Mercado Público de Ponta Grossa protagoniza segundo episódio de série de reportagens 

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Mercado Municipal funcionou por 42 anos, até 2011. Foto: Facebook Princesa dos Campos/Nossa História

 

Ponta Grossa já teve um Mercado Público Municipal. Inaugurado em 1969, durante algumas décadas foi ponto de encontro de muitos ponta-grossenses que procuravam alimentos, ervas medicinais, açougue, peixaria, serviços e muito mais.

O enorme prédio azul e branco, de três andares, tinha entrada principal pela Rua Comendador Miró. O acesso entre os andares era feito através da rampa que contornava uma praça central em que estava a imagem de uma santa. Essa praça, com jardim muito bem cuidado, era em um poço de luz, que iluminava todo o interior do mercado e abrigava a imagem de Santana, padroeira de Ponta Grossa.

Precisava consertar um sapato? Tinha sapataria. Suspeita de mau olhado? Tinha benzedeiras. A roupa precisava de conserto? Tinha costureira. E uma alfaiataria. Fotocópia para um trabalho da escola? Também tinha. E, ocupando vários boxes, uma filial do Supermercado Chamma – um supermercado dentro do mercado.

No Mercadão, também era possível matar a fome ou apenas tomar um café. Logo na entrada, uma lanchonete servia os visitantes. O bolo de ovo era sensacional. 

Em cada andar, corredores levavam aos muitos boxes onde era possível comprar quase tudo: feijão, arroz, frutas e hortaliças, carnes e peixes. E conservas de repolho e de pepino com endro e folha de parreira: quando se abria o barril, rescendia o cheiro pelas imediações.

Por falar dos cheiros, cada banca tinha um aroma diferente, conforme os produtos vendidos. As bancas de ervas eram as mais perfumadas. Menos na época de uvas, quando o cheiro dos cachos maduros, produzidos nas chácaras de Ponta Grossa, ganhava a competição. Havia ainda a banca do Café Kiebon (que não existe mais), moendo os grãos na hora que o cliente pedia, enchendo o espaço com o cheiro de café e despertando a vontade do consumo. 

Mas havia também o cheiro característico da peixaria, das frutas da estação e até do couro que a sapataria usava para confeccionar sapatos personalizados, conforme o pedido do cliente. A cada passo dado, um novo aroma impregnava o ar.

E as cores? Do verde brilhante da alface, ao roxo do repolho. O feijão preto e o tomate vermelho vivo. As laranjas chamativas. Os potes de temperos com cores variadas. A banca de ovos, brancos e vermelhos, os belos ovos de codorna e até de pato e marreco com suas cores características.

Isso sem falar na banca que comprava, vendia e trocava revistas, com suas capas multicoloridas chamando todos para a leitura. Era possível trocar duas revistas por uma, comprar a preços reduzidos ou vender e garantir um troco para o final de semana.

E ainda tinha o pátio do estacionamento que, aos domingos, virava um parque de diversões. Sem os carros, o local se transformava em pista de ciclismo e skate, espaço para andar de patins brincar de pega-pega. Ou jogar bola com os amigos.

A inauguração do mercadão, aos poucos, acabou com as feiras dos bairros. E nos anos 1970 e 1980 quase todas as linhas de ônibus passavam pelo local, permitindo que os ponta-grossenses fossem lá fazer suas compras. Mas o mercado municipal não foi regenerado. E quando surgiram os grandes supermercados, começou a cair no esquecimento.

O prédio não recebeu reformas, surgiram problemas de estrutura. Os boxes começaram a ser fechados e logo havia mais espaços vazios que ocupados. Os corredores já não tinham o burburinho de antes. Com a construção do terminal central, só umas poucas linhas de ônibus ainda passavam pelo local. E, em 2011 o mercadão foi fechado.

 

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Ruínas do antigo Mercadão de Ponta Grossa na esquina da Comendador Miró com Benjamin Constant. Foto: Eder Carlos

 

Desde 2017, há a promessa da construção de um novo mercado público. Até foram marcadas datas de inauguração, mas ele teima em não voltar. A mais recente é para o bicentenário de Ponta Grossa, em setembro de 2023. Por enquanto, o que resta é um amontoado de entulhos. E as histórias que povoam a memória de quem frequentou o mercadão, conforme relatos colhidos em grupos de redes sociais sobre as memórias de Ponta Grossa, nos quais esta reportagem se baseou.

 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Eder Carlos 

Vídeo: Catharina Iavorski

Edição de vídeo: Maria Helena Denck

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Serviço de acolhimento é o caminho mais seguro para a formação de crianças e adolescentes.

 

Relato de Josimara Terezinha Costa de Jesus, voluntária do Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora desde 2018.

 

O programa é realizado pela Fundação Municipal de Assistência Social de Ponta Grossa, em parceria com a Vara da Infância e Juventude, em que crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social são recebidos em lares temporários até que sua guarda seja definida perante a lei.


O acolhimento institucional tem uma abordagem coletiva, com alta rotatividade profissional, privando os acolhidos de afeto, de referências maternas e de direitos fundamentais. Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), atualmente existem 27.797 crianças e adolescentes institucionalizadas no Brasil. O Paraná é a quarta unidade da federação em quantidade de institucionalizações. Para cada criança há em torno de oito inscritos para adotá-lo, porém, 14 % dos acolhidos aptos à adoção não correspondem ao perfil esperado pelos pretendentes.

mulher criança acolhimento ponta grossa

Foto: Maria Eduarda Kobilarz


Em 2009, com a edição da Lei n° 12.010 o acolhimento familiar se apresentou como o melhor destino a crianças em risco social, passando a constar no Estatuto da Criança e do Adolescente como medida protetiva. O acolhimento é uma modalidade humanizada que propicia à criança e ao adolescente um tratamento individualizado, em que os voluntários passam por uma capacitação e recebem bolsa auxílio para acolher um menor até que seu destino seja definido, podendo retornar à família de origem ou direcionado à adoção formal.

Josimara Terezinha Costa de Jesus é mãe solo de três filhos pela via biológica e já acolheu sete crianças pelo programa. Para ela, a principal diferença entre os abrigos institucionais e o acolhimento é o tratamento individualizado.

Daniela Fucio também é voluntária do projeto e atualmente auxilia um bebê prematuro. Ela reforça o argumento de que o acolhimento é essencial para o desenvolvimento de crianças que passam por vulnerabilidade social. “É gostoso ver como ele se desenvolveu na parte motora, na parte emocional, a maneira como ele está aprendendo a gerar vínculos com a gente pela troca de olhar e afeto. A partir desse cuidado ele vai conseguir reproduzir esses comportamentos com outra família.”


Para Larissa Kinczel, formada em Psicologia e Desenvolvimento Infantil, o tratamento individual da família acolhedora é essencial para a formação das crianças. “Cada criança é única e tem a sua subjetividade. Numa instituição não tem esse olhar mais de perto, de entender as necessidades de cada um”. A psicóloga reforça que a falta de individualidade pode afetar o desenvolvimento.


O Acolhimento em família acolhedora corresponde a 5% do total de acolhimentos do país. O Paraná é o estado que mais computa acolhidos em tal modalidade, chegando a 29%. De acordo com a FASPG, de janeiro a abril de 2022, 17 crianças foram beneficiadas pelo projeto. Ainda assim, participantes e organizadores reconhecem a pouca aderência do programa na cidade e apontam a falta de divulgação como um dos empecilhos para o melhor desenvolvimento.

 

Ficha técnica:

Repórter: Maria Eduarda Kobilarz

Edição e publicação: Janaina Cassol e Maria Luiza Pontaldi

Supervisão de produção: Ricardo Tessaroli

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Ponta-grossenses têm dúvidas sobre obrigatoriedade do equipamento de proteção

Em março de 2022, o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa flexibilizaram o uso de máscaras. Porém, com o aumento do número de casos de covid-19, alguns locais voltaram a exigir o equipamento de proteção para entrada e permanência em ambientes fechados, como Câmara dos Vereadores, hospitais, farmácias e clínicas de saúde. A mudança, no entanto, está sendo tomada de forma particularizada, o que vem causando dúvidas na população de onde o uso é obrigatório ou opcional.

De acordo com o vendedor Maikon Jhonatan, a falta de uma política pública centralizada gera insegurança. “É complicado, agora eu não sei se posso ou não entrar nos locais sem máscara porque cada um decide uma coisa e fica difícil”, afirma. Para ele, todos os locais deveriam manter a escolha em aberto à população que já recebeu mais de duas doses da vacina. 

IMG 8615Foto: Bettina Guarienti

A dona de casa, Marina Cavalheiro Machado, também demonstra dúvidas de quais locais o uso é obrigatório, mas diferente do vendedor; defende a utilização das máscaras em todos os ambientes fechados. “Vou usar sempre e acredito que todos deveriam continuar utilizando”, diz.

Para a chefe de cozinha, Serli Rosas, a falta de padronização pode ser usada como justificativa para as pessoas que são contrárias ao uso do equipamento de proteção. “Acho que está muito confuso, tem quem não sabe e tem quem finge não saber. A obrigatoriedade em só alguns lugares acaba se tornando desculpa pra isso”, declara.

A aposentada Olívia Castilho afirmou não saber quais locais é exigido o equipamento e, ao se dar conta da exigência na Câmara dos Vereadores, demonstrou indignação: “É no mínimo irônico o local de onde saem as leis e ordens obrigar o uso da máscara lá dentro e não mudar a restrição em outros espaços fechados’’, afirma Olívia.

Atualmente, a lei em Ponta Grossa não obriga o uso de máscaras na maioria dos locais, como comércio e ambientes públicos. A conscientização através de cartazes, por exemplo, não é promovida pela Prefeitura. Nos espaços onde é obrigatório ou recomendado, o aviso parte da própria gestão. Em ambientes particulares, a regra varia de acordo com o que a gestão privada definir.


Ficha Técnica

Repórter: Victória Sellares

Edição e Publicação de texto: Isadora Ricardo

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Produção e Edição de vídeo: Victória Sellares

Gravação: Maria Eduarda Ribeiro

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

 

Além do trânsito, serviços de urgência, como ambulância, também são afetadas pelos problemas da região 

 

Os moradores da rua Guilherme Voigt, em Uvaranas, enfrentam diversos problemas devido às condições da via, isso porque o local é cenário frequente de prejuízos e até quedas. Ao menos nos últimos oito anos, a condição da rua não melhorou, ficando cada vez mais deteriorada devido à chuva e falta de manutenção. “Eu tive que desistir do meu negócio de van escolar.

Subir todos os dias aqui acabava forçando o eixo da van e quebrava”, desabafou Aline Fonseca, moradora do local. Além disso, há outras reclamações feitas no local. A denúncia frequente é de uma cratera encontrada logo no início da via, um perigo para quem se arrisca em passar de carro.

“O pessoal chega até o meio, desiste e começa dar a ré, mas esquecem que tem um buraco ali”, explica Aline. Com as chuvas, a situação piora. A moradora contou que há pouco tempo um caminhão atolou no local e ela gravou a situação e acabou caindo na cratera: “Estava chovendo, mas acabei mostrando que cabe uma pessoa inteira lá”, contou mostrando os machucados no rosto causados pela queda.

 

pauta heryvelton

 

Para quem tem carro próprio, como é o caso da moradora Luana Bricky, a única forma de chegar à garagem de sua casa é descendo a rua. “Tem que descer devagarinho, porque subir não dá. O carro é meio baixo, então sempre bate o fundo no chão”, contou Luana. Ela tem um filho pequeno e também relatou sua preocupação com o lazer do menino, que não consegue andar sem tropeçar pelos buracos da via: “Não dá nem para andar de bicicleta", expôs a moradora.

As condições precárias deixam os moradores desassistidos por serviços como atendimento médico e serviços de transportes. A ambulância, quando chega ao local, tem que parar na Rua Teixeira de Macedo. A última vez que uma moradora precisou de atendimento de urgência a ambulância subiu, mas ficou atolada no local: “Minha menina caiu aqui e tive que descer na rua debaixo para ser atendida pela ambulância", contou Aline. Os serviços de transporte também são outros dos problemas graves, vans escolares e motoristas de aplicativo param em ruas paralelas ao local, por conta do medo de não conseguir sair dos buracos da via.

A Prefeitura Municipal de Ponta Grossa foi procurada pela reportagem para esclarecimentos da situação da rua e possibilidades de melhorias e informou que irá enviar um técnico até o local para averiguar a situação

Ficha Técnica
Repórter: Heryvelton Martins
Edição: Maria Eduarda Ribeiro
Publicação: Valéria Laroca
Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral
Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen

Com comercialização proibida e consumo liberado, cigarros eletrônicos provocam debate sobre legislação brasileira

A comercialização de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas as baforadas podem ser vistas livremente em ruas, bares e boates do país. Em Ponta Grossa, um comerciante de cigarros eletrônicos, que preferiu não se identificar, afirma que o consumo aumentou muito nos últimos meses.

O vendedor, que atua na região central da cidade, acredita que o aumento das vendas tem origem na vontade dos usuários de pararem de fumar. Mesmo com a venda ilegal no Brasil, o comerciante não para de vender. “Várias lojas já foram fechadas, mas é um negócio que não deve parar, porque ajuda as pessoas”, alega. 

Ele acrescenta que a proibição dos cigarros eletrônicos no Brasil vai além das questões de saúde, pois o uso do cigarro comum dá lucro. “As pessoas querem parar de fumar cigarro comum, mas o governo não quer tirar o imposto dele, deixando a venda dos cigarros eletrônicos proibida”. 

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Foto: Cassiana Tozati 

Mesmo com a facilidade de compra e banalização do uso, o comércio dos produtos tem consequências pouco conhecidas pela população. O advogado Matheus de Quadros explica que o comércio dos produtos geram infrações graves ou gravíssimas, e as multas, dependendo do caso, variam de R$75 mil a R$1,5 milhão de reais. 

A fiscalização da venda fica por conta dos órgãos da Vigilância Sanitária, pelos Procons, por serem órgãos de defesa do consumidor, e também pelos órgãos de segurança pública. “Por haver regulamentação da Anvisa, a comercialização se enquadra como crime referente a substâncias nocivas. Esses órgãos podem realizar não só a prisão em flagrante, como a apreensão do material”, explica Matheus.

Os cigarros eletrônicos encontram vários públicos, além daqueles que querem deixar de consumir o cigarro comum. Um estudante da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que não quis se identificar, é usuário de cigarros eletrônicos, e afirma que não gosta do cigarro comum. Ele utiliza os cigarros eletrônicos para socializar e por questões psicológicas: “Tenho ansiedade, e quando estou nervoso uso com maior frequência”.  

Para ele, a proibição desses produtos deveria ser reavaliada. “Se o álcool e o cigarro comum, que são prejudiciais à saúde, são liberados, não concordo com a proibição das vendas dos cigarros eletrônicos”. Entretanto, ele afirma que a proibição das vendas não o incomoda, pois o consumo é liberado e para encontrar os cigarros eletrônicos não há grande dificuldade, principalmente ao comprar pela internet. 



 

Reportagem: Cassiana Tozati 

Edição e publicação: Isadora Ricardo 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Marcos Zibordi e Maurício Liesen