Questões legais, ambientais e religiosas são determinantes na escolha para cremação

A prática da cremação de cadáveres é um processo milenar, que surgiu nas civilizações grega e romana, como forma nobre de destino após a morte. Nessa técnica, o corpo é submetido a temperaturas entre 900 a 1300 graus celsius em câmaras crematórias, a fim de ser reduzido em cinzas. No Brasil, até meados dos anos 1990, apenas um crematório, em São Paulo, estava em atividade. Em 2020, segundo o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), o país contava com 132 crematórios registrados e 70 em funcionamento. 

 

LAURA URBANO 04 FORNO CREMATÓRIO PODE CHEGAR ATÉ 1300 GRAUS CELSIUS

Forno crematório pode chegar até 1300 graus celsius | Foto: Laura Urbano

 

O Paraná acompanhou o crescimento do rito fúnebre. No início dos anos 2000, apenas duas empresas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) faziam o procedimento. Em 2023, treze crematórios estão em atividade, sendo seis na RMC, e os demais no interior do estado. Ponta Grossa, mesmo com quase 400 mil habitantes, conta com apenas uma opção de crematório: o Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais. Segundo o proprietário Ricardo Lievore, a procura pela cremação na região ainda é baixa. “Em Ponta Grossa acontecem em média 300 óbitos por mês, cerca de 10 por dia. Nós fazemos aproximadamente 7 cremações por mês.”, explica. 

 

Questões legais da cremação 

A Legislação Brasileira determina que, em casos de morte violenta, como suicídio, acidente de trânsito e homicídio doloso ou culposo, a cremação é vedada ou só pode ser realizada mediante autorização judicial. Ricardo explica que os crematórios devem manter unidades de conservação dos corpos, com temperaturas entre 0 graus a 10 graus negativos. “Nós precisamos manter os corpos armazenados por 24h, em casos de óbitos violentos. Nestas situações, os corpos podem passar por perícia. Além de que nós respeitamos a religião espírita que recomenda esperar 72h do óbito para que o corpo seja cremado”, explica. 

 

LAURA URBANO 06 SALA CREMATÓRIA É COMPOSTA POR CÂMARA FRIA E FORNO CREMATÓRIO

Sala crematória é composta por câmara fria e forno crematório | Foto: Laura Urbano

 

A burocracia por trás do procedimento envolve a apresentação de atestado de óbito assinado por dois médicos, autorização de cremação assinada por um parente de grau direto (cônjuges, pais, avós, filhos, netos e irmãos) e duas testemunhas, além de documentos pessoais do falecido. Nos casos em que a pessoa a ser cremada não tenha parentes diretos, deve ser requisitada por parentes do segundo grau uma autorização judicial para a cremação. 

 

Relações entre a cremação e o meio ambiente

O engenheiro ambiental e mestre em engenharia sanitária, Rhuan Felipe Jeranoski, conta que em Ponta Grossa, os cemitérios públicos foram construídos há mais de um século. Na época, as preocupações com o meio ambiente eram mínimas por parte da sociedade e o poder público não estabelecia determinações legais sobre as condições ideais estruturais e ambientais para a instalação de túmulos. 

Rhuan explica que a estrutura dos cemitérios, sem licenciamento ambiental correto, afeta diretamente o meio ambiente. “Esses cemitérios são fontes poluidoras por serem construídos sem qualquer preocupação com a drenagem superficial das águas das chuvas e sem o revestimento das camadas inferiores do solo para retenção de fluídos de necrochorume, liberados na decomposição dos corpos”, detalha.

ILUSTRAÇÃO DUNCAN URBAN 02 PROCESSO DE SEPULTAMENTO NOS CEMITÉRIOS CONVENCIONAIS EMITEM NECROCHORUME EM AQUÍFEROS

Processo de sepultamento nos cemitérios convencionais emitem necrochorume em aquífero | Ilustração: Duncan Urban

 

Para Jeranoski, além da questão ambiental, a liberação do necrochorume, dos corpos sepultados em cemitérios convencionais, é uma questão de saúde pública. “A contaminação do lençol freático pelo necrochorume pode trazer consequências adversas à saúde pública pela grande presença de vírus e bactérias causadoras de doenças, principalmente em locais que a água subterrânea, proveniente de poços rasos e cisternas, seja fonte de abastecimento de água para a população”, ele explica.

Um estudo realizado pela Associação Nacional dos Diretores Funerários dos Estados Unidos revela que a preocupação com o meio ambiente vem aumentando a procura por planos de cremação, um procedimento ecologicamente correto. Jeranoski explica que mesmo indo de encontro com normas ambientais, esse método também pode causar impactos para o meio ambiente, como a emissão de partículas, devido à incineração, na atmosfera e, em algumas situações, o consumo elevado de energia elétrica. 

Ainda assim, a cremação segue sendo uma alternativa menos prejudicial ao meio ambiente em relação ao sepultamento em cemitérios convencionais. “Na cremação não ocorre a geração de necrochorume e não requer espaço físico extenso, gerando economia de área, especialmente em meio urbanos onde o espaço é limitado”, conclui Rhuan.

 

Alternativas de destino para as cinzas

O destino das cinzas é uma preocupação para familiares e amigos do ente querido que partiu. A escolha da família e crença em determinada religião é fundamental para o armazenamento. Nos casos em que a decisão seja mantê-las  armazenadas, as urnas cinerárias podem ser colocadas em espaços destinados à elas, como os columbários, um memorial, ou ainda, em pequenos espaços em túmulos e jazigos. 

Outras alternativas são: confecção de acessórios com pequena quantidade de cinzas; urnas feitas de materiais biodegradáveis que, ao serem plantadas, tornam-se árvores; manter no lar da família do falecido ou espalhar as cinzas por lugares que foram significativos durante a vida da pessoa que partiu. 

Em Ponta Grossa, caso o desejo seja o armazenamento em jazigos familiares, nos cemitérios públicos, o Serviço Funerário determina que seja solicitada uma guia, no valor de 55 reais, para a abertura das gavetas ossuárias dos túmulos. No momento da solicitação deve ser apresentada a documentação de propriedade dos túmulos ou declaração de permissão de abertura, assinada pelos proprietários. 

O subsolo da Catedral Sant’Ana de Ponta Grossa conta com a estrutura da cripta, local destinado a armazenar os ossos de pessoas falecidas há mais de cinco anos ou urnas cinerárias. A edificação, mantida pelo Cemitério Parque Jardim Paraíso, abriga 8858 lóculos e, atualmente, menos de mil espaços estão ocupados. Os lóculos vazios estão disponíveis para compra no valor de 1500 reais e pagamento de taxa anual de 130 reais, destinada à manutenção, válida para 2024. Enquanto que, no mesmo cemitério, um jazigo está sendo vendido por 5700 reais, além da taxa anual de 350 reais. O espaço da cripta também abriga os túmulos dos dois primeiros bispos de Ponta Grossa, Dom Antônio Mazarotto e Dom Geraldo Micheletto Pellanda. 

 

LAURA URBANO 02 CRIPTA NA CATEDRAL SANT ANA CONTA COM 8858 LÓCULOS

Cripta na Catedral Sant'Ana conta com 8858 lóculos | Foto: Laura Urbano

 

A estrutura do Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais, além de disponibilizar salas para velórios, copa e salas de descanso, mantém o columbário, como forma de memorial aos falecidos. As cinzas são guardadas em gavetas com portas de vidro, de maneira que possibilite à família guardar a urna cinerária, objetos, cartas, fotografias e lembranças da pessoa que faleceu. O espaço no columbário pode ser locado, anualmente, por 650 reais. 

 

Valores da cremação e de sepultamentos convencionais

O Crematório Parque Campos Gerais, único crematório de Ponta Grossa, está em atividade desde 2014 e, em média, realiza sete cremações ao mês. Segundo a tabela de valores do crematório, o procedimento, que conta com cremação, aluguel da câmara fria e locação do columbário por um ano, custa, aproximadamente, cinco mil e quinhentos reais. O crematório disponibiliza planos funerários que facilitam as formas de pagamentos. Em relação ao sepultamento no Cemitério Parque Campos Gerais, apenas a compra de jazigo custa entre sete mil e oitocentos reais até nove mil reais. Estes valores desconsideram procedimentos de preparação do corpo, caixão e salas de velório, além de que, em casos de planos funerários, os valores podem apresentar variação. 

ILUSTRAÇÃO DUNCAN URBAN 01 CICLO DA CREMAÇÃO É COMPOSTO POR ARMAZENAGEM EM CÂMARA FRIA INCINERAÇÃO DO CORPO E ARMAZENAGEM EM URNAS CINERÁRIAS

Ciclo da cremação é composto por armazenagem em câmara fria, incineração do corpo e armazenagem em urnas cinerárias | Ilustração: Duncan Urban

 

Ficha Técnica:

Produção: Laura Urbano

Edição: Joyce Clara e Iolanda Lima

Publicação: Radmila Baranoski e Lucas Veloso

Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza

Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Cândida de Oliveira

O Paraná lidera o ranking nacional de acidentes por choques elétricos e  curto-circuitos. Neste ano, somente no mês de janeiro, foram registradas 30 ocorrências. Nove delas, por choque elétrico, com quatro mortes. Os números aumentaram 28% nos últimos dois anos, subindo de 92 acidentes, no ano de 2021, para 127 no ano passado.  O crescimento levanta um alerta sobre os perigos de acidentes dentro de casa, onde qualquer pessoa pode ser a vítima. 


Segundo relatório da Associação Brasileira  de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL), um dos principais motivos dos curto circuitos é a instalação elétrica interna. Os eletrodomésticos ou aparelhos eletrônicos  são os maiores causadores  de choques, com 21,5%. Em segundo lugar, o fio partido ou sem isolamento, com 16,8%. As manutenções aparecem com 10,7% e os acidentes com benjamim, popularmente chamado de T, tomadas e extensão com 14,1%.


De acordo com o engenheiro eletricista Jorge Guedes a falta de conscientização é também um dos maiores causadores de acidentes elétricos domésticos. “As pessoas possuem muitos aparelhos elétricos dentro de casa, mas não buscam saber os riscos que eles trazem quando não manuseadas de forma correta”, analisa. O profissional ressalta que a informação pode ajudar a salvar vidas. “São coisas pequenas e simples de serem evitadas, mas por falta de conhecimento acabam gerando grandes problemas, muitas vezes, resultando em mortes”, completa.


Carlos Monteiro foi uma vítima de acidente doméstico. Ele conta que  não desligou a chave geral para trocar a fita isolante  do chuveiro de sua casa e  levou um choque, necessitando de ajuda médica. “Era um pequeno reparo e acreditei que tomando os cuidados, como não pegar na parte descascada não aconteceria nada[...] estava num dia corrido e quis fazer às pressas, mas acabei no hospital por choque elétrico e muitas dores pelo corpo”, revela.


Desligar a chave geral para realizar manutenções está entre as principais formas de prevenir acidentes elétricos domésticos. Outros cuidados são recomendados, como a  manutenção preventiva do imóvel, não ligar vários aparelhos em uma  única tomada e não utilizar aparelhos elétricos próximos a locais molhados. Em casas com crianças e animais, também é importante manter as tomadas protegidas para evitar acidentes.

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Em casos mais graves curto circuitos podem causar incêndios

 

O Hotel Santa Cruz localizado na esquina das ruas Tenente Hinon Silva e Tenente Pinto Duarte, no Centro, foi o mais recente a ser incendiado na cidade

 

O incêndio que atingiu o Hotel Santa Cruz aconteceu na madrugada do dia três de maio deste ano. O imóvel foi construído na década de 1960 e, neste ano, foi interditado pelos bombeiros antes do incêndio. Mesmo assim, vizinhos relataram que o local continuava sendo usado por moradores de rua. As causas do fogo e o número de pessoas envolvidas ainda não foram  esclarecidos.

Embora não se saiba exatamente o que originou o incêndio que destruiu o imóvel, há muitas divergências nas informações que circularam sobre o assunto. O Corpo de Bombeiros afirmou que não houve vítimas socorridas no local, já relatos  de vizinhos do prédio contam que uma pessoa teria sido resgatada das chamas. De acordo com os bombeiros, nenhum inquérito será aberto para investigar as causas do incêndio no hotel. 

O imóvel estava na lista do Departamento de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura entre imóveis inventariados para tombamento. Em 2023 o processo de reconhecimento do valor histórico do prédio, que foi iniciado em outubro de 2003, completaria duas décadas. Neste ano, em comemoração aos 200 anos de Ponta Grossa, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) retornou a discussão de tombamento desses imóveis. Depois do incêndio, o prédio do hotel Santa Cruz foi parcialmente demolido pela Defesa Civil por risco de desabamento.

 

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Hotel Santa Cruz após a destruição causada pelo fogo | Foto: Vitória Testa

 

Incêndios recorrentes

Não é incomum que imóveis indicados para tombamento sejam incendiados. Em Ponta Grossa já ocorreram casos parecidos com o do Hotel Santa Cruz, como o caso do prédio histórico do Clube Sírio-libanês, construído na década de 1930 por imigrantes, que pegou fogo em 2007 na Rua XV de Novembro. O Clube estava listado entre os imóveis inventariados para tombamento fazia 8 anos, mas o processo não havia sido concluído ainda.

Em caso semelhante no início dos anos 2000, o prédio histórico do antigo Hotel Dallas, localizado próximo à Estação Saudade, também pegou fogo. Já em janeiro deste ano outro imóvel histórico foi incendiado e depois demolido, localizado na avenida Carlos Cavalcanti, esquina com a rua Pereira Passos, ao lado do Colégio Estadual General Osório. A história se repete: um prédio antigo que apresenta deterioração é sondado para tombamento, acontece um incêndio e demolido por risco de tombamento.

O artigo nº 43 da Lei Municipal nº 6.183/2001 prevê uma multa de R$ 1.760,00 a R$ 176.000,00 em casos de demolição, destruição ou mutilação da propriedade tombada. No entanto, como o processo de tombamento dos imóveis incendiados citados não foi finalizado, a multa não se aplica.

Nas redes sociais o internauta André Rosa lamenta: “Outra vez a conveniência de uma demolição estupra o que resta da memória daquela que já foi chamada ‘Princesinha dos Campos Gerais’. Sua antiga beleza, que unia o natural ao arquitetônico, foi pervertida, deformada e prostituída pela elite nefasta, estúpida e ignorante, que contou com a conivência de um povo submisso, para realizar seu intento”.

 

Por que não querem tombar?

Nem sempre o reconhecimento do valor histórico de um imóvel é comemorado pelos proprietários. Isso ocorre porque as normas de preservação, segundo a  Lei Municipal nº 6.183/2001, preveem que a proteção e conservação de um bem tombado é responsabilidade dos proprietários, sem permitir reformas que descaracterizem o local. 

De acordo com a lei, os casos de reformas devem ser encaminhados ao COMPAC, para que o Conselho  determine os procedimentos a serem seguidos pelos donos das propriedades. Porém, a burocracia para realizar qualquer tipo de reforma em imóveis tombados faz com que os proprietários sejam contrários ao tombamento.

A casa de Tereza Chemin (83), comprada pela família Chemin por volta da década de 1940, foi tombada como patrimônio cultural de Ponta Grossa no ano passado. Esse foi o primeiro tombamento de um imóvel de madeira na cidade. A casa fica localizada na Rua Theodoro Rosas, 64, e é conhecida pelo seu tom amarelado e pelos ornatos em madeira conhecidos como lambrequim. 

Mas a casa nem sempre foi dessa maneira. Tereza afirma que quando seus pais compraram a casa ela tinha “cor de pinhão” e durante os anos foram feitas diversas reformas em decorrência das marcas do tempo. Agora, com o tombamento, os moradores da casa lamentam não poder reformar a residência, que apresenta deteriorações devido ao tempo de uso. Mesmo com lambrequins quebrados e problemas no telhado eles não podem manter os reparos em dia.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Vitória Testa

Edição: João Iansen

Publicação: João Iansen

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos

O museu Campos Gerais abre nova exposição que mostra a história de Ponta Grossa durante seus dois séculos de existência

O que representa Ponta Grossa? Seriam os sítios arqueológicos da região, como o Parque Vila Velha ou o Buraco do Padre? Talvez a cidade seja conhecida por conta do seu time de futebol que há tantos anos leva o nome do município para campeonatos estaduais e nacionais, ou até mesmo por algum prato típico. A pergunta sobre o que realmente representa a “Princesa dos Campos Gerais” não possui uma resposta simples. Em setembro se comemora o bicentenário da cidade, e ao longo desses dois séculos muitos elementos foram fundamentais para a sua construção. 

A cidade se prepara desde o ano de 2022  para a celebração do aniversário de 200 anos, que ocorre no dia 15 de setembro. Um dos espaços a entrar na comemoração foi o Museu Campos Gerais (MCG), que recentemente inaugurou a exposição “Duzentos”, com o objetivo de mostrar a história e a formação da cidade, evidenciando principalmente os aspectos locais e regionais. 

A exposição conta com diversos espaços e elementos que mostram a diversidade da cidade, além de ressaltar a importância de cada fragmento na formação do município. A mostra conta com objetos fundamentais na história da cidade: um exemplo é a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).  A instituição possui um papel significativo para o desenvolvimento de Ponta Grossa em diversas áreas, desempenhando uma função crucial na formação de profissionais através dos cursos de graduação e pós-graduação.  

Outra característica muito forte na cidade é a comunicação, que na exibição é representada por equipamentos cinematográficos antigos da RPC, afiliada da rede Globo no estado. Há também materiais do Diário dos Campos, o jornal impresso mais antigo da cidade, criado em 1907, sendo atualmente o maior em circulação na região. Além de também contar com discos da Rádio Clube Pontagrossense, a rádio mais antiga em atividade no Paraná.  

A Ponta Grossa que tem o amor pelo time local, o Operário Ferroviário, também é representada no salão do MCG. Ao longo de tantos anos a história do clube esteve relacionada de forma direta com a história da cidade. Na mostra estão expostas fotos das primeiras equipes, troféus importantes para o clube, como a primeira taça conquistada pelo time em 1916, títulos conquistados na Série D (2017) e Série C (2018) do Campeonato Brasileiro, além da bola que levou o time à vitória no Campeonato Paranaense de 2015.   

A diversidade da cidade também é retratada a partir das diferentes religiões praticadas, como o catolicismo, as macumbas do candomblé e a umbanda, e da pluralidade cultural. Na mostra, a presença dos sírios, libaneses e árabes é retratada, com suas tradições culinárias, culturais e religiosas.

A cultura também é representada, através da banda Lyra dos Campos, banda marcial com mais de 70 anos na cidade e que já ajudou na formação musical de mais de 700 músicos. A influência do hip hop também é mostrada, com elementos característicos da arte da cidade, destacando o grafite e o skate. 

A exposição revela uma Ponta Grossa que não está nos livros de história, com figuras e nomes importantes que não viraram monumentos e nem nomes de rua. A história desses duzentos anos é resgatada conjuntamente com as memórias mais recentes da cidade.IMG 2061

 

Ficha técnica:

Reportagem: Vanessa Galvão

Edição: Heloisa Ribas Bida e Carolina Olegário

Publicação: Heloisa Ribas Bida

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação:  Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos

Arroio Pilão de Pedra

 

Em Ponta Grossa, as famílias enfrentam problemas estruturais e lixo nas proximidades de suas casas

 

De acordo com dados da Fundação João Pinheiro, de 2019, mais de 5,8 milhões de moradias brasileiras encontram-se às margens de córregos. Essa é uma realidade das famílias do arroio Pilão de Pedra, em Ponta Grossa. Com mais de oito quilômetros quadrados de abrangência, o riacho atravessa a cidade, com o curso d'água do Centro até o bairro Neves.  Quem mora na região enfrenta condições precárias de moradia, tais como a dificuldade de acesso e risco de deslizamento em suas residências. Um dos principais problemas da cidade é a urbanização desigual e a ocupação irregular  dessas margens. 

Diante destas situações, o termo déficit habitacional é a definição apropriada para se referir ao número de famílias residentes nessas condições precárias pelo país. A maior parte deste índice é produto da urbanização não planejada das cidades e da carência de políticas públicas habitacionais para atender as famílias. De acordo com a geógrafa, Karin Linete Hornes, a instalação de moradias às margens dos arroios acompanhou o movimento de urbanização de Ponta Grossa. Visto que, ao longo deste processo, a canalização da água e esgoto demorou para acontecer. 

“O motivo da população ter sido instalada próximo aos arroios atualmente, deve-se a incompetência, má gestão pública e a interesses de especulação imobiliária”, revela Karin. Ela ressalta que estas habitações são um reflexo da desigualdade social e despreocupação com os cidadãos. “Acontece que nem todos possuem condições financeiras adequadas para adquirir moradias dignas, por isso acabam se apropriando de áreas de risco, principalmente estas próximas aos arroios”, completa. 

Sobre as construções de moradias às margens dos arroios, o Engenheiro Civil e Pós Doutor em Engenharia Sanitária Ambiental, Guilherme Vuitik, compreende que as famílias instaladas nestas regiões são vítimas do mau  planejamento urbano da cidade. O engenheiro, expõe que este processo de urbanização da cidade sem um projeto, colabora para impermeabilização do solo - processo que auxilia para a vazão de água nos arroios se intensificar. Isso se dá pelo fato de que, em períodos chuvosos, a água deixa de realizar seu ciclo completo até chegar aos arroios, sobrecarregando o sistema de vazão dos córregos. 

Outro problema que afeta o escoamento das águas pluviais é a presença de resíduos sólidos irregulares ao longo do curso dos arroios. De acordo com a Doutora em Engenharia Civil na área de Hidráulica e Saneamento, Maria Magdalena Doll, a presença de lixo nestas regiões aliada as ligação de esgotos irregulares, colabora para que os moradores identifiquem o arroio como um “esgoto”. Além disso, ela ainda explica que a sobrecarga na vazão se dá pelo entupimento dos cursos de água devido a ação humana, o que ocasiona no aumento dos níveis do arroio em algumas regiões. 

Para o professor e chefe do Departamento de Engenharia Civil da UEPG, Carlos Emmanuel Lautenschläger, as construções próximas aos cursos d’água devem ser avaliadas com critérios técnicos antes de serem edificados, considerando as especificidades do local. Ele esclarece que os fluxos dos arroios podem gerar alterações no comportamento do solo, bem como, nos casos de terrenos mais inclinados, as construções podem ser prejudicadas devido à instabilidade. 

 

Moradores

Com problemas no relevo local, os moradores do arroio tentam desviar das complicações  "secundárias" de infraestrutura, como rachaduras nas paredes e deslizamentos. Moradora há quarenta anos na região, a dona de casa, Suzana de Moraes, conta que o arroio consumiu seu terreno ao longo do tempo. No espaço em que ficava seu quintal o solo e as árvores foram levados pela água. Ela relata que sua casa também tem problemas estruturais, como rachaduras e umidade. Além disso, a proprietária revela que o terreno sofre instabilidades o que impossibilita a construção de muros na frente da casa. “Nem compensa reformar, porque daqui uns anos o arroio chega aqui”, lamenta. 

Nas proximidades da casa de Suzana, a presença de lixo também é um fator agravante na precarização dessa região. “Vem gente e joga sacoladas de lixo aqui no esgoto, é um absurdo”, revela a dona de casa. Outro fator recorrente na fala dos habitantes refere-se à presença de resíduos sólidos, tanto na água, quanto nas margens do arroio. De acordo com Márcia Regina Cilian, moradora da região há mais de vinte anos, o córrego passou a ser considerado um esgoto pela população local, devido a presença de muito lixo e sujeira nas águas, colaborando para que haja uma inundação. 

As dificuldades de acessos às próprias casas, também são enfrentadas pelos moradores próximos ao Pilão de Pedra. Para conseguir chegar em casa, o motorista Marcos Willian precisa atravessar a pé pela estreita ponte construída pela prefeitura em cima do arroio. Durante o período de chuvas, a instalação precisou ser refeita, pois a água arrastou a travessia, o que obrigou o morador a erguer outra alternativa de acesso para sua casa. Marcos também explica que o barracão ao lado de sua casa tem rachaduras tanto na estrutura quanto no solo e confirma que a presença do arroio esteja influenciando nesta situação. 

A dona de casa Márcia Regina Cilian, revela que ela e sua família moram em casas suspensas nos barrancos acima do arroio Pilão de Pedra. Ela conta que sua casa possui os mesmos problemas que a residência de Marcos. Ainda assim, comenta que, graças às árvores ao entorno do terreno, as estruturas têm mais sustentação para não deslizarem o morro abaixo. 

Por ter vivido a infância nos arredores do arroio, Márcia tem memórias do local e das antigas características do espaço. A dona de casa aponta locais nos barrancos onde havia casas que foram levadas pelo arroio, devido a deslizamentos e problemas no solo. Além disso, lembrou do caso que ocorreu há aproximadamente dois anos, onde uma diarista que trabalhava na vizinhança, foi vítima das enchentes causadas pelo córrego. A mulher foi levada pela água após salvar a vida de uma criança.  

 

 

Foto e vídeo: Larissa Del Pozo

Ficha técnica
Reportagem: Larissa Del Pozo
Edição: Julia Andrade e Vanessa Galvão
Publicação: Vanessa Galvão 

Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos

Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos 

 

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