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- Produção: Quiara Camargo dos Santos
- Categoria: Saúde
Cerca de 11,3 milhões de brasileiras de baixa renda são afetadas diretamente
As pessoas que menstruam vivem em média 450 ciclos menstruais durante a vida, mas para parte das mulheres brasileiras, os itens de higiene básica necessários durante esse período estão fora de alcance. Segundo pesquisa realizada pela marca Sempre Livre, quatro em cada 10 pessoas convivem com a pobreza menstrual, sejam elas mesmas ou alguma conhecida. Sobre o ciclo menstrual, 36% dizem não saber bem o que acontece com seu corpo.
De acordo com o relatório Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos, realizados pelo Fundo de População das Nações Unidas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância , 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio.
Segundo a mesma pesquisa, 900 mil não têm acesso a água canalizada em suas casas e cerca 6,5 milhões vivem em locais sem ligação com a rede de esgoto. O problema é ainda maior considerando o recorte racial: cerca de 24% das meninas brancas residem em locais avaliados como não tendo serviços de esgotamento sanitário, chegando a 37% entre meninas negras.
Os estigmas e a menstruação
Caroline Willing, jornalista e doutoranda com pesquisa sobre o tema “estigmas impregnados na menstruação’’, explica que as problemáticas estão relacionadas ao modo como a sociedade enxerga pessoas que menstruam. “Esse processo de se criarem estigmas envolvendo a menstruação coloca pessoas com útero dentro dessa cultura sexista. Estigmatizar a menstruação é parte desse processo de subalternização, porque a menstruação acomete as pessoas com útero, pessoas que menstruam e desde muito tempo o patriarcado nos colocou como incubadoras humanas’’.
Segundo ela, os estigmas sobre a menstruação vem desde a Bíblia e continuam até os dias atuais, colocando a menstruação como algo sujo. “A mídia tanto tece a cultura como é tecida por ela, é colonialista, misógina e cisheteronormativa, então acaba que a grande mídia está a favor desses estereótipos”.
Caroline critica o essencialismo biológico e a utilização da categoria “mulher’’ quando se fala em pessoas com útero. “Muitas vezes vemos reportagens que colocam meninas que menstruam e ignoram homens trans e não binários. A mídia contribui para a manutenção desse sistema, da mesma forma que ela tem o poder de quebrar esses estereótipos.’’
Quatro em cada 10 mulheres convivem com a pobreza menstrual | Foto: Ana Paula Almeida
A pobreza menstrual e o ambiente escolar
Ainda de acordo com a pesquisa da Sempre Livre, a maioria das pessoas que sofrem com a pobreza menstrual está em idade escolar, pois 40% das pessoas de baixa renda que são afetadas pela pobreza menstrual têm entre 14 e 24 anos.
“Considero a pobreza menstrual um problema criado pelo neoliberalismo, neocolonialismo e capitalismo, que empobrece a população e faz com que pessoas que menstruam não saibam o que tá acontecendo com seu corpo, não tenham condições financeiras, nem socioambientais de gerir seu ciclo de forma higiênica e saudável’’, destaca Willing.
Além dos riscos físicos e psicológicos, as faltas na escola aparecem nas pesquisas, apontando que 16% das estudantes costumam faltar durante o período menstrual por falta de banheiros limpos e 12% estão ausentes das aulas por falta de absorvente durante a menstruação.
Ações governamentais
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro vetou projeto de lei que previa a distribuição gratuita de absorventes íntimos para estudantes de baixa renda e moradores de rua. Com a repercussão negativa, o presidente voltou atrás e declarou que vai viabilizar a aprovação do projeto.
Para a pesquisadora Caroline Willing, é importante haver, também em âmbito municipal, políticas públicas que permitam que quem menstrua possa ter acesso a outras alternativas, além do absorvente descartável. Ela propõe que essas alternativas estejam alinhadas com pequenos negócios locais, fomentando assim a dignidade menstrual e fortalecendo a economia. Ela ainda ressalta a importância de cobrar das empresas um absorvente descartável ecológico.
Ficha Técnica
Repórter: Quiara Camargo dos Santos
Edição e Publicação: Gabriel Ryden
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen
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- Produção: Larissa Lillo Del Pozo Malinski
- Categoria: Saúde
Por causa da pandemia, o Paraná teve o menor índice de nascimentos desde 2002
Ao contrário das especulações de um possível baby boom como resultado do isolamento social, os índices de natalidade no país apresentam queda durante o período pandêmico. De acordo com os dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde, as taxas de natalidade brasileiras atingiram, em 2020, o menor número em comparação aos últimos 27 anos.
Segundo a ginecologista e obstetra Maria Tereza Blum, esta drástica redução na quantidade de nascimentos tem sido uma das consequências do aumento de divórcios ocorridos durante o período de pandemia. Segundo informações do Portal da Transparência do Registro Civil, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, a quantidade de registros de nascimentos caiu 24% em comparação ao mesmo período em 2020, equivalente a 106,6 mil pessoas.
Natalidade paranaense em queda
Segundo o Instituto do Registro Civil das Pessoas Naturais do Estado do Paraná (Irpen), o estado apontou um dos menores índices de registros de nascimentos realizados em janeiro, desde 2002. Nesse mesmo mês, ocorreram 12.232 nascimentos no estado, 9,66% menor que no ano passado. Esse levantamento é feito com base nos registros de nascimentos realizados em 519 Cartórios de Registro Civil.
