Moradores percorrem três quilômetros para atendimento em UBS

Os pacientes da vila Santa Terezinha se deslocam à unidade de saúde do Santa Paula para realizar consultas médicas

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Clyceu Carlos de Macedo, da vila Santa Terezinha, está fechada para reformas. Desde a última semana de outubro, os moradores precisam andar quase três quilômetros para serem atendidos na UBS Egon Roskamp, do bairro Santa Paula. Segundo informações da Prefeitura de Ponta Grossa, as obras da UBS estão previstas para finalizar no dia 7 de novembro. Entretanto, a distância entre uma unidade à outra faz com que os pacientes optem por esperar pelo retorno dos atendimentos na Clyceu Carlos de Macedo. 

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UBS da Santa Terezinha está fechado para reformas. Foto: Leriany Barbosa

Egnon Schubert, 37 anos, é um dos pacientes que vai esperar o fim da reforma para ser atendido. Ele mora com a mãe, Marinez Schubert, 63 anos, e ambos são pacientes da UBS de Santa Terezinha. “Como costumamos andar a pé, o trajeto se torna complicado, e o deslocamento entre a nossa casa e a UBS do Santa Paula é muito longe”, afirma. Porém, para a mãe de Egnon, a espera não é uma opção. “Com a minha idade, eu preciso ir o quanto antes no postinho para renovar receitas médicas”, revela.

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Distância entre UBSs da Santa Terezinha e Santa Paula. Créditos: Google Maps

Para Schubert, a mudança de UBS poderia ser melhor. De acordo com ele, o local para realizar os exames e consultas deveria ser na UBS Alfredo Levandovski, localizada na vila Gralha Azul, também no bairro Contorno. Mesmo a distância sendo praticamente a mesma, o trajeto seria mais fácil, pois a unidade do Gralha Azul não tem grande contingente de pessoas para serem atendidas. "O postinho do Santa Paula atende muitas pessoas de outras vilas, assim como o da Santa Terezinha, já o Gralha Azul é mais restrito à população da própria região”, conclui Schubert. 

Leonilda Galvão, de 70 anos, também não aprovou a mudança pela falta de informações e esclarecimentos. “No geral, o atendimento continua o mesmo, assim como a demora para ser atendida. O interessante é que o postinho da Santa Paula também está com reformas a serem concluídas”, destaca a idosa. Ela menciona que surgiram diversas confusões com as datas. “As enfermeiras do postinho da Santa Terezinha falaram que eu precisava retornar sexta-feira (28) para pegar algumas receitas, mas naquele dia todos os postos de saúde da cidade estavam fechados”, expõe Leonilda lembrando que era dia do Servidor Público, logo a UBS não abriu. 

O que a Prefeitura diz?

O Município foi questionado pela reportagem sobre a escolha que resultou na mudança de atendimentos médicos na unidade de saúde do Santa Paula, porém, não obteve retorno. Além dos questionamentos sobre a metodologia de escolha, a reportagem também buscou saber o que seria de fato a reforma de modernização, o orçamento das obras e por qual motivo a UBS do Gralha Azul não foi escolhida para atender a população da Santa Terezinha, visto que a UBS escolhida também passa por reformas. Por fim, tentou-se entender como a Prefeitura iria operar caso as reformas passassem do prazo estimado. Mesmo com as mensagens encaminhadas em 26 de outubro pela reportagem, o Município não deu retorno. 

 

Ficha técnica

Reportagem: Leriany Barbosa

Edição e publicação: Isadora Ricardo

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski

Instabilidade do tempo agrava casos de rinite e sinusite

Quedas bruscas de temperatura são alertas para desenvolvimento de doenças alérgicas

O clima em Ponta Grossa tem se comportado de maneira instável nas últimas semanas. Apesar da predominância dos dias frios e chuvosos, dias quentes e ensolarados também dão as caras.  Um exemplo ocorreu entre esta segunda (17) e terça-feira (18), pois após um dia abafado e ensolarado, a terça amanheceu com chuva intensa, vento e frio. Essa mudança brusca impacta a vida de quem sofre com rinite e sinusite, pois a oscilação agrava as crises e as tornam mais frequentes.  

 

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Mudança brusca no tempo impacta a vida de quem sofre com rinite e sinusite. | Foto: Leriany Barbosa. 

 

De acordo com a otorrinolaringologista Elaine Prandel a rinite é uma doença irritativa das vias aéreas, uma inflamação, que pode ser alérgica ou não. Ela também diz que um tipo de rinite muito comum é a rinite derivada da mudança de temperatura, chamada de vasomotora. O clima frio de Ponta Grossa favorece o surgimento desse tipo de rinite. Já sobre a sinusite, a médica explica: “A sinusite ocorre quando há um microrganismo envolvido, seja viral ou bacteriano, então nesse caso já é uma infecção causada por um agente patógeno”.

A situação pode se agravar quando a rinite se desenvolve e causa sinusite. Como explica Elaine, a rinite provoca o inchaço e acúmulo de secreção nas vias aéreas e esse quadro evolui para a sinusite, o que pode causar infecções. Para quem sofre desses males, Elaine recomenda evitar agentes que causam alergias como pelúcias e o contato com animais como cães e gatos. Além disso, deixar o ambiente mais arejado, ainda mais na primavera, por conta da ocorrência de maior presença de pólen no ar. Caso o quadro se agrave, é importante recorrer ao tratamento médico, o que não descarta procedimento cirúrgico para desvio de septo

Quem passa por essa situação sabe o quanto é ruim lidar com os sintomas desagradáveis dessas doenças. Desde criança, Renan Luiz Taques, de 22 anos, sofre diariamente com a rinite. “Todo dia minha rinite ataca por conta dos cachorros e das flores que tem no quintal aqui de casa”, afirma Renan.  Ele conta que já procurou ajuda médica e foi diagnosticado com rinite crônica. “O médico passou alguns remédios e uma injeção que devo tomar uma vez por ano para tratar a rinite”, afirma.

 

Ficha técnica: 

Reportagem: Levi de Brito 

Edição e publicação: Cassiana Tozati 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski 

Do doador ao receptor: como funciona o ciclo do sangue

As etapas envolvem o tratamento do sangue até que ele seja destinado a outra pessoa 

Doação de sangue é um ato importante que pode ajudar a salvar vidas. O que nem todo mundo sabe é que o sangue coletado passa por várias etapas de preparação até ser destinado a uma pessoa. Desde o momento da triagem clínica do doador, até a forma de armazenamento do sangue coletado, são fases que interferem no processo final de doação.

Imediatamente após a coleta, o sangue é armazenado em caixas com placas refrigeradas a 16º C, por duas horas, a fim de estabilizar a temperatura. Nesse momento ele é chamado de “sangue total”. Segundo a farmacêutica bioquímica do Hemepar de Ponta Grossa, Vivian Aparecida Maciel Mendes, o objetivo é separar os quatro hemocomponentes do sangue: concentrado de hemácias, plasma, concentrado de crioprecipitado e concentrado de plaquetas. Para isso, as bolsas de sangue passam por um processo físico de centrifugação em duas etapas. A primeira etapa separa as hemácias do plasma e a segunda separa o plasma das plaquetas. 

Cada hemocomponente do sangue são igualmente essenciais, no entanto, cada um possui uma finalidade diferente. As hemácias, por exemplo, ajudam no tratamento de vários tipos de anemia e doenças hereditárias. Já o plasma e o crioprecipitado são destinados a pessoas com problemas de coagulação. As plaquetas auxiliam no tratamento hemorrágico.

Antes que o sangue seja liberado para doação (transfusão) , é necessário fazer exames da amostra. O intuito é verificar se o doador possui alguma doença possível de ser transmitida. Sendo elas: sífilis, HIV, hepatite B, hepatite C, doença de chagas e vírus HTLV (vírus linfotrópico de células T humanas) 1 e 2.

De acordo com Vivian, se os exames detectarem algum problema “o doador é convocado para coletar uma segunda amostra para confirmação e ele é direcionado para dar início ao tratamento”, afirma. A primeira amostra coletada, por sua vez, é descartada.

Todo o processo de coleta, centrifugação e exame leva em torno de 48 horas. Somente após todos esses estágios é que os componentes do sangue são liberados para doação.

DOAÇÃO SANGUE Maria Fernanda de Lima

Foto: Arquivo Periodico/Maria Fernanda de Lima

Armazenamento correto

Após o processo de centrifugação, todos os componentes exigem diferentes formas de armazenamento. Vivian explica que o concentrado de hemácias deve ser refrigerado em uma temperatura de 4º a 6º C e dura entre 35 e 42 dias. Já o concentrado de plaquetas é conservado em temperatura ambiente e dura apenas cinco dias. Tanto o plasma, quanto o crioprecipitado são armazenados a 30º C negativos e duram até um ano congelados.

Até mesmo durante o transporte de algum elemento é necessário ter o cuidado com a temperatura adequada. Se não forem armazenados corretamente, os componentes podem ser contaminados por bactérias e devem ser descartados.

 

Antes da coleta, vem a triagem

A triagem clínica, etapa anterior à doação, é indispensável para o funcionamento correto de todo o procedimento citado. Segundo a enfermeira do Hemepar, Vanessa Andrade, a triagem consiste em um questionário extenso sobre hábitos de vida, medicações e histórico de saúde do doador. Além de verificar se ele atende aos critérios de doação, também é avaliado se a coleta pode causar algum problema, tanto para o doador, quanto para quem recebe o sangue.

De acordo com Vanessa, a triagem auxilia na investigação de possíveis problemas que os exames em amostras não seriam possíveis de descobrir. “Todo o questionário feito aqui na triagem clínica é para descartar a possibilidade desse doador ter alguma interferência em algum ponto que venha trazer prejuízo em qualquer parte do processo. Mesmo com os exames feitos no sangue, a triagem clínica se mantém importante”, afirma.

Este ano as doações caíram 20% comparado há dois anos, porém, o Hemonúcleo da cidade ainda consegue operar sem faltas de sangue. Essa falta só é sentida quando a  baixa das doações está acima dos 40%. De acordo com a farmacêutica bioquímica do Hemonúcleo, Márcia Barbosa Machado, “por dia, são distribuídas cerca de 40 bolsas para hospitais e clínicas da cidade, e para este mês, o estoque de bolsas de sangue se mantém tranquilo devido às doações já feitas em setembro”.

A doação pode ser feita via agendamento no site do Hemepar. O interessado também pode ligar para o número (42) 3223-1616. O Hemonúcleo fica na rua General Osório (esquina com Coronel Dulcídio).

 

Ficha Técnica:

Repórter: Larissa Onorio

Edição e Publicação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Candida de Oliveira, Marcelo Bronosky e Ricardo Bronosky

Setembro Verde: doar órgãos salva vidas

Paraná é referência na doação de órgãos no país; PG acompanha os índices do Estado

 

A cor verde marca a Campanha Nacional para a Doação de Órgãos e Tecidos, conhecida como Setembro Verde. Idealizado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. A doadora Amanda Calixto comenta sobre a importância das ações para conscientização da população. “A doação de órgãos ainda é pouco discutida, mesmo sendo de grande importância social”. 

Em Ponta Grossa, de acordo com os dados do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, entre janeiro e maio deste ano,  11 doadores estiveram aptos a transplantes de órgãos na região. Em comparação a 2021, os números permanecem estáveis, totalizando uma média de dois doadores efetivos por mês.

Segundo o coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Universitário (HU), Guilherme Arcaro, o processo de doação é iniciado após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Em seguida, quando o paciente é um potencial doador, há um diálogo com a família para a autorizar o processo. 

Arcaro explica que os transplantes são realizados pelos centros transplantadores. Na região, os mais próximos ficam em Campo Largo e Curitiba. Além disso, ele explica como ocorre o recolhimento dos órgãos. “A equipe transplantadora vem até o hospital, realiza a captação dos órgãos e os encaminha aos centros conforme disponibilidade e compatibilidade doador-receptor”, destacou.

O coordenador ressalta que o Paraná lidera o ranking nacional de doadores efetivos por milhão de habitantes e Ponta Grossa segue nesta mesma tendência estadual. De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), o Brasil é referência mundial na área de transplantes de órgãos e tecidos, assumindo o segundo lugar no ranking de maior transplantador, atrás apenas dos EUA. Bem como possui o maior sistema público de transplantes do mundo, com cerca de 95% do financiamento dos transplantes realizados pelo SUS.

Corrente do bem

Com apenas dez anos de idade, Gabriela Romanoski de Andrade viveu uma corrida contra o tempo após ser diagnosticada com Miocardiopatia Dilatada, em julho de 2020. Transferida para o Hospital Pequeno Príncipe para realizar seu tratamento, em poucos meses, ela deu entrada na fila de transplantes em busca de um novo coração, mesmo com o seu transbordando de tanta bondade e amor. A pequena Gabi tinha dois sonhos, receber a primeira comunhão, com direito a uma cerimônia surpresa preparada na capela da instituição médica e outro de ajudar as pessoas, principalmente crianças. Infelizmente, em novembro de 2020, a pequenina não resistiu, mas seu sonho permanece forte com o Projeto Gabi Vive, relata a amiga da família e colaboradora do projeto Ligiane Santos.

A ideia do projeto é ser uma rede de apoio para os familiares que estão na mesma situação, promover campanhas de arrecadações e difundir materiais sobre a conscientização da doação de órgãos para contribuir no aumento do índice de doadores efetivos.

Ligiane comenta sobre a importância da realização de campanhas e movimentos para divulgar informações sobre o procedimento de doação. No ano passado, a colaboradora relata que o projeto realizou ações ligadas ao Setembro Verde. “Muitas pessoas nos disseram que, ao lerem as informações dos posts, mudaram positivamente de ideia sobre suas decisões acerca da doação de órgãos”. 

Como virar um doador

Segundo informações do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná, existem dois tipos de doadores: o doador falecido, onde é necessário comunicar os familiares sobre o desejo, visto que o procedimento só pode ser realizado com a autorização de parentes próximos. E o doador vivo: qualquer pessoa saudável que deseje doar um de seus rins ou parte do fígado para um familiar próximo, ou uma pessoa não aparentada - neste caso sendo preciso uma autorização judicial.

Os órgãos que podem ser doados são: coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado e também tecidos, como: córneas, pele, ossos, valvas cardíacas e tendões. Ou seja, um doador pode ajudar muitas pessoas. De acordo com o Sistema Estadual de Transplantes os órgãos são destinados a pacientes que necessitam de transplante e estão aguardando em uma lista única de espera. A seleção dos pacientes que aguardam o procedimento ocorre baseada na gravidade da doença, tempo de espera na lista, tipo sanguíneo e compatibilidade com o órgão doado. Após a doação, os órgãos são removidos cirurgicamente e, antes de ser entregue a família, o corpo é reconstituído condignamente e sem deformidades, podendo ser velado normalmente.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Larissa Del Pozo

Edição e publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli 

Projeto de Lei prevê mais liberdade para mulheres realizarem laqueadura

Para que entre em vigor, PL precisa da autorização presidencial

Mulheres podem vislumbrar maior liberdade na realização de laqueaduras no Brasil. No início de agosto, a Câmara dos Deputados aprovou alterações na lei em relação ao procedimento e, se aprovado pelo Presidente, não será mais necessária a autorização do cônjuge para realizar a cirurgia. Além da ausência de autorização masculina, o projeto altera de 25 para 21 a idade mínima para realizar a laqueadura e permite a esterilização logo após o parto do primeiro filho, não sendo necessária a espera pós-parto. 

“A figura do marido que delibera pela mulher ainda está longe de ser um folclore. Parece uma piada, mas essa lei está vigorando”, diz a professora do Departamento de Biologia Geral, Marcela Teixeira Godoy, também coordenadora do projeto O que você estava vestindo?, que faz a exposição de roupas das vítimas de violência sexual, do momento em que foram violentadas. A lei anterior previa a anuência do companheiro para realizar a laqueadura  com no mínimo 42 dias depois do parto ou ao término do puerpério. 

ATENDIMENTO MÉDICO SAÚDE Mariana Okita

Foto: Mariana Okita (Acervo Periódico)

Para Marcela, as alterações na lei representam maior liberdade para a mulher, que pode zelar de forma independente pela própria saúde. “Ninguém deveria ter o poder de decisão direto ou indireto sobre o corpo da mulher, que diz respeito somente a ela. A alteração na lei impede que a mulher faça duas cirurgias, duas internações, dois procedimentos que poderiam ser realizados na hora do parto”, ressalta. Marcela também destaca que um dos objetivos da laqueadura é evitar os vários riscos à saúde que uma gravidez indesejada pode causar. 

Sileda Becket, de 55 anos, é um exemplo de como as decisões sobre o próprio corpo são atreladas à figura masculina. Ela fez a laqueadura há 20 anos e conta o que lhe foi dado de orientação para o procedimento. “A médica me pediu, além de refletir bem sobre a decisão, a assinatura do meu marido”, relata. Sileda optou pelo procedimento porque não queria mais ter filhos após o nascimento da terceira filha e seu marido não aceitava fazer a vasectomia. Sileda acrescenta outra dificuldade que afeta a vida da mulher. “Afinal de contas é ela que depois tem a responsabilidade em relação ao seu emprego, em relação à licença maternidade. Ela que corre o risco de ficar desempregada”. 

A lei não contempla todas as realidades femininas. Uma estudante universitária de 22 anos, que prefere não ser identificada, expõe que desde que atingiu a maioridade, tem interesse em realizar a laqueadura. “Eu nunca tive interesse em ser mãe, e não quero ter aquela obrigação que toda mulher tem de construir uma família”, explica. Mesmo com a possível alteração na lei, em que ela teria idade mínima e não precisaria de assinatura do parceiro, ela ainda precisaria ter um filho. 

Para ela, a alteração significa uma vitória apenas parcial. “Acham que é necessário ter um filho primeiro, porque talvez você vá se arrepender. Não consideram, inclusive, a possibilidade de que existam outras formas de se ter um filho, como a adoção”. A estudante não se sente segura com os outros métodos contraceptivos, como a pílula anticoncepcional. E, enquanto as exigências da lei intercederem pelas vontades da mulher e sobre o que faz com seu corpo, ela permanecerá com a insegurança. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati e Victória Sellares

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Maurício Liesen

Trabalho Híbrido: Mal uso de redes sociais interfere na saúde mental de profissionais

Falta de divisão entre esferas profissional e privada pode influenciar no desenvolvimento de Síndrome de Burnout 

 

O trabalho híbrido, conhecido por combinar o presencial e o home office, tem sido cada vez mais aplicado após o isolamento por conta da covid-19. Trata-se de um contexto onde os trabalhadores desenvolvem as atividades em horários condizentes com as rotinas pessoais. Porém, os benefícios das tecnologias, que possibilitam esse tipo de trabalho, ainda precisam ser avaliados. É um desafio dividir a vida profissional e pessoal com o uso das redes sociais e aplicativos de mensagem, pois não importa o horário, o trabalho consegue se misturar com a vida privada por esses meios. 

O psicólogo Luiz Ricardo Pauluk diz que as queixas pela invasão do trabalho na vida pessoal, a partir do uso de redes sociais e WhatsApp, são frequentes em seu consultório. “Posso dar como exemplo um casal que precisou estabelecer regras rígidas, porque o WhatsApp profissional de um deles invadia a privacidade. Isso, por sua vez, levou à uma crise no casamento que quase resultou na separação”, conta. A solução do casal foi proibir o uso profissional do aplicativo após as 22h, e as consequências dessa atitude seriam resolvidas no dia seguinte. 

Para Pauluk, é preciso avaliar o uso das tecnologias e buscar uma educação a partir disso. “Não temos uma cultura que administre bem o contato com o mundo virtual. Não sabemos, de modo geral, dosar o uso dos dispositivos eletrônicos”. A falta dessa postura diante das tecnologias pode ocasionar na Síndrome de Burnout, principalmente no contexto de trabalho híbrido. 

Por ser caracterizada como um estado de exaustão psicológica derivado do excesso de trabalho, que pode gerar sintomas depressivos, ansiedade, de despersonalização (como se a pessoa sentisse sua personalidade se esvaziando ou se dissolvendo) e perda de satisfação no trabalho, a síndrome apresenta complexidade maior no trabalho híbrido, onde o ambiente de trabalho e espaço privado se confundem. E para evitar a exaustão nesse contexto, o psicólogo dá algumas alternativas. “A parte virtual do trabalho híbrido depende de uma organização específica. Algumas dicas seriam organizar os horários de trabalho, a dinâmica familiar, o espaço reservado para trabalhar. Por exemplo, nunca utilizar o quarto, onde se descansa.” 

Uma psicoterapeuta, que não quis ser identificada, relata ter desenvolvido a Síndrome de Burnout a partir da dificuldade em separar a vida pessoal da profissional. Um ponto que ela destaca é o fato de seus pacientes conseguirem entrar em contato com ela em qualquer horário. “Estou sempre à disposição dos meus pacientes para ajudá-los e, mesmo quando não são assuntos urgentes, devo respondê-los. Muitas vezes é meia-noite de um domingo, por exemplo, e não consigo sair do WhatsApp por causa disso, o que dá um desgaste emocional e físico”, explica. 

Para ela, sua situação com o uso das tecnologias não parece se encaixar no termo “trabalho híbrido”, pois não há dias determinados e horários para responder as mensagens. Porém, ao considerar o trabalho além da terapia presencial, o desgaste acaba sendo semelhante. “Por parecer simples responder uma mensagem ou outra por aplicativos, não é visto como trabalho. Mas, na realidade, estou trabalhando, só que fora do consultório.” 

Ela acrescenta que ainda não conseguiu encontrar o equilíbrio necessário para o uso profissional das tecnologias e que, por isso, não consegue descansar no tempo livre. “Sempre estou pensando nas mensagens que me enviam, além das demandas do consultório. É preciso muita organização e um pouco de desprendimento do trabalho também. Quero estar disponível para meus pacientes, mas nem sempre os assuntos precisam ser tratados imediatamente”. A psicoterapeuta pensa em definir horários para tratar de assuntos que não são urgentes pelo WhatsApp, com o objetivo de melhorar sua saúde mental e parar de sobrecarregar o trabalho. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati

Edição e Publicação: Catharina Iavorski

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Perfume íntimo tem fragrância de infecções 

Produtos de higiene íntimo oferecem riscos à saúde da mulher, alertam ginecologistas

Quem acompanha a cantora Anitta nas redes sociais se deparou com o lançamento de um perfume unissex às áreas íntimas. Porém, segundo especialistas, o produto chamado Puzzy pode causar infecções na região. Por alterar o pH dos órgãos, não é aconselhável o uso de perfumes e sabonetes, uma vez que podem causar doenças sendo a mais frequente é a candidíase, provocada pelo fungo Candida albicans. Quem já teve, sabe o incômodo com coceira, inchaço, corrimento pastoso, dificuldade para urinar e dor durante as relações sexuais. 

Segundo a ginecologista Keilla Lima, produtos como lenços umedecidos e desodorantes íntimos não são recomendáveis para uso. Para a higienização, os mais adequados são os sabonetes convencionais, desde que sejam neutros e de preferência glicerina. “É muito importante que as mulheres também saibam fazer a higienização íntima de forma adequada, para além dos produtos. Água e sabão neutro são apenas na região externa, pois caso contrário, ocorre o desequilíbrio da proteção vaginal”, explica. 

Ainda de acordo com a médica, é possível desmistificar o uso desses produtos de higiene através do conhecimento, mesmo que haja incentivo ao consumo. “Saber e entender que a mucosa vaginal é uma área muito sensível, já contribui para que as mulheres usem itens adequados para a saúde íntima”, conclui Keilla. Caso ocorram irritações e suspeita de doenças devido ao uso de produtos íntimos, recomenda-se procurar atendimento médico, preferencialmente ginecológico para melhor avaliação. 

 

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Foto: Leriany Barbosa

 

Consumo dos produtos

A reportagem realizou um levantamento sobre o uso de produtos de higiene para áreas íntimas, como sabonetes íntimos e perfumes semelhantes ao Puzzy de Anitta. O público que respondeu à pesquisa foi de 40  mulheres, entre 19 e 46 anos de idade, que usam ou já usaram os produtos. Delas, 35% faziam uso de produtos de higiene para a área íntima, mas pararam de usar devido a relatos de pessoas que tiveram infecções por conta dos perfumes e sabonetes. Por outro lado, 30% das mulheres ainda utilizam os produtos. 

Quando questionadas se já contraíram alguma doença na região íntima devido ao uso dos produtos de higiene, 10% das entrevistadas responderam que tiveram candidíase. Enquanto 5% das mulheres revelaram que já sofreram com infecção urinária ou alteração no corrimento vaginal - líquido que serve para proteger e lubrificar a região. Apesar das recomendações médicas, 25% das entrevistadas não veem problema quanto ao uso, mesmo sabendo dos riscos que podem vir a ter. 

Adriana Rebonato, de 46 anos, foi uma das mulheres que respondeu ao levantamento e afirmou ter sequelas quanto ao uso desses produtos. Em 2015, ela contraiu uma alergia por conta do sabonete íntimo e os sintomas seguem até hoje. “A reação alérgica começou com um vermelhidão na vagina, então não pensei duas vezes e logo marquei uma consulta com o ginecologista. Após uma série de exames ele me alertou que essa irritabilidade foi causada pelo sabonete íntimo”, explica.

Adriana ainda revela que atualmente ela não pode usar determinados tipos de absorventes, calcinhas e tem que manter a região depilada. “Eu usava esses sabonetes desde jovem, pois eles sempre foram sinônimos de limpeza, mas na verdade eles apresentam riscos à saúde da mulher e, infelizmente, descobri isso na prática”, alerta.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Luiza Bertelli Dimbarre e Leriany Barbosa

Edição e Publicação: Lilian Magalhães

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Falta de orientação gera dificuldades no aleitamento materno

Agosto é dedicado ao aleitamento materno e alerta para a importância do tema

 

O aleitamento materno é recomendado a crianças até dois anos de idade, sendo os seis primeiros meses indispensáveis para o desenvolvimento. Entretanto, muitas mães sofrem com dificuldade em amamentar, e isso acontece, principalmente, pela falta de orientação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno reduz em até 13% a taxa de mortalidade infantil, além de fortalecer o vínculo entre mãe e bebê. 

Jaqueline Rosa, de 34 anos e mãe de quatro meninos, teve dificuldade no aleitamento, que só melhorou com o passar das gestações. Durante o pré-natal da primeira gravidez, ela não foi orientada  e, quando seu bebê nasceu, não sugava o leite. No hospital, foi necessário receber auxílio de profissionais, como fonoaudióloga, que ajudou a identificar o motivo da dificuldade do bebê. Para Jaqueline, receber tantas informações de uma vez só foi cansativo. “Foi um processo exaustivo, me sentia muito pressionada”.

Devido à dificuldade, a pediatra recomendou fórmula infantil, composto parecido com leite em pó, para o recém-nascido. “Foi o maior erro que cometi, eu não tive nenhuma outra orientação, era simplesmente: fique tranquila, a fórmula vai ajudar e ele vai crescer saudável”, relembra. Na terceira gestação, Jaqueline teve dores e sofreu com leite empedrado, mas, por ter maior conhecimento, ficou mais calma. “O conhecimento é libertador, as orientações foram me tranquilizando. Precisa haver respeito com a mãe que acabou de ter o bebê, muita informação pode deixá-la ainda mais nervosa e atrapalhar o processo”.

Pamela Gorgal conversou com amigas sobre o aleitamento, e para não ter grandes problemas, salvou o contato de uma consultora de amamentação. Quando sua filha nasceu, em abril deste ano, os problemas, como fissuras nos seios, apareceram em dois dias. “Eu amamentava me segurando para não gritar, porque doía muito”. Foi quando ela buscou ajuda. Parou de amamentar, começou a extrair leite com bombinha, e alimentar sua filha com seringa até o seio cicatrizar. “Eu consegui salvar a amamentação devido à orientação, porque se não fosse por isso eu teria desistido. A dor era insuportável”.

 

foto amamentaçãoFoto: Raylane Martins/Acervo Foca Foto

 

A técnica de laboratório do Hospital Universitário Materno Infantil (HUMAI), Cláudia Cancian, afirma que as mães devem buscar auxílio. “Toda mãe que tem dor ou dificuldade, é ideal que procure pelo banco de leite para conseguir a amamentação própria do bebê, estamos aqui para ajudar”.

A farmacêutica bioquímica, doula e consultora de amamentação, Mônica Balsano, explica que nos seis primeiros meses de vida do bebê, o leite supre todas as necessidades alimentares, pois possui substâncias nutritivas próprias, excluindo até a ingestão de água. Além disso, ele protege contra diversas doenças no recém-nascido e câncer de mama da mulher. 

Caso o bebê não receba o leite materno, os riscos para a criança são altos e os compostos alimentares que se assemelham ao leite, como as fórmulas, não apresentam valor nutricional suficientes. “As fórmulas têm a mesma composição do leite materno, mas enquanto nele há 200 componentes, nas fórmulas encontramos somente 80. É uma diferença grande”, afirma. 

A mulher com dificuldade na amamentação deve procurar orientação médica ou agendar a visita de uma consultora de amamentação, para que possa entender o motivo pelo qual não consegue amamentar. De acordo com Mônica, os fatores são inúmeros, como a falta de leite ou a pega incorreta da mama. Além disso, o estresse colabora para a dificuldade. “Quando a mulher está estressada, ela libera o hormônio cortisol, o que diminui a descida do leite”, explica.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Bettina Guarienti e Isadora Ricardo

Edição e Publicação: Eder Carlos e Mariana Gonçalves

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Restrição ao glúten dificulta socialização de celíacos

Pacientes reclamam da carência de estabelecimentos locais que forneçam alimentos seguros para consumo

“Faz dez anos que não faço minhas refeições fora de casa. Quando saio levo marmita ou faço a refeição antes”. Esse é o desabafo da celíaca Valdirene Aparecida Veiga mas poderia ser dito por qualquer morador de Ponta Grossa com alguma restrição ao glúten.


Segundo o levantamento realizado pela reportagem, todos entre 28 celíacos e intolerantes ao glúten entrevistados acreditam que Ponta Grossa e região carecem de restaurantes, bares e lanchonetes que atendam suas necessidades restritivas. A apuração também constatou que quase 80% deixam de consumir os alimentos nesses ambientes por conta da contaminação cruzada. “Sinto muita falta de poder sair e me divertir como qualquer pessoa. Quando saio sei que vou pagar o preço depois, pois sempre acontece alguma contaminação”, comenta a psicóloga Fabiana Brêga, que tem intolerância ao glúten.


De acordo com a celíaca Luiza Siqueira Stemmler, a instrução dos restaurantes sobre as restrições alimentares de seus consumidores também deveria ser mais aprofundada. “Eu nem falo que eu sou celíaca, porque ninguém sabe o que é celíaco”. Ela comenta que consome alimentos que possam conter contaminação cruzada por conta de sua rotina obrigar a fazer refeições fora de casa. Luiza afirma que alguns restaurantes da cidade possuem alimentos sem glúten, mas nem sempre são alimentos pensados para esse público. “Até têm restaurantes que vendem comidas sem glúten, mas se eu vou com a minha família, todos eles comem pizza e eu tenho que comer salada por ser a única opção”, exemplifica.

Selos
No Paraná, visando a inclusão e segurança dos celíacos e intolerantes ao glúten, fundou-se na capital do estado a Associação de Celíacos do Paraná (Acelpar). Sob a atual presidência da engenheira química Ana Claudia Cendofanti, a associação possui mais de vinte anos de atuação objetivando proporcionar uma realidade que atenda as necessidades restritivas do público celíaco.


De acordo com a presidente da Acelpar, a doença celíaca vai além do diagnóstico médico e impacta diretamente o convívio social do indivíduo. Nesse contexto, a associação busca garantir espaços seguros de convivência para esses cidadãos por meio da implantação do “Selo Sem Glúten”— uma iniciativa da Acelpar com o intuito de propiciar uma produção, manipulação e preparo de alimentos totalmente livres de traços de glúten.

Segundo Ana Claudia, o processo de auditoria para a certificação do estabelecimento passa por todo percurso que o produto sem glúten faz, desde a análise da matéria-prima até sua entrega ao consumidor final. Ela afirma que existem aproximadamente 33 selos distribuídos pelas cidades paranaenses, mas nenhum em Ponta Grossa. Existiram processos anteriores para a tentativa de implantação dos selos na região, mas, foram encontrados traços de glúten no processo produtivo — o que interrompeu a certificação. No início da pandemia, outro estabelecimento de alimentos sem glúten tentou a implantação do selo, mas não deu continuidade no processo de auditoria.


Além disso, a presidente da associação comenta que mesmo diante da proximidade entre Ponta Grossa e Curitiba, ainda a cidade carece de espaços especializados para este público, contabilizando menos de dez. “Muitos restaurantes poderiam atender o público celíaco se fizessem algumas transformações em seus processos produtivos a fim de se adequarem às necessidades desses clientes”, destaca.

ALIMENTAÇÃO Acervo Portal Comunitário

Cidadãos enfrentam escassez de estabelecimentos que disponham de uma cozinha segura, livre da presença do glúten. Foto: Acervo Portal Comunitário

Produção nos restaurantes
A tecnóloga de alimentos, Paola Pavlak Silvério, expõe que existem dificuldades em produzir alimentos totalmente livres de glúten para o público celíaco. Ela realiza o controle de qualidade de um restaurante e uma padaria em Ponta Grossa, e afirma que a contaminação cruzada, o encontro de matérias-primas de qualidade e o custo elevado dos produtos são as principais barreiras para a produção desses alimentos.


Paola reforça que as cozinhas utilizadas para a fabricação desses alimentos específicos precisam de bastante atenção a fim de garantir qualidade e segurança para os consumidores. Ela comenta sobre algumas medidas possíveis para evitar a contaminação cruzada, como possuir um espaço físico separado para a produção ou a necessidade de realizar a sanitização completa do ambiente e utensílios, mas também a realização de intervalos de 48 horas entre a produção tradicional e a sem glúten.


Além disso, a tecnóloga afirma que percebeu uma maior procura por esses alimentos específicos nos últimos anos e reforça a necessidade de instruções dos estabelecimentos quando os consumidores solicitam essas produções. “Nós sempre orientamos que produzimos alimentos sem glúten, mas com contaminação cruzada”.

Contaminação cruzada
De acordo com a paciente, Valdirene Aparecida Veiga, a contaminação cruzada é um fator de risco para os celíacos pelo fato de não tratar somente de deixar de consumir os alimentos e sim do processo produtivo como um todo.


Segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (FENACELBRA), a contaminação cruzada ocorre quando um alimento sem glúten recebe direta ou indiretamente partículas (traços) de glúten de outros alimentos, desde o plantio até o consumo final. De acordo com a nutricionista do Departamento de Segurança Alimentar da cidade, Elaine Cristina Popoatzki, a atenção para a contaminação cruzada na produção de alimentos deve ser considerada quando se fabricam produtos para o público celíaco e intolerante ao glúten.

A nutricionista declara que apenas cerca de cinquenta celíacos e intolerantes ao glúten estão cadastrados na prefeitura. Entretanto, ela afirma que o número de pacientes é muito superior. Além disso, expõe que escuta diversas reclamações desses cidadãos pela escassez de estabelecimentos que disponham de uma cozinha segura, livre da presença do glúten.

Doença celíaca
O gastroenterologista Rafael Acras explica que a doença celíaca consiste em uma intolerância permanente ao glúten, fazendo parte deste grupo o trigo, cevada, centeio e o malte, por isso devem ser evitados por esses pacientes.


Sobre os sintomas, ele esclarece que cada organismo age de maneira diferente, ou seja, algumas pessoas são assintomáticas, outras possuem sintomas ligados ao aparelho digestivo, como: estufamento, diarreia, gases, desconforto abdominal, ou extra digestivos: carência de vitaminas, doenças autoimunes e problemas em outros órgãos.


Segundo o médico, a identificação da doença deve ser realizada por um gastroenterologista, por meio de exames de sangue, teste de diagnóstico genético e endoscopia com biópsia.


De acordo com a FENACELBRA, a doença celíaca ocorre em pessoas com tendência genética à doença. Assim, pode surgir em qualquer idade, mas geralmente aparece na infância, em crianças com idade entre 1 e 3 anos.

 

Este texto é parte do conteúdo da edição recém-publicada do jornal-laboratório Foca Livre, produzido pelo 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Clique aqui e acesse a edição completa.

Ficha Técnica:

Reportagem: Larissa Del Pozo Malinski
Edição e publicação: Valéria Laroca 
Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli, Cândida de Oliveira e Maurício Liesen
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Quem tem AME tem pressa

Remédio para a Atrofia Muscular Espinhal custa cerca de doze milhões de reais no Brasil

A Atrofia Muscular Espinhal (AME) é uma doença rara, progressiva e degenerativa causada por uma alteração genética que afeta os neurônios motores, comprometendo o desenvolvimento da criança, causando fraqueza, hipotonia, atrofia e paralisia muscular progressiva levando à morte. Para o tratamento da doença existem o Spinraza e o Ridisplan, disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o Zolgensma, terapia gênica que ainda não está na lista de medicamentos para portadores de AME. Remédio de dose única, o Zolgensma é considerado o mais caro do mundo chegando a custar aproximadamente doze milhões de reais por paciente. Ele contém o ingrediente ativo onasemnogeno abeparvoveque, que contém material genético humano e tem a função de neutralizar a doença em crianças até 2 anos de idade.

O estudante de medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Leonardo Oliveira Barros, explica que a doença degenerativa está ligada à medula espinhal. Além disso, ele conta que a pessoa já nasce com a doença, apresentando sintomas como a hipotonia, diminuição de força e a perda de reflexos. “Antes mesmo de nascer, ela já vai ter essa doença. Porque a informação genética não vai se alterar no decorrer da gravidez”.

A farmacêutica Cecília Cardoso observa que existem várias vaquinhas online de famílias com crianças que possuem a atrofia. Essa arrecadação pelas redes tem como intenção conseguir os recursos suficientes para a compra do Zolgensma. Ela menciona que há apenas uma empresa dona dos direitos do medicamento, sendo ela a controladora do valor ofertado.

A farmacêutica ainda explica o funcionamento do medicamento. “O Zolgensma vai inibir essa atrofia. Não vai ser igual ao Spinraza [outro remédio indicado para o tratamento] que vai retardando a progressão da doença. Como ele mexe no DNA e modifica, essa atrofia vai realmente inibir”. Ela conta a história de uma criança que estava perdendo os movimentos e com o uso Zolgensma apresentou evolução.

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Reprodução/ instagram: @cureaalice

Relato

Silvana Alves é mãe da Alice, de 2 anos e quatro meses. Quando Alice ainda era um bebê, não atingia os marcos do desenvolvimento indicados para a fase. Na medida em que o tempo passava a preocupação aumentava, pois via que algo não estava normal com Alice, sendo assim foi buscar orientação e informação médica, porém sem uma resposta precisa. A AME é uma doença rara e pouco conhecida e passou despercebida pelo olhar clínico dos profissionais sem chegar no diagnóstico. “Alice já estava com quase 10 meses e não sentava, não rolava, não engatinhava, não era uma criança ativa”. Depois de várias consultas, Alice foi levada a uma neuropediatra em Curitiba que fechou o diagnóstico para AME tipo 1.

O tratamento começou trinta dias após o diagnóstico recebendo quatro doses de ataque do medicamento Spinraza, num período de 40 dias e outra aplicação após 4 meses, sendo necessária a reaplicação a cada 4 meses pelo resto da vida. Medicamento este que custa 320 mil reais cada dose com aplicação direta na medula espinhal do paciente. Para conseguir comprar o Zolgensma, a família organizou a campanha Cure a Alice (https://www.facebook.com/cureaalice/) pelas redes sociais e entrou com um processo judicial contra a União visando o fornecimento do dinheiro para a compra do remédio, como direito à saúde para qualquer cidadão. O dinheiro arrecadado ajudou com parte das despesas e o processo custeou a compra do Zolgensma. O processo  judicial ainda não finalizou, mas Alice precisava receber o remédio antes de completar dois anos de idade.

“A  AME não tem cura, mas o Zolgensma faz com que paralise a progressão da doença e Alice comece a ter uma vida sem riscos para a sua saúde”. Para receber o medicamento, ela precisou ir para São Paulo pois apenas alguns hospitais no Brasil tem especialistas preparados para realizar a infusão do Zolgensma. Hoje, ela só faz uso de corticóide e faz acompanhamento frequente com vários especialistas no Hospital das Clínicas em Curitiba. “O remédio em si, caminha junto com as terapias”, explica Silvana. 

 A irmã da Alice, Bruna Milena Rodrigues, conta que foi muito difícil no início. “Foi assustador o diagnóstico. Era uma doença que a gente não tinha conhecimento na época”. Logo em seguida de receber a notícia, Bruna conta que sua mãe entrou em contato com várias campanhas para se informar e buscar mais orientações. Relata que “como Alice tomou o Zolgensma antes dos dois anos de idade, a irmã pode ter uma vida normal, mas que tudo vai depender dos estímulos motores diários (as terapias)”.

A falta de oferta do Zolgensma pelo sistema público gerou brigas judiciais pelo país. Considera-se os riscos à vida da criança mesmo recebendo o tratamento disponível pelo SUS, o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) entende que o portador de AME tem direito à outras alternativas de tratamentos. O fato do medicamento não ser oferecido pelo sistema público de saúde foi discutido na Câmara de deputados em 2021, porém o Ministério da Saúde alega que os dados de eficácia do medicamento ainda são frágeis. Em contra partida, estudos comprovam a eficiência do medicamento em crianças que já o receberam nos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA  onde vem apresentando evolução desde então, considerando as particularidades de cada paciente devido às percas que tiveram até recebê-lo. 

Ficha Técnica:
Repórter: Marcella Panzarini
Edição: Bettina Guarienti
Publicação: Gabriel Mendes Ferreira
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Moradores reclamam de sede temporária da UBS Sady Silveira

Falta de informação causa confusão sobre os serviços e atendimentos prestados

 

Após quase um mês da reabertura da UBS Sady Silveira, moradores que frequentam o posto de saúde reclamam da falta de informações, condições e serviços básicos do novo local. Esta é a quarta mudança de endereço da unidade que presta atendimento a cerca de 10 mil pessoas, principalmente para a população do bairro de Olarias e Coronel Cláudio. De acordo com a Prefeitura, o espaço não é definitivo, mas irá funcionar até a construção do prédio destinado a UBS, que ainda está em fase de licitação.

DSC 0013Localizado no bairro de Olarias, a sede temporária da UBS Sady Silveira abriu em 20 de junho. Foto: Victoria Sellares

 

Segundo uma funcionária, que preferiu não ser identificada, não há previsão de retorno dos serviços que ainda faltam. “Mudamos há uma semana, ainda estamos nos ajustando de acordo com o que o espaço permite. Foi dito que tanto o dentista quanto a vacinação retornariam, mas não sei quando”, afirma. 

Um membro da associação de moradores da região, que preferiu não se identificar, se mostrou revoltado com a falta de indicação definitiva por parte do Poder Público. “Nós lutamos por 15 anos por um espaço fixo, depois que conseguimos, ele não durou um ano e, mais uma vez, nos jogaram para um espaço temporário para esperar a construção de outro prédio”.

Para Fátima Pereira, moradora do bairro, que buscou o atendimento na UBS, a principal dificuldade do novo local é a falta de informação de reabertura da unidade. “Eu fico aliviada de fazer novamente as consultas próximo de casa, mas o problema é que quase não tem informações do novo local. Eu só descobri quando cheguei em Uvaranas, na UBS Madre Josefa, onde estavam atendendo provisoriamente, me atrasei para a consulta por não saber da mudança de novo”. Depois disso, ela teve que voltar a Olarias.

Ana Maria Bilek é moradora de Olarias e é atendida na unidade Sady. Ela diz que o local é menor e por isso os atendimentos são limitados. “É a segunda vez que venho aqui, aparentemente a qualidade segue a mesma, posso dizer que está razoável, mas espero que seja de fato temporário, porque é um espaço pequeno”, diz.

 

Serviço:

Rua Quatorze de Julho, nº 162 – Olarias

Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 9h às 17h

 

 

Ficha técnica

Reportagem: Victória Sellares

Edição e publicação: Amanda Martins e Carlos Solek

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen