Túmulos chamam a atenção de pesquisadores por indicar questões sociais

 

“O cemitério é feito para quem? Os túmulos são feitos para quem?” São questionamentos que o historiador Bruno Sanches levanta sobre as necrópoles, locais destinados à última morada. Os cemitérios são obra dos vivos e, por isso, reproduzem seus hábitos, crenças, classes e problemáticas. Sanches realizou estudo sobre os espaços para a especialização em Patrimônio e História e diz que novos olhares podem ser feitos a partir de diferentes áreas de conhecimento. 

A questão religiosa também é marcante na estrutura de composição dos cemitérios, além da presença dos “santos populares” que reforçam as manifestações de fé. “É uma forma de expressão religiosa que vai se combinando com qualquer coisa, sem ser uma igreja específica.”, aponta o pesquisador.

As mensagens que estampam os túmulos, os chamados epitáfios, também podem ser analisados por uma ótica social. Não são apenas mensagens de saudade e lembrança, mas podem transparecer a influência e poder da pessoa quando viva. “São sempre textos elogiosos, é um discurso repetido. Mostra que aqueles que formulam os epitáfios se preocupam com a memória dos que morreram”, diz. Quanto à memória, ele destaca que há uma preocupação com status. Não raro, os títulos, diplomas e outras honrarias compõem os epitáfios. “Quem ocupa posição de destaque enquanto vive, ocupa quando morre também”, pontua Sanches. 

Além de tudo isso, a arquitetura dos túmulos e mausoléus - as tumbas de destaque para figuras notáveis de uma comunidade - são sintomas da distinção social póstuma, de acordo com o professor. Podem ser feitos túmulos com estátuas, elementos da cidade e até de casas, como se a pessoa fosse para sempre descansar na sala de sua residência. A construção desses monumentos, de acordo com ele, relaciona-se ao aspecto de fabricar a imagem da pessoa morta à sociedade, e familiares e amigos. Neste caso, se preocupam com essa aparência. 

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Arquitetura dos túmulos e mensagens dos epitáfios despertam atenção na cidade. | Foto: Cassiana Tozati

Em relação ao Cemitério Municipal Ponta Grossa, o historiador acredita que sua presença, no centro, parece uma provocação. “As pessoas são forçadas a pensar sobre a vida e a morte. Além disso, o cemitério é um campo de memória.” Para ele, apesar de estudos sobre prejuízos ambientais causados pelos cemitérios, e do espaço que a cremação tem ganhado, é quase impossível tirar um cemitério do lugar. “Os cemitérios são elementos de formação da identidade coletiva”, comenta. 

Mudanças

Apesar da dificuldade de mover um cemitério, o feito fez parte da história de Ponta Grossa. A arquiteta Cristina Schilder explica que o Cemitério Municipal São José, no centro de Ponta Grossa, antes se localizava na Praça dos Polacos, há aproximadamente 300 metros do atual local. “No final do século XIX, o cemitério, que estava no centro, foi transferido para a periferia, como forma de higienizar a cidade com a onda de modernidade da Belle Époque”, informa.

Com o crescimento da cidade, o cemitério volta a se localizar no novo centro da cidade, onde permanece. Devido a essa mudança, encontraram ossos durante a época da revitalização da avenida Vicente Machado. Schilder explica que não foi possível transportar todos os ossos, e alguns permanecem no antigo local.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati

Edição e publicação: Leriany Barbosa e Maria Helena Denck 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli

Levantamento baseado em números da Pnad Contínua revela aumento de mais de 400 mil trabalhadores nos dois últimos trimestres

Sobre-educados: é o termo utilizado para se referir a profissionais que possuem qualificação maior que a exigida para o cargo que ocupam. No Brasil, uma pesquisa realizada pela consultoria IDados, publicada no Valor Econômico, baseada em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), revelou que entre janeiro e junho deste ano, a quantidade de trabalhadores e trabalhadoras nessas condições aumentou em 478,9 mil, atingindo a marca de 4,9 milhões de profissionais.

Segundo o professor do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Temidayo James Aransiola, o desemprego obriga o profissional a não fazer grandes exigências, quanto ao tipo de vaga para ser contratado, ou corre o risco de permanecer desempregado. O professor explica que o mercado exige praticidade, independentemente da existência de diploma. "Essa exigência, principalmente do setor privado, faz com que pessoas com uma elevada escolaridade ocupem vagas que só exigem conhecimentos básicos e técnicos”. 

Aransiola alerta para o risco de exploração que pode resultar desse cenário. "Quem está contratando, em vez de abrir uma vaga de ensino superior, abre duas vagas para técnico, e então há a possibilidade de pagar um pouco menos. O setor privado está aproveitando esse excesso de mão-de-obra", comentou. 

 

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Para saírem do desemprego, trabalhadores com nível superior procuram vagas sem essa exigência  / Foto: Hygor Leonardo

O seguro desemprego de Camila Aparecida Ferreira estava no final quando foi contratada para trabalhar em uma loja. A administradora formada revela que aceitou a vaga porque os horários se encaixam em sua rotina. Antes, Camila só havia trabalhado com carteira assinada, em uma panificadora. Fora isso, realizou diversas atividades informais ao longo da sua caminhada profissional. 

Ela lamenta a baixa quantidade de empresas que dão oportunidade a profissionais inexperientes, e destaca que a demora para atuar na área de formação pode fazer com que o que se aprende na faculdade seja esquecido. "É claro que, quando você chegar a trabalhar na área, vai lembrar de algumas coisas, mas é diferente de terminar [o curso] ou estar estudando e já trabalhar; você acaba unindo os dois: o que está aprendendo com o próprio trabalho", comentou. 

Camila acredita que as empresas deveriam dar mais oportunidades para os recém-formados. Menciona também o excesso de pessoas em determinados setores, como o da administração. "Como há muitas pessoas com essa formação, muitos acabam não conseguindo colocação no mercado. Além disso, em empresas pequenas, geralmente quem administra é o proprietário; ele não vai contratar um administrador", opinou. Mesmo trabalhando fora de sua área de formação, a atendente iniciou uma pós-graduação, e espera poder ampliar suas possibilidades no setor em que se formou.

Quem também está trabalhando fora da área em que se formou é o consultor de vendas Vagner Cordeiro da Silva. Apesar do desvio de função, ele se considera satisfeito com a atual ocupação, por oferecer boa rentabilidade e oportunidade de contato com o público. Vagner explica que o salário inicial para Análise e Desenvolvimento de Sistemas é de R$ 1400,00. "O início é sempre difícil. O salário baixo não supre as necessidades. Eu tenho uma filha pequena, não tem como deixar minha esposa cuidando e trabalhar com uma renda baixa”, finalizou. 

 

Ficha técnica:

Reportagem: Carolina Olegário

Edição e publicação: Gabriel Mendes e Lilian Magalhães 

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli

 

Pesquisa mostra que consumo de marmitas aumentou 41% no país

 

Os últimos dois anos trouxeram mudanças significativas nos hábitos alimentares da população, seja devido a crise econômica ou pela  busca por hábitos saudáveis, e com isso, o consumo de marmitas aumentou. Conforme pesquisa realizada pela Fispal Food Service, aproximadamente 42% dos entrevistados afirmam que começaram a consumir marmitas. Os principais motivos são: preço dos alimentos (57%),alimentação saudável (28%) e falta de tempo (37%). Já a pesquisa Global Consumer Insights mostra que 55% dos brasileiros pagam mais por opções saudáveis de alimentação, valor que é 2% superior à média mundial.

 

Marmitas

Preparo de marmitas é uma opção para quem busca maior rapidez no dia a dia. | Crédito: Ricardo Tesseroli

 

A cerca de seis meses, Maritza Vollero faz marmitas para consumo próprio visando uma reeducação alimentar e, ao notar que é uma opção mais prática para o dia a dia corrido da faculdade, continuou com o preparo das refeições. “As minhas marmitas são pesadas e montadas com a quantia certa de cada alimento, seguindo as orientações da minha nutricionista”. Maritza diz que o hábito facilita a própria rotina e dos familiares, que agora também montam marmitas para levar ao trabalho.

Em uma tentativa de manter a dieta, Lisiane Ribas começou a preparar marmitas há quatro meses como opção para ajudar no processo de emagrecimento e também por economia. “Minha rotina é corrida e, quando não dava tempo de preparar uma refeição saudável, acabava recorrendo a alimentos gordurosos”. Com o novo hábito, Lisiane afirma que ela e sua família conseguem ter uma alimentação saudável mesmo com a agitação do dia a dia. “Com certeza é uma opção excelente, já que compensa bem mais do que comer em restaurantes, principalmente por conta dos valores”, ressalta.

Segundo a nutricionista Priscila Schlosser, as marmitas são uma opção mais prática e barata para quem busca uma rotina saudável. “Para o preparo da marmita é necessário buscar um equilíbrio entre os nutrientes, sempre montando pratos coloridos”. Ela afirma que metade da marmita deve ser preparada com salada e legumes, pois a densidade energética baixa desses alimentos promovem um alto nível de saciedade e vitaminas. Já a outra parte deve ser dividida em um quarto de carboidratos, – cereais, tubérculos, massas – priorizando o que é integral, e um quarto de proteína animal e vegetal, optando por carnes magras e evitando alimentos fritos.

A nutricionista ressalta que para vegetarianos e veganos, a dose de proteína vegetal deve ser maior. “É preciso consumir grandes quantidades de feijão, lentilha, soja, ou seja, leguminosas no geral”. Por fim, ela chama atenção para a necessidade de manter os exames em dia e acompanhar os níveis de vitamina B12 no sangue.

 

Armazenamento

Priscila dá dicas para armazenagem correta dos alimentos. Ela explica que as marmitas podem ficar até 48 horas na geladeira, e se a intenção for cozinhar para a semana toda, é necessário deixá-las no congelador. “Quando for descongelar, o ideal é passar para a geladeira um dia antes, já que descongelar em temperatura ambiente ocasiona alta proliferação de bactérias”. Os legumes devem ser preparados no processo chamado de “branqueamento”, que consiste em cozinhá-los em água fervente por um ou dois minutos, e logo após colocá-los em uma bacia com gelo. “Repetir esse processo algumas vezes evita que os legumes soltem água quando descongelados, o que os faz não murchar.”

A nutricionista afirma que o ideal é usar potes de vidro por serem mais higiênicos e seguros que os de plástico. “Se possível utilizar potes herméticos já que conservam melhor a consistência do alimento, pois entra menos ar no recipiente”, finaliza.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Eduarda Guimarães

Edição e publicação: Ana Barbato

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli

Projeto Mamãe: braço da CUFA e ajuda em média 55 gestantes em PG

 

O Projeto Mamãe é uma extensão da Central Única das Favelas (CUFA) que ajuda mães e bebês que vivem na periferia de Ponta Grossa. Atualmente atende cerca de 50 gestantes por mês, de diferentes localidades da cidade. As beneficiadas recebem um kit completo com lenço umedecido, fraldas, roupinhas para os recém-nascidos, paninhos, cueiros e demais itens, duas vezes ao mês, também encaminha as gestantes a consultas médicas, pré-natal e exames necessários. A iniciativa também ensina cuidados com recém-nascidos, técnicas de amamentação, entre outras atividades. 

Josiane Aparecida Pereira é a fundadora e a atual coordenadora, ela e sua filha deram início ao Mamãe em fevereiro de 2021, após o nascimento prematuro do neto de Josiane. Durante o tempo que passaram na UTI, descobriram outras mães que precisavam de ajuda durante o início da maternidade. Ela conta como começou a iniciativa. "Eu já fazia parte da CUFA, e quando estava na UTI com a minha filha, algumas mães me pediram ajuda. Conseguimos doações e veio na  cabeça: porque não ajudar mais mulheres que precisam? Assim, entrei em contato com a CUFA e decidimos criar um grupo que tornou-se o Projeto Mamãe.” 

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Projeto entrega kits com roupas, fraldas e outros itens. Foto: Kadu Mendes

 

Débora Isabela conheceu o Projeto Mamãe por intermédio de amigas que já o frequentavam, e relataram o auxílio que recebiam. Ela tem cinco filhos e conta que aprendeu cuidados básicos somente quando era mãe do quinto, após ter contato com o Projeto. “Sou mãe de cinco e não tinha conhecimento de muitas coisas, sobre amamentação e como desafogar um bebê, por exemplo. De todas as minhas gestações é a melhor assistência que tive. Para mim, foi muito importante. Tive meu último filho na pandemia e receber o kit nesse período foi honroso”, relata a mãe.

O Projeto Mamãe aceita e precisa de doações. Elas podem ser encaminhadas por pix pelo CPF 054.653.139-35. O projeto ainda aceita doações de produtos. Médicos e empresas da área da saúde podem colaborar com serviços como consultas e exames. O contato com o Projeto Mamãe é por meio do telefone  (42) 9 9919-2740.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Maria Eduarda Eurich

Edição e publicação: Maria Helena Denck

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli

Pesquisa sofreu atraso de dois anos devido à pandemia 

 

O Censo Demográfico, realizado a cada dez anos no Brasil, é um levantamento estatístico sobre a condição de vida da população. A pesquisa é feita através de questionários aplicados a todos que residem em território nacional e busca catalogar dados relacionados ao número de habitantes do Brasil, escolaridade, emprego, renda, saneamento, saúde, entre outros. Essas informações auxiliam na criação de políticas públicas de desenvolvimento social e na tomada de decisões de investimentos, da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo, além de dar um panorama quanto a realidade e situação no país. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela execução do Censo, a pesquisa é um das principais fontes de referência sobre a situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos, como distritos, bairros e localidades, rurais ou urbanas, cujas realidades dependem de seus resultados para serem conhecidas e terem seus dados atualizados. 

O Censo, que teve sua última edição em 2010, deveria ter acontecido no ano de 2020, porém, por conta da pandemia e falta de recursos, foi adiado em dois anos. De acordo com  o chefe da agência do IBGE em Ponta Grossa, Henry Mazer, 46, o grande problema gerado pelo adiamento diz respeito às políticas municipais, principalmente de assistência e desenvolvimento social, que padecem com dados desatualizados.  

Outro problema apontado por Mazer é em relação ao tamanho dos questionários, que diminuíram devido a cortes no orçamento. “Essa diminuição aconteceu porque recebemos menos dinheiro para pagar os recenseadores, consequentemente os formulários precisaram ser mais curtos para dar tempo de coletar as respostas em todo o país no prazo estabelecido”, relata. Para este Censo, somente em Ponta Grossa, 200 recenseadores e 35 supervisores trabalham em busca dos dados locais. 

Maria Ivete Emiliano Rosa, 59, respondeu o Censo e notou as mudanças nas questões durante a entrevista. “Achei que dessa vez as perguntas estavam mais simples e acho que por conta disso este Censo não será tão completo, como foi nos anos anteriores, e sabemos que isso afeta a população”, afirma Maria.

IBGE PONTA GROSSAEm Ponta Grossa, 200 recenseadores e 35 supervisores trabalham em busca dos dados locais. | Foto: Google 'Street view'.

Resistência e desinformação 

A agente censitária supervisora, Cristina da Silva, 55, conta que, neste ano, as pessoas estão muito relutantes em atender os recenseadores e responder o questionário. “Alegam que não serve de nada ou que é politicagem. A grande maioria da população não tem conhecimento da importância, até mesmo os jovens”, lamentou. 

Cristina relata que a resistência em participar da contagem populacional independe da classe social e é motivada principalmente pela desconfiança do que será feito com as informações fornecidas. “A recusa existe e independe da condição econômica, mas estamos trabalhando com o objetivo de alcançar a meta dentro da expectativa populacional, e aí sim encerraremos este Censo”, aponta Cristina. 

Em relação a confidencialidade do Censo, o chefe do escritório regional do IBGE destaca que o sigilo dos dados é absoluto. “Os dados divulgados dizem respeito somente a números regionais, nunca nunca de cada casa ou pessoa. Além do recenseador ninguém mais fica sabendo o que cada pessoa respondeu”, esclareceu.  

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Moraes

Edição e publicação: Tamires Limurci

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Ricardo Tesseroli