Maria Tereza Blum destaca que houve uma grande queda na procura de consultas obstétricas, desde o começo da pandemia, principalmente, a partir do final de 2020, por conta da população em geral não ter noção da magnitude que a crise causada pelo Coronavírus tomaria. “Houve uma queda muito grande, não no desejo da gravidez, mas na coragem de uma gestação”, salientou a médica.
Além disso, diante de um cenário de incertezas, ela ressalta outros fatores que influenciam na diminuição das gestações e na impulsão do uso de métodos contraceptivos durante o período pandêmico. “Pessoas que não viam problema de engravidar passaram a se preocupar mais com as chances de gravidez. E, não só pelo risco de contrair o COVID ou do bebê ter alguma má-formação, mas pelo risco de perder o emprego, por questões financeiras, não somente de saúde”.
Mulher organizando quarto do bebê | Foto: Larissa Lillo Del Pozo Malinski
A queda da natalidade pelo mundo
De acordo com o estudo italiano The COVID-19 pandemic and human fertility (A pandemia de covid-19 e a fertilidade humana), publicado na revista Science, existe a previsão de uma redução drástica das taxas de natalidade no mundo pós-pandemia, como resultado dos impactos causados pelo Novo Coronavírus.
Nove meses após o início da pandemia, em 2020, países como Japão, França e Bélgica pertenciam ao grupo de nações que relataram quedas drásticas dos nascimentos. E países como a França registraram maiores quedas de natalidade de 2020 para 2021.
Nos EUA, o Think Tank Brookings Institution estimou, que em dezembro do ano passado, nasceriam 300 mil bebês a menos em 2021. Diante desses índices, o jornal americano Wall Street Journal, apresentou como uma tendência global a queda da natalidade por conta da crise sanitária e econômica estabelecida na atualidade.
Ficha Técnica
Repórter: Larissa Lillo Del Pozo Malinski
Edição e Publicação: Ana Paula Almeida
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
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- Produção: Tamires Limurci
- Categoria: Saúde
Em Ponta Grossa, 24 pessoas morreram da doença em 2021
O câncer de próstata tem a segunda maior incidência de cânceres em homens, sendo o primeiro de pele, correspondendo a um risco estimado de 62 novos casos a cada 100 mil homens. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa feita para o triênio 2020-2022 é de que surjam, anualmente, 65.840 novos casos. O câncer de próstata causa cerca de 15 mil óbitos anuais, a segunda maior taxa de mortalidade por câncer que atinge homens no país.
No mês de novembro acontecem campanhas de conscientização, mundialmente conhecidas como Novembro Azul. A campanha contra o câncer de próstata tem o intuito de chamar a atenção para a prevenção e o tratamento da doença. Contudo, os exames preventivos devem ser realizados ao longo de todo o ano.
A doença consiste em um tumor que afeta a glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve a uretra. Segundo a Secretaria da Saúde do Paraná, os sintomas iniciais mais comuns são dificuldade em urinar, presença de sangue na urina, demora para começar e terminar de urinar, além da diminuição do jato de urina e a necessidade de ir ao banheiro diversas vezes. Além disso, em casos de doenças benignas da próstata, pode ocorrer um aumento de tamanho da área ou inflamação na próstata, conhecida como prostatite.
Infográfico: Tamires Limurci
Em Ponta Grossa, o coordenador da Atenção Primária à Saúde (APS), Thiago Bueno, explica que uma das maiores dificuldades encontradas é a falta de adesão dos homens por vergonha ou pela falta de costume em procurar um especialista. Conforme informações da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, em 2021, houve 24 mortes relacionadas a neoplasia maligna da próstata. “O homem só não possui uma taxa maior de mortalidade, quando comparado com as mulheres, na faixa-etária de 80 anos porque muitos não chegam nessa idade”, comenta.
O agricultor José Antônio (nome fictício), 42, descobriu o tumor na próstata em junho de 2021; entretanto, sintomas como inchaço e dores na hora de evacuar ocorriam desde maio. Ao acreditar que o diagnóstico poderia ser de hemorroida, José se automedicou. Somente após ir ao médico e realizar exames de toque, a doença foi confirmada. “Tive muita sorte de ter descoberto cedo, mas me sinto culpado de não ter ido ao médico antes", afirma. O agricultor, que hoje faz radioterapia cinco dias da semana, revela que por conta da vergonha, ainda não contou para todos os seus amigos e familiares sobre seu diagnóstico, porém está determinado a incentivar os amigos a fazerem o exame.
Tratamentos
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todas as modalidades de tratamento de forma integral e gratuita, seguindo indicações de um médico especializado. A duração do exame leva, em média, cinco minutos. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendam a realização de exames antes dos 40 anos para homens sem sintomas.
Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Ficha Técnica
Repórter: Tamires Limurci
Edição e Publicação: Maria Eduarda Eurich
Supervisão de Produção: Muriel Amaral
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi, Maurício Liesen
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- Categoria: Saúde
Depois da pandemia, o avanço da vacinação representa a esperança da volta à normalidade
Um dos últimos eventos públicos pré-pandemia realizados no Parque Histórico de Carambeí em 2019 | Foto: Yuri A.F. Marcinik/ Projeto Lente Quente
Segundo uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da Pfizer Brasil e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), a ampliação da vacinação no país traz sensações positivas para a população, como em Carambeí, interior paranaense.
De acordo com a pesquisa, a vacinação representa esperança (29%), otimismo (24%) e alívio (16%) para os brasileiros, Somados, esses índices representam 69% do total de 11 opções contidas no questionário.
Ainda segundo o levantamento, a maioria dos entrevistados afirma ter incentivado outras pessoas a se vacinarem, na seguinte proporção: 85% incentivaram familiares; 61%, amigos; 38%, colegas de trabalho ou funcionários; e 36%, vizinhos (esta questão permitia mais de uma resposta).
Com base nessa pesquisa, a reportagem verificou as expectativas da população de Carambeí (PR) e confirmou as expectativas positivas de uma diarista, uma comerciante, um trabalhador rural e um gerente.
Cecília, diarista
Para a diarista Cecília Clarice Rein Neves, 57, o próximo ano representa um recomeço. Depois que o marido ficou desempregado, o casal precisou procurar um novo local para morar. Eles saíram da zona rural para a urbana e, segundo a diarista, foi necessário se adaptar. Mesmo com as recentes dificuldades enfrentadas, Cecília espera que o próximo ano seja positivo. “Tivemos que recomeçar em um novo lugar, então espero que em 2022 toda a família esteja vacinada e que tenhamos boas lembranças na nossa nova casa”.
Karen, comerciante
Já para Karen da Silva Custódio, 32, comerciante, 2022 representa a aproximação com os familiares, de forma segura e sem medo. Ela conta que a família passou por momentos difíceis quando o pai testou positivo para Covid-19. Por esse motivo, ter cada vez mais pessoas vacinadas e, sobretudo, poder ter o pai presente nas festas de fim de ano, será uma celebração não apenas de mais um ano que começa, mas também uma celebração à vida.
Adriano, trabalhador rural
Adriano dos Santos Lopes, 22, trabalhador rural, aponta que o avanço da vacinação representa maiores expectativas para a volta à normalidade. Ele destaca ter esperança de que ocorra maiores flexibilizações no próximo ano. Além disso, Adriano espera que 2022 traga a possibilidade de deixar de usar a máscara e frequentar os lugares como antes, sem restrições. No entanto, ele compreende que nesse novo recomeço ainda vai ser necessário manter hábitos adquiridos na pandemia, como o uso frequente do álcool em gel.
Elielson, gerente administrativo
Para Elielson Nascimento Guirado, 27, gerente administrativo, o próximo ano representa um alívio por existirem muitas pessoas vacinadas. Porém, ele destaca que, mesmo com o avanço da vacinação, ainda não é possível afirmar quando haverá de fato o retorno ao que é considerada a "vida normal". Outro ponto ressaltado por Elielson é de que poderiam ter mais pessoas vacinadas se não fosse pela desinformação. "Desinformação e, pior ainda, informação errada de pessoas públicas que pesam no pensamento do povo. Além do uso de remédios sem comprovação e mitos negativos sobre a vacina, muitos sem o menor nexo".
Ficha técnica
Reportagem: Deborah Kuki
Edição e Publicação: Yuri A.F. Marcinik
Supervisão de produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
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- Produção: Alex Marques
- Categoria: Saúde
Reportagem acompanha jovem ponta-grossense tentando usar a ferramenta
É madrugada e um jovem ponta-grossense acompanhado pela reportagem não consegue dormir preocupado em tomar a vacina contra a Covid-19. Às 7h30, ele tenta atualizar o cadastro do cartão SUS, que permite utilizar o aplicativo da vacinação - o Vacina PG - lançado pela prefeitura de Ponta Grossa com ampla divulgação. Feita a atualização, tentou usar o aplicativo, porém fica irado com a mensagem “Cartão Nacional de Saúde Inválido”. Sua preocupação é a chegada de algum lote de vacinas que permita sua convocação.
O jovem então caminha por vinte minutos até a UBS Júlio Azevedo, que está lotada de pessoas com o mesmo problema: não conseguem se cadastrar no aplicativo Vacina PG. Às 8h45 ele percebe que a manhã não será tranquila, pois a funcionária avisa que apenas uma servidora está atualizando o cartão SUS, motivo da demora. O jovem recebe a senha número 25. Na porta, o aviso indica 30 senhas disponíveis pela manhã, igual número à tarde. Muitas pessoas desistem, outras decidem esperar até depois do almoço.
Ele observa a expressão de sono, raiva e frustração no rosto das pessoas. O aplicativo, ao invés de evitar aglomerações, facilitando o agendamento, exige atualização presencial do Cartão SUS nas unidades básicas de saúde. No mesmo dia, Ponta Grossa atinge 48.299 casos de Covid-19 e ultrapassa 1.200 mortes.
O jovem escuta duas moças conversando Elas relatam que é o segundo dia consecutivo de tentativa de atualizar o Cartão SUS. Uma delas comenta que procurou outra unidade antes, também lotada.
A fila avança aos poucos. Às 11h00, a senha do jovem é chamada. Pedem documentos de identificação e comprovante de residência, que ele levou por acaso. Depois de alguns minutos, informaram que a atualização está feita, seu nome estaria no sistema da prefeitura. Porém, alertam que ele deve esperar por duas horas para tentar o cadastro no aplicativo.
O jovem volta para casa e prepara o almoço. Duas horas depois, tenta se cadastrar no Vacina PG. Aparentemente, dá certo. Porém, ele nunca recebeu aviso para realizar o agendamento, nem por e-mail, nem pelo aplicativo. Por isso, teve que agendar a vacinação da forma como a população de Ponta Grossa vinha fazendo, pelo site da prefeitura.
Após três meses, o aplicativo não serve para o que foi proposto. Procurado para esclarecimentos, o secretário municipal da Saúde de Ponta Grossa, Rodrigo Manjabosco, informa que o Vacina PG está em fase de melhoria. O secretário menciona o acúmulo de pessoas e um conflito em relação ao cadastramento pelo aplicativo.
Criação do Vacina PG
Desenvolvido pelo curso de Ciências da Computação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Ponta Grossa, em parceria com o Supermercado Condor, o aplicativo prometia agilizar o agendamento das vacinas contra a covid-19 no município, na faixa etária dos 18 a 35 anos.
Segundo a professora do curso de Ciência da Computação da UTFPR e coordenadora do desenvolvimento do Vacina PG, Mauren Louise Sguario, o aplicativo poderia ser feito de diferentes maneiras, acessando diversos bancos de dados, o que evitaria problemas. Porém, “a Fundação de Saúde optou por usar o banco de dados próprio, que tinha algumas inconsistências, além do público não usuário de posto de saúde não constar no sistema usado, o que acabou gerando os problemas”.
Para Sguario, faltou informar melhor a população sobre o aplicativo. “Se fosse feito um chamamento por idade, não teria ocorrido a procura pelos postos de saúde ao mesmo tempo”.
Ficha técnica
Reportagem: Alexsander Marques
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral
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- Produção: Isadora Ricardo
- Categoria: Saúde
Preferência por consultas via internet se justifica por medo de contágio
Devido ao isolamento social, grande parte da sociedade perdeu vínculos afetivos e proximidade física. Os possíveis impactos emocionais gerados no contexto de distanciamento tornaram o atendimento psicológico fundamental e os consultórios e clínicas de psicoterapia registraram aumento na procura. Além do atendimento presencial, os profissionais da área passaram a atender com maior frequência no formato online.
O psicólogo Derek Kupski, que já trabalhava com o modelo online, salienta que o avanço dos casos da covid-19 levaram os pacientes a ficarem com receio do deslocamento até a clínica. Por isso, a procura pelo atendimento online cresceu. ‘’Eu noto um desgaste maior para manter a concentração do paciente, já que os estímulos ficam restritos ao que se escuta e vê na tela, mas nada que comprometa a eficácia’’. Derek afirma que a busca pela psicoterapia online aumentou 250% em seu consultório. Mas, desde agosto, os números estabilizaram.
Foto: Isadora Ricardo
A psicóloga Letícia Madureira acredita que um dos principais motivos para o aumento na procura é a necessidade de aprender a lidar com situações e emoções que antes não eram tão frequentes, como luto e transtornos psicológicos.
Pela superlotação na agenda da psicóloga, casos de urgência, como os de pessoas com pensamentos suicidas ou ansiedade em graus elevados, estão sendo encaminhados para outros colegas de profissão.
Iniciativas
A crise financeira no período da pandemia dificultou o acesso a serviços psicológicos e psiquiátricos. Porém, existem projetos que oferecem atendimento gratuito, como o Ambulatório de Saúde Integrativa, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Através do Projeto Inspire, são realizadas rodas de terapia comunitária online, gratuitas e abertas para a comunidade. Desde junho de 2021, o Ambulatório, que tem parceria com o Centro de Valorização à Vida (CVV), recebeu 2500 inscrições.
Para atendimentos psicológicos individuais, há duas psicólogas contratadas para prestar acompanhamento à comunidade. A coordenadora do ambulatório, Milene Zanoni, destaca que as demandas de saúde mental eram amplas antes da pandemia, mas que se estenderam devido à crise. “A ideia do ambulatório é gerar autonomia, promover autoconhecimento e trabalhar com o autocuidado’’, explica.
Atenção: Caso você tenha algum incômodo com os relatos apresentados nesta matéria e precise de apoio emocional, ligue 188 ou acesse o site do Centro de Valorização da Vida.
Este texto faz parte da edição 220 do Foca Livre, jornal-laboratório produzido por alunos do segundo ano de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Ficha Técnica:
Repórter: Isadora Ricardo
Edição: Bettina Guarienti e Leriany Barbosa
Publicação: Maria Eduarda Eurich
Supervisão: Cândida de Oliveira, Jeferson Bertolini, Marcos Zibordi e Mauricio Liesen
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- Categoria: Saúde
Após o maior período de pico, hospital retoma normalidade com vacinação
A taxa de ocupação de leitos das UTIs para internação por coronavírus no Hospital Universitário Regional Wallace Thadeu de Mello e Silva, o HU-UEPG, diminuiu nos últimos meses. De acordo com dados da Prefeitura, desde agosto de 2021, a média de ocupação caiu, resultado do aumento do índice de vacinação na cidade. O período com mais quantidades de internações foi registrado entre março e junho deste ano.
Foto: HU-UEPG/Aline Jasper.
Com o início da pandemia, a ocupação total da UTI do HU ocorreu em 25 de julho de 2020. Menos de dois meses depois, duas alas ocupadas por pacientes com covid ficaram lotadas pela primeira vez. Outra ocupação total de duas aulas só ocorreu neste ano, em 29 de março, na enfermaria e UTI adulto. Assim, em 555 dias, a UTI adulto teve 119 de ocupação completa (cerca de 21,4% no período analisado), e a enfermaria teve 49 dias (aproximadamente 9%).
Desde maio de 2020, a Prefeitura de Ponta Grossa divulga diariamente os dados da pandemia por meio do Boletim Municipal Oficial, como os número de casos e óbitos suspeitos e confirmados. A partir do mesmo mês, informações sobre ocupação e quantidade de leitos no HU-UEPG também foram reunidas no Boletim.
Desde então, e durante um ano e meio de pandemia, os casos têm sido noticiados diariamente, assim como o número de óbitos. A primeira confirmação de contágio ocorreu em 21 de março de 2020, cerca de um mês após o início da pandemia no país. O primeiro óbito foi confirmado pela Fundação Municipal da Saúde (FMS) 80 dias depois, em 9 de junho.
Contudo, o acesso aos dados não é fácil. As estatísticas são informadas pelo Boletim em documentos separados. É necessário acessar um a um. A dificuldade imposta pela divulgação fere o princípio da publicidade, um dos pilares da administração pública.
Cabe ressaltar também que, com a diminuição de internamentos pela doença, o número de UTIs também foi reduzido, como demonstram os dados a seguir, referentes à UTI adulto do HU-UEPG:
- 18 de maio de 2020: 10 leitos;
- 13 de junho de 2020: 20 leitos;
- 18 de julho de 2020: 30 leitos;
- 31 de dezembro de 2020: 36 leitos;
- 9 de janeiro de 2021: 40 leitos;
- 10 de janeiro de 2021: 46 leitos;
- 25 de janeiro de 2021: 40 leitos;
- 20 de março de 2021: 60 leitos;
- 28 de agosto de 2021: 40 leitos;
- 9 de outubro de 2021: 27 leitos;
O gráfico a seguir revela a proporção do total de leitos e a ocupação geral nas duas alas destinadas à Covid-19 no HU-UEPG de 2020 até o dia 18 de novembro de 2021. Apenas 15 dos 555 dias analisados não tiveram os dados disponibilizados no site da Prefeitura. Foram feitas tentativas de contato com a assessoria do HU, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.
Ficha técnica
Reportagem: Denise Martins
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral
- Detalhes
- Produção: Eduardo Machado
- Categoria: Saúde
Mais de três mil doses venceram em locais de armazenamento sem serem aplicadas
Mais de três mil doses de imunizantes contra o coronavírus venceram no mês de novembro em Ponta Grossa. As vacinas, que eram de lotes diferentes, ultrapassaram o prazo de validade após serem descongeladas - quando isso ocorre elas duram, no máximo, 31 dias. A denúncia ao Ministério Público e à Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA) foi feita pela deputada estadual Mabel Canto (PSC).
Foto: Divulgação/Ministério Público do Paraná
Segundo a deputada, a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (SESA) não havia sido informada sobre o vencimento das vacinas. Porém, a 3ª Regional de Saúde dos Campos Gerais confirmou que havia conhecimento sobre o prazo de validade ultrapassado.
Em 21 de outubro deste ano, a 3ª Regional de Saúde informou em nota que os municípios poderiam vacinar públicos de outras idades caso as vacinas estivessem próximas ao vencimento. Mas em Ponta Grossa isso não ocorreu. Diversas pessoas contaram que tiveram dificuldade em se vacinar.
A deputada estadual Mabel Canto (PSC) afirma que, “enquanto legisladora, tenho o dever de apurar os fatos e levar aos órgãos competentes para eles tomarem as medidas. Pedi a apuração e a responsabilização à SESA, que deve fazer uma sindicância através de um processo administrativo”. Segundo Canto, o MP deve fazer também um inquérito para apurar as condutas dos envolvidos.
Enquanto as doses de vacina estavam vencendo nos locais de armazenamento da prefeitura, diversas pessoas estavam tendo dificuldade em se vacinar. Isabele Lemos, 24, acadêmica de Zootecnia na UEPG, conta que não foi fácil conseguir agendamento para a vacinação. “Entrei no site várias vezes e não consegui agendar de jeito nenhum. Duas semanas depois, tentei novamente e não consegui de novo. Não só eu, mas algumas amigas minhas também só conseguiram na terceira tentativa.”
A auxiliar de produção, Adriele Ramos, 19, também teve dificuldade para conseguir o agendamento. “Eu trabalho e é muito complicado entrar no celular e ficar olhando toda hora se abriu ou não o agendamento. Não consegui marcar e fiquei na repescagem, agora vem essa notícia das vacinas estarem vencidas: é uma decepção para quem espera”.
Em resposta à reportagem, a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa não permitiu que fosse realizada uma entrevista com o secretário de saúde da cidade, Rodrigo Daniel Manjabosco. Em nota, afirmou que “a Prefeitura de Ponta Grossa, através da Fundação Municipal de Saúde, está conduzindo um processo administrativo para averiguar esta situação”.
Ficha técnica
Reportagem: Eduardo Machado
Supervisão de produção de texto: Marcos Zibordi
Supervisão da disciplina de NRI III: Marcelo Bronosky e Muriel Amaral
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- Produção: Pamela Tischer Lima
- Categoria: Saúde
Em seis meses de isolamento social, mais de 471 mil pessoas tiveram tratamentos suspensos
Um estudo realizado antes e durante a pandemia de covid-19 revelou não apenas uma redução no número de consultas e de internações psiquiátricas, mas também um aumento na quantidade de atendimentos domiciliares e consultas de emergência. A pesquisa concluiu ainda que essas mudanças podem causar uma “pandemia paralela”, gerando uma crise de saúde mental no Brasil por mais tempo que a própria covid-19.
O trabalho, publicado pela revista científica The Lancet, analisou pessoas com algum tipo de transtorno mental (de casos que passam por um tratamento de leves a graves) através de um banco de dados disponibilizado pelo Governo brasileiro.
Para a psicóloga Jéssica Machado, no início da pandemia os atendimentos presenciais diminuíram tanto na rede pública quanto na privada. Para realizar o auxílio online, Jéssica precisou incluir outros métodos para as consultas. “No caso de consultórios particulares como o meu, teve uma diminuição muito grande, porque as pessoas estavam com medo e não queriam sair tanto”.
Foto: Pamela Tischer Lima
A psicóloga destaca que houve aumento de 80% nos casos de ansiedade entre maio e junho do ano passado no Brasil, além de ter identificado este crescimento também em seu consultório. Segundo ela, os sintomas relatados pelos pacientes eram relacionados à depressão, ansiedade e problemas conjugais ou familiares.
Ainda de acordo com ela, houve uma redução na quantidade de pessoas que faziam o tratamento, pois muitas tiveram problemas financeiros durante a pandemia e acabaram escolhendo suspender as consultas. “A expectativa é que ocorra um retorno e o aumento no número de atendimentos após todos estarem vacinados com a segunda dose”, pondera.
É aconselhável que as pessoas procurem ajuda quando notam que sintomas como tristeza, ansiedade, raiva ou desânimo se tornaram constantes. Segundo a psicóloga, quanto mais cedo for procurado um atendimento médico especializado, mais rápida a recuperação. Pessoas interessadas podem buscar atendimento psicológico e psiquiátrico de forma gratuita por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), vinculados ao do Sistema Único de Saúde (SUS).
Ficha Técnica
Repórter: Pamela Tischer Lima
Edição: Gabriel Ryden e Larissa Godoi
Publicação: Gabriel Ryden
Supervisão de Produção: Vinicius Biazotti
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
- Detalhes
- Produção: Manuela Roque
- Categoria: Saúde
Apesar do aumento, média de agendamentos é menor do que antes da pandemia
Resumo
- Busca por exames de mamografia aumenta entre os meses de julho a setembro em Ponta Grossa;
- Na região Sul, o câncer de mama é a principal causa de morte da população feminina;
- Conheça a história da ponta-grossense que enfrentou e superou a doença;
- A Rede Feminina de Combate ao Câncer é uma das principais entidades de conscientização sobre o câncer de mama em Ponta Grossa.
Após queda em 2020 por causa da pandemia, a procura por exames preventivos contra o câncer de mama tem apresentado crescimento em Ponta Grossa neste ano. Segundo o DataSus, até o início de novembro foram agendadas 2.367 mamografias na cidade, aumento de 52% comparado com o mesmo período do ano anterior.
A médica radiologista Fabiana Ceolin, que atende pelo SUS em Ponta Grossa, diz que a procura por mamografia passou a se intensificar entre os meses de julho a setembro, período no qual foram feitos mais da metade dos procedimentos de 2021 na cidade.
Para a radiologista, a redução antes da pandemia ocorreu não apenas nos exames preventivos para o câncer de mama, mas também nos exames diagnósticos, o que ocasionou resultados tardios. “Muitas pacientes não fizeram seus exames por medo da pandemia e quando vieram, já apresentavam lesões mais agressivas, então poderíamos ter evitado muitos agravamentos e perdas de pacientes se a prevenção tivesse sido feita”.
O câncer de mama é a principal causa de morte na população feminina da região Sul, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). São 15,08 óbitos a cada 100 mil mulheres.
Foto: Danilo Schleder
Superação
Josemare Machado é uma das ponta-grossenses que enfrentou a doença. A contadora de 45 anos, que atualmente trabalha com o filho em uma doceria, carrega uma história de lutas contra o câncer há quase dez anos. Em 2012, Josemare recebeu o diagnóstico positivo e precisou realizar uma mastectomia parcial. Após a cirurgia, foram oito quimioterapias e trinta radioterapias.
Em 2014, durante o processo de recuperação, os médicos constataram o surgimento de um câncer de tireoide em Josemare. Novamente submetida à cirurgia, a contadora nunca perdeu a fé de que venceria a luta novamente. E venceu.
Em 2018, curada dos dois cânceres, Josemare foi convidada pelo hospital em que fez seu tratamento a “bater o sino”, uma cerimônia que simboliza a alta oficial do paciente e a superação da doença. O que ela menos esperava era que, no final de 2019, se depararia novamente com o diagnóstico positivo para um novo câncer, desta vez no linfonodo axilar.
Nesta terceira vez, foi recomendada a retirada total da mama direita, como forma de prevenção para o desenvolvimento de novos cânceres. Para ela, este foi o pior de todos os momentos, pois boa parte do tratamento foi feita durante a pandemia. “Eu não podia levar ninguém comigo, eu tinha que ficar sozinha fazendo a quimioterapia, e eu tinha muito medo porque eu sempre passei muito mal, e não ter ninguém ali me amparando como antes me preocupava muito, então foi muito diferente e muito mais assustador”.
Atualmente, Josemare está curada, mas segue realizando exames preventivos e se protegendo contra o vírus. “Quando veio a pandemia eu me isolei do mundo por conta da minha imunidade, usava máscara dentro de casa para evitar uma possível contaminação do meu marido ou do meu filho, e isso me afastou muito das pessoas, fiquei até sem ver os meus pais, que moram na casa ao lado”.
A ponta-grossense conta que sua família e os grupos de apoio a mulheres que estão na batalha contra o câncer foram seus principais apoios durante a pandemia. “Quando uma pessoa na família adoece, adoece a família inteira, porque eles sentem sua energia e o seu sofrimento, então é uma doença muito cruel, mas você não pode achar que o câncer é mais forte que você, a gente é sempre mais forte, precisamos ter fé e acreditar que vamos conseguir sobreviver”.
Como forma de retribuir aos profissionais que a ajudaram na luta contra o câncer, Josemare e o filho Lucas preparam todos os anos, em outubro, brownies para a ala de oncologia do hospital em que foi tratada. É um momento de agradecer pela vida e por aqueles que a ajudaram a superar a doença. “Ficou muita coisa comigo após o câncer, a gente carrega todas as lembranças, mas cada dia é um dia, sempre traz uma lição e aprendizado sobre a vida e sobre como precisamos sempre cuidar de nós”.
Campanha
O tratamento contra o câncer de mama acontece o ano inteiro, mas no calendário da saúde o incentivo e a conscientização sobre a doença ocorrem no mês de outubro, com as campanhas de Outubro Rosa. Em Ponta Grossa, uma das principais entidades que trabalham em prol da causa é a Rede Feminina de Combate ao Câncer.
Segundo Vani Fadel, presidente da Rede e voluntária há mais de 40 anos, a instituição, que fornece acolhimento e atendimento gratuito para a população de Ponta Grossa e região para a realização de exames e tratamentos, teve que se adaptar financeiramente para continuar aberta ao longo da pandemia. “Para nós, o Outubro Rosa são todos os meses do ano, nós nunca paramos de trabalhar na luta contra o câncer de mama, mas durante a pandemia as pessoas ficaram fechadas em casa e pararam de fazer suas doações. Tivemos que fechar nossos dois bazares e enfrentamos sérias dificuldades financeiras para sustentar os gastos com nossos assistidos”.
Atendendo atualmente mais de 210 pacientes, sendo 73% diagnosticados com câncer de mama, a presidente relata que foi preciso criar alternativas para arrecadar verbas, como a comercialização de mais de 1,2 mil pizzas artesanais e a confecção de decorações e ornamentos em datas festivas pelos trinta voluntários da entidade.
A presidente também destaca a criação e venda de um calendário para homenagear as pacientes da Rede recuperadas do câncer de mama, com fotos registradas nos mais diversos pontos turísticos de Ponta Grossa e estampadas por mulheres que superaram a doença. Toda a arrecadação com o calendário está sendo destinada para financiar os gastos de outras pacientes que seguem em tratamento.
Na visão de Vani, uma das principais dificuldades durante a pandemia foi manter o financiamento dos exames preventivos de mamografia para as mulheres assistidas pela instituição. “A covid-19 estava aí, mas o câncer já estava anteriormente, então não podíamos negar agora a ajuda que sempre demos”. Com a dificuldade, a Rede Feminina buscou uma parceria com o curso de Medicina da UEPG, que, com a suspensão das aulas presenciais, passou a realizar aulas práticas nas sedes da instituição e atendimentos preventivos de forma gratuita.
Exames
A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa informou que o município oferece a realização do exame de mamografia gratuitamente no Centro Municipal da Mulher (CMM) a mulheres que possuem indicação médica. Para solicitar o exame, a paciente deve se dirigir a uma Unidade Básica de Saúde e realizar o agendamento ou contatar o Centro por meio do telefone (42) 3901-1719. O CMM fica localizado na Rua Coronel Francisco Ribas, 2970, no bairro Órfãs. O funcionamento é das 8h às 17 h.
Ficha técnica
Repórter: Manuela Roque
Edição: Gabriel Ryden e Larissa Godoi
Publicação: Gabriel Ryden
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen
- Detalhes
- Produção: Ana Paula Almeida
- Categoria: Saúde
Diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade aumentou na pandemia
Resumo
- Reportagem aborda a vida com TDAH sob a perspectivas de três pessoas diagnosticadas;
- O TDAH é mais comum em crianças e adolescentes e ocorre em 3 a 5% desse grupo;
- Padrões patriarcais dificultam o diagnóstico em mulheres;
- Diagnóstico é feito por profissionais de saúde mental e envolve testes de concentração e memória, além da psicoterapia e análise do histórico familiar e escolar.
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um mal neurobiológico que se caracteriza por sintomas como desatenção, inquietude e impulsividade. Ele tem sido bastante discutido nas redes sociais desde o começo da pandemia, quando muitos passaram a ficar mais em casa e tiveram mais tempo para perceber os sintomas. Mas o diagnóstico para o transtorno não é rápido e nem fácil.
O jornalista e fotógrafo Danilo Schleder só foi diagnosticado com TDAH e bipolaridade aos 26 anos. Segundo Schleder, o resultado do seu diagnóstico saiu em torno de 5 meses após sessões de terapia com psicólogo e psiquiatra. “Minha família suspeitava desde sempre, nunca fui uma pessoa muito ligada nas coisas. Meu ensino na universidade e na escola nunca foram normais, sempre fui muito visual.”
O fotógrafo conta que aprendeu a viver com o transtorno. Assim, faz as atividades comuns da maneira como pode. “Eu estudo desenhando, tento aprender as coisas de forma prática.” Ele também gosta bastante de ler, mas tem dificuldades para isso. “Às vezes eu demoro dois dias para ler um livro de 700 páginas, mas posso demorar três meses, depende do meu foco”.
Outra pessoa que convive com o TDAH é a estudante de arquitetura Renata Pereira. Ela foi diagnosticada com o transtorno há dois anos, quando tinha 19 anos. A universitária conta que aos cinco anos de idade uma professora havia alertado seus pais sobre seu desempenho escolar. Renata fazia acompanhamento com uma psicóloga e após um alerta de sua namorada, que também tem TDAH, foi conversar com um psiquiatra. O diagnóstico só saiu depois de três meses, após ela e sua família realizarem um teste para descobrir mais sobre seu comportamento. “Eu tinha muita dificuldade para focar em coisas que não tinha muito interesse, falta de atenção, muito esquecimento também. Isso acaba fazendo você se culpar, achando que é preguiçoso mas na verdade é o déficit na tua cabeça”.
Tratamento do TDAH deve envolver sessões de terapia | Foto: Lilian Magalhães/Foca Livre
Após iniciar a medicação, ela começou a ter mais concentração e menos esquecimentos. A estudante conta que, com a pandemia, o aprendizado caiu muito, tendo muita dificuldade em se habituar com o ensino a distância. “Em casa eu não conseguia focar em nada, ainda mais por estar trabalhando. Eu chegava para ver quatro horas de aula na frente do computador.”
A também estudante de arquitetura Joyce Muzinoski conta que foi diagnosticada há cinco anos, quando tinha 14. Ela fazia terapia e desconfiava que podia ter TDAH. Depois de alguns testes, recebeu o diagnóstico em cinco meses. Ela tinha muita dificuldade em se manter focada, principalmente em atividades escolares. “Depois que eu descobri meu diagnóstico, facilitou a minha vida e as relações que eu tenho à minha volta porque eu consigo explicar para as pessoas o porquê de eu não conseguir me manter tão focada em alguma conversa.”
Joyce conta que ouviu muitas vezes que ela devia se portar como menina, sendo mais quieta. Ela também destaca, assim como Renata Pereira, a dificuldade em se diagnosticar o transtorno em mulheres por conta do padrão que a sociedade impõe.
A estudante teve dificuldade no ensino a distância durante a pandemia, pois em casa é muito fácil perder o foco e deixar as tarefas acumularem. “Eu aprendi nesse tempo algumas coisas na internet para conseguir lidar com o EAD como a tarefa do ‘só’: eu vou só fazer esse trabalho, eu vou só assistir essa aula. Também comecei a trocar de cômodos na casa quando sentia que estava perdendo o foco e usar peças de roupa que me remetiam ao estudo. ”
Especialista
Para o diagnóstico, um paciente com TDAH deve passar por profissionais de saúde mental (psicólogos, psiquiatras, neuropsicólogos e neuropsiquiatras) que irão realizar testes envolvendo atenção, concentração e memória. Também devem realizar a psicoterapia, na qual será analisado o histórico familiar e escolar do paciente junto com seus responsáveis, no caso de crianças e adolescentes. O processo pode levar semanas. As explicações são da psicóloga Heloisa Gonçalves, que tem uma página no Facebook sobre a doença e outros assuntos de psicologia.
Na página, a profissional destaca que o tratamento do TDAH deve envolver sessões de terapia. A medicação e o acompanhamento psiquiátrico devem ser realizados também para que esses sintomas sejam amenizados e não atrapalhem a vida escolar, profissional e pessoal. “O TDAH costuma ser identificado com mais frequência durante os anos do ensino fundamental, pois aí começam a ser vistos os sintomas mais clássicos de falta de atenção, hiperatividade motora, inquietação e impulsividade excessivas. A pessoa também pode ser facilmente distraída por estímulos externos, ter dificuldade para organizar atividades e completá-las, esquecer coisas e afazeres, falar demais, e ter dificuldade para esperar sua vez”.
Heloisa destaca que nem todos os sintomas irão aparecer e que devem ser alvo de preocupação apenas quando estão presentes em dois ou mais ambientes, como casa e escola. O TDAH tem três opções de diagnóstico, uma delas não envolve a percepção da agitação. Sendo assim, não se deve ater ao sintoma de hiperatividade. Ela também nota que o transtorno é mais frequente no sexo masculino, mas quando há em pessoas do sexo feminino, o maior sintoma é a desatenção em tarefas ou brincadeiras, dificuldade de seguir instruções até o fim, esquecimento e sofrimento com esforço mental prolongado.
Associação Brasileira do Déficit de Atenção
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é mais comum em crianças e adolescentes, e ocorre em 3 a 5% dessas pessoas em várias partes do mundo. São muitas as causas do transtorno: hereditariedade, substâncias ingeridas durante a gestação, sofrimento fetal, exposição a chumbo e problemas familiares.
A ABDA oferece em seu site tabelas de avaliação sobre TDAH para que profissionais possam usar com seus pacientes, além de todas as leis aprovadas e em trâmite com relação ao transtorno.
Ficha técnica
Reportagem: Ana Paula Almeida
Edição: Levi de Brito
Publicação: Matheus Gaston
Supervisão de Produção: Jeferson Bertolini
Supervisão de Publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen