraldas, cateteres e suplementos alimentares, além da assistência para pacientes de qualquer tipo de câncer. Sobre a prevenção e ações da RFCC, a coordenadora do setor educacional da instituição, Vera Lúcia Moura, relata sobre o suporte para que as mulheres tenham acesso ao Papanicolau. “Ao longo do ano todo fazemos essa prevenção oferecendo às mulheres de baixa renda familiar o exame preventivo de colo de útero, totalmente gratuito dentro da nossa clínica”, explica. Entre 2021 até o primeiro trimestre deste ano, a funcionária do consultório médico da RFCC, Karolayne Pereira, afirma que, em média, 220 exames preventivos foram realizados pela clínica e três diagnósticos de câncer de colo de útero foram detectados. 

Segundo a ginecologista, Maria Tereza, a campanha do Março Lilás ainda não recebeu uma ampla divulgação pela cidade de Ponta Grossa. Ela acredita que os consultórios médicos, postos de saúde e a mídia televisiva deveriam enfatizar mais esse período para um esclarecimento de informações para o público feminino. “Como a gente vive um meio da propaganda, dos meios digitais e uma vida muito corrida, acho que a hora que você lança uma campanha e relaciona ao março lilás, ao mês da mulher, com certeza é para trazer maior conscientização da população” - finaliza. 

Ficha Técnica
Repórter: Larissa Malinski
Edição e Publicação: Eduardo Machado, Germano Busato, João Paulo Pacheco e Marcus Benedetti
Supervisão de Produção: Ricardo Tesseroli
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Pandemia altera rotina de instituições religiosas em Ponta Grossa

 Mesmo cumprindo os protocolos de biossegurança, existem divergências entre líderes religiosos sobre vacinação

 

Mesmo com reabertura aprovada em 06 de maio de 2020 pelo decreto municipal 17.293, as organizações religiosas de Ponta Grossa tiveram que mudar a forma como realizam suas cerimônias nos últimos dois anos. Cada segmento presente nos mais de 70 templos e organizações contabilizadas pelo Cadastro Nacional de Atividades Econômicas da cidade enfrentou obstáculos diferentes para manter as portas abertas. 

Dentro do segmento Cristão, como a Associação de Ministros Evangélicos (AME-PG) e párocos católicos, os locais de culto receberam apenas 30% de sua capacidade de público, por conta do distanciamento social e foram empregados métodos de higienização, como a obrigatoriedade do uso de máscaras e da disponibilização de frascos de álcool gel. 

De acordo com o padre Claudemir Nascimento Leal, da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Diocese de Ponta Grossa respeitou os protocolos especificados nos decretos municipais, adaptando os ritos. “As pessoas sempre ficam no mesmo lugar. Em ritos como o ofertório sempre há alguém que vai até elas recolher as ajudas para evitar o deslocamento e aglomeração. O mesmo vale para a comunhão”, comenta.

Para os judeus frequentadores da Sinagoga da Associação Cultural Anussim Brasil, houve uma adoção ao modelo híbrido.  “Através da transmissão em nossas redes, que já praticávamos antes, e seguindo os devidos protocolos da Secretaria Estadual de Saúde, nós fazemos e transmitimos nossos rituais para quem não pode estar presente”, explica Samuel Zakai, presidente e professor religioso da Associação. 

Já na Sociedade Espírita Francisco de Assis ocorreu a suspensão completa das atividades até final de 2021. “Estamos voltando só agora e seguindo os protocolos [de biossegurança] e, principalmente, recomendando a vacinação para os nossos frequentadores. Que costumam ter idades entre 40 e 60 anos”, afirma Armando Vieira, presidente da sociedade.

A medida da suspensão total de encontros comunais e presenciais também foi adotada pela Tenda de Umbanda Pai João. “Desde fevereiro todas as sessões estão sendo feitas de modo individual e realizadas apenas mediante o uso de máscara, álcool gel e comprovante de vacinação”, conta a mãe de santo, Angélica Ponzoni.

Quem não precisou promover mudanças na estrutura ritualística das cerimônias foram os muçulmanos frequentadores da Mesquita Imam Ali. Realizando as orações diárias individuais e a comunal de meio-dia de sexta-feira – com separação de horários para sunitas e xiitas - dentro dos protocolos de segurança da Secreta Estadual de  Saúde desde a reabertura, os seguidores de Maomé estão podendo seguir com os ritos sem maiores transtornos.

Para o responsável pela mesquita, o sheik Mahmoud Shamsi, graças à adesão aos protocolos e o incentivo da instituição à vacinação, a mesquita pode continuar aberta todos os dias atendendo tanto os que seguem o ramo Sunita, quanto Xiita do islamismo em horários separados. “Quem cuida de si sempre cuida dos outros também”, comenta Shamsi.

Para a professora Fabiana Mansani, diretora do Setor de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), as medidas adotadas foram importantes para a não difusão da doença nos primeiros meses da crise sanitária. “Em uma pandemia de um vírus que se sabia muito pouco em termos de estudos aprofundados, com um número elevado de mortos pela doença e ainda com certa indecisão por parte das autoridades sobre a tomada de ações mais eficazes, as medidas ajudaram enquanto esforço de proteção para a população”, explica.

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Foto: Yuri A.F. Marcinik.

 

A questão da imunização 

Ainda que representantes do Islamismo, Espiritismo e Umbanda tenham manifestado apoio a imunização dos fiéis, a questão não foi consensual entre representantes cristãos da cidade.

Segundo o padre Claudemir Nascimento Leal, a vacinação foi deixada a critério de cada paróquia pela Diocese de Ponta Grossa. “Cada um tem um jeito de pensar em certos direcionamentos políticos. Pessoalmente sou de acordo, tomei todas as vacinas. Mas foi uma decisão minha não dizer publicamente para não causar um problema maior. Algo que poderia causar um certo atrito entre comunidade e igreja.  Respeitando a liberdade de cada um, nós incentivamos de forma mais subliminar os fiéis a se vacinarem”, explica o padre. 

Já o pároco Casemiro Olizeski comenta que na Paróquia São José toda confiança é depositada na capacidade dos responsáveis por gerir a crise sanitária. “Nós sempre pedimos para que os fiéis sigam as orientações ministradas pelos responsáveis da área da saúde, pois imaginamos que ali estejam profissionais competentes que sempre visam o bem-estar da população”.

Alguns representantes da comunidade judaica de Ponta Grossa defenderam a vacinação como uma escolha individual. “A imunização é espontânea. Cada família decide pela forma que pretende participar da imunização oferecida pelo estado”, afirma Samuel Zakai, presidente da Anussim. 

Dentro da ala evangélica também há falta de consenso sobre a questão do incentivo à imunização. Enquanto a AME-PG se absteve de qualquer posicionamento, a Igreja Cristã Presbiteriana (ICP) chegou até a ceder o Centro de Convenções e Avivamento como local para a aplicação de vacinas para menores de seis a dez anos entre os meses de janeiro e fevereiro. 

Fabiana explica que a falta de consenso é uma consequência natural do nosso sistema governamental. “Houve um certo atraso na retomada das atividades pré-pandemia por conta dessa possibilidade de escolha pela imunização que o Governo Federal instaurou. Isso oportunizou que certas pessoas firmassem essa liberdade nos mais diversos conceitos socioculturais já mencionados, menos nos científicos, que tanto defendemos. Mas isso é natural de nosso sistema democrático de governo”, comenta. 

A professora ainda explica que a maior parcela de culpa pelo atraso está em um contexto maior da gestão federal. “Historicamente, o Brasil sempre foi um país modelo em termos de campanhas de vacinação. Contudo, mesmo com diversas oportunidades de iniciarmos o ciclo vacinal como protagonistas da imunização mundial, nós perdemos essas chances. Não houve demonstração de iniciativa para ir atrás de quantidades e métodos de distribuição satisfatórios condizentes com o que nossa extensão territorial e populacional exige”, lamenta. 

Quando questionada se as igrejas em posição de influência - em especial a católica, hegemônica na cidade - não poderiam ter uma postura mais incisiva em prol da vacinação, Mansani comenta que os efeitos da pandemia sobre a fé das pessoas requerem abordagens diferentes por conta da situação das instituições religiosas. “O período proporcionou um afastamento físico e desconexão muito grande entre as pessoas e os líderes religiosos. A pandemia trouxe um isolamento muito forte na fase inicial, as igrejas não teriam como focar em outro aspecto se não o da reconexão com os fiéis. Sendo de fé católica, sempre estive ciente da ideia de que nossos líderes religiosos estiveram com toda a intenção de promover a ciência como verdade, já que fé e ciência se entrelaçam” , diz.

 

Estatísticas

Segundo o último senso realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade é majoritariamente católica, com quase 69% da população se identificando com a religião. Evangélicos representam 22,56%, espíritas 2,89% e Umbanda e Candomblé 0,06%. Outras religiosidades somam 2,36% enquanto identificados como sem religião representam 3,39% da população. 

 

Ficha Técnica
Repórter: Yuri A.F. Marcinik 
Edição e Publicação: Manuela Roque e Yasmin Orlowski 
Supervisão de Produção: Rafael Kondlatsch 
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Nuntiare: Vacinados são minoria entre os internados em Ponta Grossa

Perfil se repete em Telêmaco Borba, cidade vizinha dos Campos Gerais

 

Foto Manu                                     Foto: Manu Benicio

      Em 2022, o aumento dos casos de covid-19 gerou novamente alerta em relação à pandemia, porém em um cenário diferente em Ponta Grossa: aumentos de casos positivos, porém com sintomas leves e menos óbitos. Casos graves e mortes são minoria entre os vacinados. 

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NUNTIARE: Maior parte das mortes por intoxicações medicamentosas no Paraná ocorrem em casos de suícidio

“Intoxicações estão entre os métodos de tentativa de suicídios mais utilizados”, afirma psicóloga

 

Segundo o Ministério da Saúde (MS), a maior parte das mortes por intoxicações medicamentosas no Paraná ocorre em casos de suícidio. E o índice está subindo: em 2018, foram 29 mortes devido à ingestão intencional de remédios, enquanto 8 mortes resultaram de envenenamento acidental; em 2019, 37 mortes por envenenamento intencional e 7 óbitos por intoxicação acidental. Dados parciais de 2020 indicam 22 suicídios por ingestão de medicamentos e três mortes acidentais.


A psicóloga Cris Dayana Hornung explica que o consumo desregulado de remédios representa um problema cultural. “O fácil acesso contribui para o uso indevido, as intoxicações por substâncias externas estão entre os métodos de tentativa de suicídio mais utilizados. Também há a fantasia de que somente por meio da medicação o sofrimento pode ser anulado”.


O farmacêutico Cesar Fernando Kavalkeviski conta que em razão dos remédios serem facilmente conseguidos, ao invés de serem utilizados apenas para tratamentos, são ingeridos para tentativas de suicídio. “A associação de diversos fármacos transforma o produto em substância tóxica. Vale lembrar que os medicamentos controlados, em especial hipnóticos e sedativos, são a maior causa de atos suicidas e acidentes”.


Remédios fatais


Conforme o Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Paraná, os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são os grupos de medicamentos que mais causam intoxicações no Brasil. Remédios do tipo lorazepam, anti-histamínicos e descongestionantes são exemplos de medicamentos comuns verificados em ocorrências de intoxicação farmacológica.

Os benzodiazepínicos, antigripais, antidepressivos e anti-inflamatórios são os grupos de medicamentos que mais causam intoxicações no Brasil. Foto: Robson Soares


De acordo com Hornung, “embora algumas medicações combatam ideias suicidas e sintomas depressivos, as substâncias também podem agravar momentaneamente o quadro do paciente, de modo a piorar ou até mesmo precipitar um comportamento suicida”. A psicóloga frisa que toda medicação controlada traz efeitos colaterais a curto, médio e longo prazo, por isso é vital a prescrição e acompanhamento profissional.


Sobre armazenamento adequado, Kavalkeviski explica que os produtos “devem ser guardados em armário alto para dificultar o alcance de crianças ou pessoas com distúrbios psiquiátricos. Também orienta-se manter em compartimento trancado onde apenas o responsável por dispensar a medicação tenha acesso”.De acordo com registros do MS referentes aos períodos de 2018, 2019 e 2020, os casos de morte por intoxicação intencional envolvem pessoas com idades entre 15 e 80 anos. No ano de 2018, a faixa etária de 30 a 39 anos corresponde a maior parte dos óbitos, nove no total. Em 2019, novamente pessoas na mesma faixa etária representaram a maior parte das mortes, 12. Os dados parciais de 2020 apontam mudança na faixa etária: pessoas entre 20 e 29 anos correspondem ao grupo com maior número de mortes, oito no total.

 

Ações para minimizar intoxicações


O conselheiro do Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Ponta Grossa, José dos Passos Neto, afirma que de acordo com o Plano Municipal de Saúde, a prefeitura deve assistir a população com atenção farmacêutica, iniciativa voltada ao uso racional de remédios, e aumentar o número de farmacêuticos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Neto conta que, em Ponta Grossa, das 50 UBSs existentes, apenas dez têm profissional farmacêutico.


Sobre suicídio por ingestão de medicamentos, Neto diz que otimizar a ação da Vigilância Sanitária contribui para a solução do problema. “Investir em mais técnicos capacitados para realizar um controle mais efetivo por paciente, junto às farmácias privadas e públicas, no que diz respeito ao consumo de medicamentos e retenção de receitas de remédios com ação no sistema nervoso, pode reduzir os riscos de atos suicidas”.


O presidente do CMS de Ponta Grossa, Jefferson Leandro Gomes Palhão, aponta que informar a população representa a solução mais efetiva para combater intoxicações por medicamentos. “O Poder Público deve orientar as pessoas através de campanhas mais intensificadas e massivas de conscientização. No Brasil, temos números elevados de indivíduos que consomem remédios por conta própria e isso traz prejuízos à saúde pública”.

 

Confira a entrevista com a psicóloga Cris Dayana Hornung sobre como conversar sobre suícidio representa uma ação importante para aliviar o sofrimento psicológico de pessoas com transtornos mentais e vítimas de ideação suícida:

Ficha técnica

Reportagem: Robson Soares

Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi

Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral

Com avanço da vacinação, casos de Covid-19 diminuem em Ponta Grossa e região

Com mais da metade da população imunizada, cidades flexibilizam restrições e começam a retornar a normalidade

Resumo

- Quase 187 mil municípios brasileiros completaram o esquema vacinal;

- Número de casos confirmados e de mortes vem diminuindo;

- Internações diminuíram 42,75% em outubro.

 

A Campanha Nacional de Imunização contra a covid-19 continua avançando em todas as cidades do Paraná. Em Ponta Grossa, já foram imunizados 99% da população acima dos 18 anos, com pelo menos uma dose. Além disso, quase 187 mil municípios completaram o esquema vacinal com as duas doses ou dose única, o que corresponde a 64,4% da população adulta.

Com a grande adesão da população à imunização contra a covid-19, o número de casos de internação e contaminação vem diminuindo no município. Em outubro houve uma queda de 42,73% no número de casos ativos, quando comparado com o mês de setembro.

No início do ano, os hospitais enfrentaram um grande colapso com a falta de leitos de enfermaria e de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Com a diminuição de novos casos, o número de internações nas UTIs estão em queda na cidade. Segundo dados divulgados pela prefeitura, através dos boletins diários, a ocupação dos leitos de UTI está em queda de 10,34%, comparado com os últimos 14 dias.

A cidade de Ponta Grossa registra mais de 1.300 óbitos em decorrência da pandemia; desses, 1.134 foram registrados apenas em 2021. No entanto, com o avanço da campanha de vacinação, o número de casos confirmados e de mortes vem diminuindo.

 

Foto: Vanessa Galvão de Souza Lima

 

Hospitais e leitos

A infectologista, Gabriela Margraf Gehring, que atuou na linha de frente do combate ao coronavírus no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, afirma que “as internações e os óbitos caíram drasticamente com o avanço da vacinação, as enfermarias estão praticamente vazias, algumas estão até fechando.”

A rede privada de hospitais de Ponta Grossa também foi bastante afetada, muitas vezes atingindo lotação máxima. Franciane do Bonfim Kosiedovski Dolgan, técnica de enfermagem, comenta que “atualmente a taxa de ocupação diminuiu, assim como a gravidade dos pacientes e, consequentemente, a diminuição dos óbitos”. Ela ainda afirma que a vacinação foi um grande marco para a diminuição de internações. "Nós da linha de frente que acompanhamos de perto toda situação, podemos dizer com toda certeza que a vacinação fez a diferença”.

No entanto, a infectologista Gabriela Margraf Gehring lembra do problema da não vacinação e afirma que, atualmente, a maioria das internações registradas são de pessoas que ainda não se vacinaram, pois não acreditam na eficácia da vacina. “Acabamos levando os pacientes anti-vacinas para a UTI por piora no quadro, esses pacientes muito provavelmente se estivessem vacinados não estariam ali no hospital, precisando de atendimento ”.

 

Novas restrições

Com a diminuição dos casos positivos e de óbitos, a prefeitura de Ponta Grossa publicou um novo decreto no dia 28 de outubro, que revoga as medidas restritivas impostas para o combate à pandemia. Apenas o distanciamento social e o uso de máscara em ambientes fechados são obrigatórios na cidade.

Com o novo decreto, os estabelecimentos públicos como bares, restaurantes e casas noturnas não têm limite de público. A exigência do comprovante de vacinação para acesso em eventos também não é mais obrigatória.

 

Ficha Técnica
Repórter: Vanessa Galvão de Souza Lima
Edição e Publicação: Deborah Kuki
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen

Ponta Grossa tem queda na cobertura vacinal pelo terceiro ano consecutivo

 

Baixos índices de vacinação podem facilitar a volta de doenças consideradas erradicadas, como  sarampo e poliomielite

 

Resumo:

  • Em 2021 Ponta Grossa não atingiu a meta recomendada pelo Ministério da Saúde em nenhuma das nove vacinas obrigatórias para crianças de até um ano de idade;
  • A Fundação Municipal de Saúde afirma que a queda na cobertura vacinal foi provocada pela pandemia e que deve ser normalizada nos próximos meses;
  • A Secretaria de Estado da Saúde afirma que em 2019, após 20 anos sem registros de sarampo, o Paraná confirmou 1653 casos da doença;
  • Especialistas reiteram a carência de um canal de comunicação que destaque os imunizantes como uma ferramenta de proteção e atue no combate à desinformação.

 

O medo provocado pela pandemia de covid-19 afastou a população das salas de vacinação. Neste ano, em Ponta Grossa, nenhuma das nove vacinas obrigatórias para crianças de até um ano de idade atingiu a meta recomendada pelo Ministério da Saúde, que é de 90% para rotavírus e BCG e de 95% para as outras vacinas. Ponta Grossa já chegou a atingir quase 114% de cobertura geral, em 2015. De lá para cá, esse índice não ultrapassou 85% e segue em queda pelo terceiro ano consecutivo. Há poucos dias do fim do ano, a cobertura vacinal geral na cidade é de 60%, uma das mais baixas desde 2016, quando chegou a 49%, de acordo com dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) coletados até 13 de dezembro deste ano. A baixa cobertura vacinal acende o alerta para a volta de doenças até então consideradas controladas, como o sarampo e a poliomielite.

Em Ponta Grossa, um dos menores índices é o da segunda dose da tríplice viral, que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola. A cobertura da vacina atingiu pouco mais de 22% do público-alvo. Enquanto isso, a primeira dose está próxima de atingir a meta, chegando a 94%. Para completar o ciclo de imunização, a criança deve receber duas doses: uma aos 12 meses e outra aos 15 meses de vida. A segunda dose pode ser substituída pela vacina tetra viral, que também previne contra a varicela. O imunizante, que nunca atingiu a meta recomendada, apresenta a pior cobertura vacinal na cidade, cerca de 17%.

Por meio da assessoria da Prefeitura de Ponta Grossa, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) disse que a queda na cobertura vacinal foi provocada pela pandemia e que deve ser normalizada nos próximos meses. Sobre medidas para incentivar a vacinação, a FMS informou que tem orientado a comunidade através dos agentes comunitários de saúde, além de realizar vacinação itinerante e ampliar o número de salas de vacina. O órgão afirmou ainda que não há falta de vacinas nas Unidades Básicas de Saúde. Também foram questionadas quantas ações de vacinação geral foram realizadas em 2021 e se o município pretende promover alguma campanha até o fim do ano, mas a reportagem não obteve resposta até a publicação desta matéria.

 

 

Em 2019, após 20 anos sem registros de sarampo, o Paraná confirmou 1653 casos da doença, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. No ano passado, foram 428 diagnósticos. O sarampo é causado por um vírus altamente contagioso e pode provocar febre, tosse, coriza e manchas vermelhas pelo corpo. A transmissão ocorre de uma pessoa para outra por partículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar. Em casos mais graves, a doença pode causar pneumonia e encefalite e até mesmo levar à morte. 

Outra doença que preocupa especialistas é a poliomielite, que pode causar paralisia infantil. Em 2021, Ponta Grossa registrou a menor cobertura vacinal da pólio nos últimos 27 anos, cerca de 65%. Um dos reforços da vacina, aplicado aos 4 anos de idade, está entre os piores índices do município, com apenas 40% das crianças vacinadas.

 

Brasil

No Brasil, onde a poliomielite é considerada erradicada, o último caso foi confirmado em 1989. No entanto, a circulação do poliovírus em países como Afeganistão e Paquistão pode provocar o ressurgimento da doença em outros locais. “A cobertura da pólio nunca foi tão baixa nos últimos 20 anos no Brasil. Quando a cobertura vacinal não é atingida, começam a surgir pequenos surtos da doença”, alerta Heloísa Gianberardino, pediatra e presidente da regional paranaense da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).

 

 

Assim como o sarampo, a poliomielite também é uma infecção viral altamente contagiosa. Sua transmissão acontece pelo contato direto com infectados ou pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes de portadores do vírus. Os principais sintomas são febre, dor de cabeça, dor no corpo, náusea e rigidez muscular. Em quadros mais graves, pode causar a paralisia de membros inferiores.

De acordo com o artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a vacinação infantil é obrigatória nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. Por mais que seja um direito garantido, Heloísa lembra que alguns pais optam por não vacinar os filhos. “Se o pai e a mãe não querem se vacinar, isso é uma opção do adulto. Mas, a criança não tem essa opção. Não vacinar é um ato de negligência”, explica a pediatra. 

Em caso de descumprimento da lei, os pais ou responsáveis pela criança podem ser penalizados com uma multa que varia de três a vinte salários mínimos, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.

 

Baixa cobertura

A realidade de baixa taxa de imunização a doenças controladas que acontece em Ponta Grossa não é exclusividade do município. No Brasil, a redução constante ocorre desde 2018. Até 13 de dezembro, a cobertura nacional não contemplou nem metade do público-alvo, chegando a 48,3%, patamar muito próximo do que era registrado entre 1995 e 1996. 

 

 

Um dos fatores que derrubou as taxas de vacinação é a circulação de conteúdos falsos nas redes sociais. “As fake news fazem com que as pessoas hesitem em tomar algum tipo de vacina. Esse é o maior problema para a cobertura vacinal”, afirma Leandro Torres, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e criador do perfil Hora de Vacinar.

Por mais que acreditem na segurança e eficácia das vacinas, algumas pessoas não se imunizam no momento adequado, o que pode facilitar o retorno do sarampo, poliomielite e difteria, segundo especialistas. Com o aprimoramento dos imunizantes, os casos e mortes provocados por determinadas doenças diminuíram expressivamente. Por mais positivo que seja, o controle epidemiológico merece atenção. “As pessoas acham que as doenças não estão ocorrendo e deixam de se vacinar, o que é um grande erro”, ressalta a pediatra Heloísa Gianberardino. “Muitos esquecem que as doenças só foram controladas por causa das vacinas”, destaca Leandro Torres. 

Em alguns casos, a subnotificação da aplicação de doses também pode interferir na cobertura vacinal. Isso acontece quando uma pessoa é vacinada, mas o registro não é incluído no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações e em plataformas municipais e estaduais. Dessa forma, por mais que a vacina tenha sido aplicada, o dado não é contabilizado nas estatísticas de imunização.

 

Incentivo

Diante do cenário de baixa cobertura vacinal, ações que incentivem a população de todas as faixas etárias a atualizar a carteira de vacinação são essenciais. Especialistas reforçam a necessidade de um canal de comunicação que destaque os imunizantes como uma ferramenta de proteção e atue no combate à desinformação. Para Heloísa, não cabe discutir se a vacina é importante ou não. “Ela é um recurso inquestionável. Depois da água tratada, a medida que mais salva vidas é a vacina“, destaca.

Leandro Torres adverte que alguns profissionais de saúde desconhecem as vacinas que uma pessoa deve receber ao longo da vida. “Esse tipo de informação precisa ser comunicada por diferentes especialidades. Seria interessante que, durante um atendimento, o médico, enfermeiro ou auxiliar perguntasse ao paciente se suas vacinas estão em dia”, sugere. 

Os especialistas também defendem que as ações e estratégias de vacinação, seja no âmbito municipal, estadual ou nacional, devem ser orientadas por decisões técnicas. 

 

Serviço

A população de Ponta Grossa pode se vacinar gratuitamente em qualquer uma das vinte Unidades Básicas de Saúde que possuem sala de vacinação: Adam Polan, Alfredo Levandoski, Antero de Mello, Antônio Russo, Carlos Ribeiro, Cleon de Macedo, Cyro Garcia, Egon Roskamp, Jayme Gusmann, José Bueno, José Carlos de Araújo, Julio de Azevedo, Lauro Muller, Lubomir Urban, Luiz Conrado Mansani, Nilton de Castro, Ottoniel Pimentel, Roberto Portela, Rômulo Pazinato e Zilda Arns (clique aqui e confira o endereço de cada UBS).

Os postos de vacinação funcionam de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h. 

 

Ficha técnica

Reportagem: Matheus Gaston

Edição e publicação: Levi de Brito

Supervisão de produção: Muriel Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Pesquisas apontam desigualdades entre pessoas que menstruam

Cerca de 11,3 milhões de brasileiras de baixa renda são afetadas diretamente

 

As pessoas que menstruam vivem em média 450 ciclos menstruais durante a vida, mas para parte das mulheres brasileiras, os itens de higiene básica necessários durante esse período estão fora de alcance. Segundo pesquisa realizada pela marca Sempre Livre, quatro em cada 10 pessoas convivem com a pobreza menstrual, sejam elas mesmas ou alguma conhecida. Sobre o ciclo menstrual, 36% dizem não saber bem o que acontece com seu corpo.
De acordo com o relatório Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos, realizados pelo Fundo de População das Nações Unidas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância , 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio.
Segundo a mesma pesquisa, 900 mil não têm acesso a água canalizada em suas casas e cerca 6,5 milhões vivem em locais sem ligação com a rede de esgoto. O problema é ainda maior considerando o recorte racial: cerca de 24% das meninas brancas residem em locais avaliados como não tendo serviços de esgotamento sanitário, chegando a 37% entre meninas negras.


Os estigmas e a menstruação
Caroline Willing, jornalista e doutoranda com pesquisa sobre o tema “estigmas impregnados na menstruação’’, explica que as problemáticas estão relacionadas ao modo como a sociedade enxerga pessoas que menstruam. “Esse processo de se criarem estigmas envolvendo a menstruação coloca pessoas com útero dentro dessa cultura sexista. Estigmatizar a menstruação é parte desse processo de subalternização, porque a menstruação acomete as pessoas com útero, pessoas que menstruam e desde muito tempo o patriarcado nos colocou como incubadoras humanas’’.
Segundo ela, os estigmas sobre a menstruação vem desde a Bíblia e continuam até os dias atuais, colocando a menstruação como algo sujo. “A mídia tanto tece a cultura como é tecida por ela, é colonialista, misógina e cisheteronormativa, então acaba que a grande mídia está a favor desses estereótipos”.
Caroline critica o essencialismo biológico e a utilização da categoria “mulher’’ quando se fala em pessoas com útero. “Muitas vezes vemos reportagens que colocam meninas que menstruam e ignoram homens trans e não binários. A mídia contribui para a manutenção desse sistema, da mesma forma que ela tem o poder de quebrar esses estereótipos.’’

 

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Quatro em cada 10 mulheres convivem com a pobreza menstrual | Foto: Ana Paula Almeida


A pobreza menstrual e o ambiente escolar
Ainda de acordo com a pesquisa da Sempre Livre, a maioria das pessoas que sofrem com a pobreza menstrual está em idade escolar, pois 40% das pessoas de baixa renda que são afetadas pela pobreza menstrual têm entre 14 e 24 anos.
“Considero a pobreza menstrual um problema criado pelo neoliberalismo, neocolonialismo e capitalismo, que empobrece a população e faz com que pessoas que menstruam não saibam o que tá acontecendo com seu corpo, não tenham condições financeiras, nem socioambientais de gerir seu ciclo de forma higiênica e saudável’’, destaca Willing.
Além dos riscos físicos e psicológicos, as faltas na escola aparecem nas pesquisas, apontando que 16% das estudantes costumam faltar durante o período menstrual por falta de banheiros limpos e 12% estão ausentes das aulas por falta de absorvente durante a menstruação.


Ações governamentais
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou projeto de lei que previa a distribuição gratuita de absorventes íntimos para estudantes de baixa renda e moradores de rua. Com a repercussão negativa, o presidente voltou atrás e declarou que vai viabilizar a aprovação do projeto.
Para a pesquisadora Caroline Willing, é importante haver, também em âmbito municipal, políticas públicas que permitam que quem menstrua possa ter acesso a outras alternativas, além do absorvente descartável. Ela propõe que essas alternativas estejam alinhadas com pequenos negócios locais, fomentando assim a dignidade menstrual e fortalecendo a economia. Ela ainda ressalta a importância de cobrar das empresas um absorvente descartável ecológico.

Ficha Técnica
Repórter: Quiara Camargo dos Santos
Edição e Publicação: Gabriel Ryden
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen