Mudança nos horários de atendimento público devido à Copa preocupam população

Escolas, limpeza pública e transporte coletivo terão expedientes alternados em dias de jogo da seleção

 

Os horários de funcionamento de diversos serviços são alterados em decorrência dos jogos do Brasil na Copa do Mundo de Futebol. Essa mudança preocupa a parte da população, que alega que isso pode gerar problemas na rotina de trabalho e escola. Para o autônomo Sandro Resende, o horário escolar é o maior problema: “No horário de aula as crianças serão dispensadas. Minha mulher e eu não iremos ter folga nos jogos do Brasil. Não sei com quem deixar minhas filhas”. 

 

As escolas municipais, transporte coletivo, limpeza pública e atendimentos na própria prefeitura, por exemplo, terão horários diferenciados: para jogos às 13h, o expediente é entre 08h até às 12h; e no caso de jogos às 16h, o expediente fica entre 08h e 14h. Caso o Brasil se classifique para as fases finais, há a possibilidade da seleção jogar ao meio-dia e o expediente será das 07h30 às 11h30. Para Sandro Resende, pai de duas filhas, os novos horários prejudicam a rotina da família. “Minha mulher e eu não iremos ter folga nos jogos do Brasil. Não sei com quem deixar minhas filhas”. A regra não se aplica a serviços essenciais como segurança pública e saúde com regras próprias de escala e de horários.

 

O eletricista Marlon Ribeiro, explica que trabalhar em dias de jogo do Brasil é lucrativo, pois sempre acontecem problemas com a energia elétrica da casa ou com o próprio aparelho de televisão. No entanto, ele acredita “que seria mais conveniente colocar televisores em locais públicos do que mudar os horários”. 


Segundo Diário Oficial, a reposição do tempo parado deve acontecer até o final de maio de 2023. De acordo com a prefeitura, em nota enviada à imprensa, o objetivo do decreto é “prestigiar os servidores municipais, de modo a terem a oportunidade de torcerem pela seleção brasileira”. Após a participação da seleção na Copa do Mundo, os horários de funcionamento do serviço público voltam à normalidade.

 

Ficha técnica

Reportagem: Kadu Mendes

Edição e publicação: Heryvelton Martins

Supervisão de produção: Muriel E. P. do Amaral 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Marcelo Bronosky 

Entre panelas, fraldas e livros, mães se desdobram para conquistar um diploma

Conheça as histórias e dificuldades de mães no Ensino Superior

Mães estudantes cuidam dos filhos ao mesmo tempo que fazem os trabalhos da faculdade | Foto: Arquivo pessoal de Nayara dos Anjos

Trabalhar, limpar a casa, preparar comida, cuidar dos filhos: esta é a rotina fora da graduação que muitas mães enfrentam, para além das atividades que os cursos superiores demandam. Embora para muitos essa realidade seja admirável, considerada o reflexo de uma "super mulher", quem a vive encontra na dupla jornada de trabalho sobrecargas que dificultam uma maior dedicação em setores como a educação. 

Segundo a PNAD - Contínua Educação (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua), de 2019, a cada quatro mulheres entre 14 e 29 anos que abandonaram os estudos, uma deixou para trabalhar (23%), uma por desinteresse (24%) e uma por gravidez (24%). Dados de 2021, obtidos por mapeamento realizado pela UEPG, apontam que um a cada quatro estudantes já precisou desistir ou trancar o curso devido a maternidade/paternidade. 

A estudante do 4º ano de História da UEPG, Nayara dos Anjos, 22 anos, apesar da maternidade, continua em busca do diploma. Para ela, se formar é a garantia de futuro melhor. “Não quero ter que depender de ninguém financeiramente, penso no Pedro [seu filho] e isso me ajuda a continuar. Alguns colegas mais próximos me aconselham, então, sempre que penso em desistir tento aguentar mais uma semana e assim vai indo”, conta Nayara.

A acadêmica descobriu a gravidez em maio de 2020, durante a pandemia, quando estava com quase dois meses de gestação. “Achei que fosse impossível continuar, pois seria muito difícil depois que ele nascesse”.

A estudante relata que sofreu discriminação por parte de algumas professores e colegas da universidade, pela gravidez. Conforme Nayara, alguns a motivaram, mas outros falavam que ela era muito nova e assim, deixavam nas entrelinhas que a partir dali não iria fazer mais nada da vida. 

Atualmente, a atividade acadêmica é muito acelerada. Sua rotina diária compreende acordar cedo, preparar o café da manhã e depois o almoço. Entre uma tarefa e outra, atende o filho e arruma a casa. Pela tarde, a criança dorme e ela aproveita para fazer as atividades da faculdade e conciliar isso com as pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Evidente que não consigo dar conta. Me sinto constantemente atrasada, que deveria estudar mais, entregar o TCC logo. Mesmo sem trabalhar fora, ao fim do dia, sinto um cansaço enorme, às vezes me pego fazendo três, quatro coisas ao mesmo tempo. Tem dias que não tenho forças para fazer nada, então só tento manter o Pedro bem cuidado”, ressalta. 

Outra graduanda que se tornou mãe foi Maria Fernanda Oliveira, de 21 anos. Soube que estava grávida em outubro do ano passado, quando estava no 6º período do curso de Direito do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (Cescage). Neste ano retornou para a casa dos pais, em Jaguariaíva-PR, para ter ajuda nos cuidados com o bebê e poder se dedicar aos estudos. Quanto à graduação, também transferiu o curso para a cidade natal.

“Quando meu filho dorme tenho tempo para estudar e fazer os trabalhos, mas confesso que não é fácil. Um bebê demanda muito da mãe”, afirma. Para ela, a graduação se tornou uma “obrigação”, mas o que a motiva a finalizar é o filho.

Jessica Campos, 28 anos, atualmente é analista e mãe de dois filhos: um de nove anos e outro de quatro meses. Formada em Engenharia Química pela UTFPR/PG, Jéssica descobriu a primeira gravidez no segundo ano do curso. Para a estudante foi difícil à época, pois não pode participar do programa de internacionalização Ciência Sem Fronteiras como vários colegas. “Pela idade e por todo o contexto me sentia perdendo oportunidades e uma fase da minha vida”.

Jessica foi uma das primeiras alunas grávidas dos cursos integrais na instituição. Na graduação a identificavam como “Jessica grávida”, e após o nascimento da criança, era chamada de “Jessica mãe”, até o fim do curso ficou conhecida assim.

A analista lembra que voltou à faculdade quando o filho completou cinco meses e o levava junto para as aulas. Como o bebê ainda mamava era inviável ir para faculdade e depois voltar até a casa apenas para amamentar, então sua irmã mais nova ia junto para ajudar a cuidar dele. Alguns meses depois, Jessica conseguiu matriculá-lo num Cmei integral. “Foram algumas noites em claro. Eu cuidava do meu filho doente e estudava para as semanas de prova.  Posso dizer que me formar foi um desafio até o último segundo”, enfatiza.

Maria Eduarda Solano Baptista, 21 anos, estudante de Serviço Social na UEPG, engravidou aos 17 anos, no 3º ano do ensino médio. Ela já estava com oito meses de gestação quando prestou vestibular na UEPG. “Minha filha nasceu um dia após o resultado do vestibular. Quando ela estava com apenas dois meses tive que parar de amamentar para ir às aulas. Foi uma dor enorme deixar ela por conta da universidade”, explica. 

Durante o ensino médio Maria Eduarda sofreu muito preconceito por estar grávida. Mas a realidade foi outra quando entrou na universidade, porque nesse espaço foi muito acolhida. Assim como Jessica Campos, também teve que levar a filha para algumas aulas. Segundo dados do mapeamento de pais e mães realizado pela UEPG, mais de um terço (36%) dos respondentes já precisaram levar os filhos para a universidade.

Maria relata que, na pandemia, teve muitas dificuldades já que morava com a mãe. Para que pudesse assistir às aulas online, ela precisava que sua mãe a ajudasse no cuidado com a bebê, o que não acontecia. No segundo ano da pandemia, Maria foi morar com o pai da criança. Segundo ela, tudo só piorou, já que ele não a ajudava e assim a rotina universitária se perdeu.  

Em 2022, com o retorno das aulas presenciais, Maria voltou a morar com a mãe. Como não tem condições de pagar uma babá e a filha não foi aceita no CMEI, é sua mãe quem fica com a criança. Agora está no 3º ano da faculdade, faz estágio obrigatório e participa de projeto de extensão, então passa a semana toda na universidade das 7h às 17:30. “É difícil demais pra mim, eu sinto muita falta da minha filha, mas sei que preciso disso pra dar um futuro estruturado para ela”.

Beatriz Cardoso Dias, 23 anos, é mãe e esteticista. Ela estava namorando há oito meses quando ficou grávida, no mesmo período em que pediu demissão do emprego que estava. Beatriz entrou em desespero, já que estava no 1º ano da faculdade. 

Durante as provas de junho, mês de nascimento de sua filha, Beatriz não conseguiu realizar as avaliações e ficou retida. “Eu me senti muito mal com tudo aquilo, a faculdade era meu sonho. Não consegui fazer nenhuma atividade ou trabalho para compensar a nota e quando retornei da licença maternidade tive que fazer as provas de dois semestres de uma só vez”, explica. 

Quem ficava com a criança para Beatriz ir às aulas era sua sogra. Algumas vezes também teve que levar a filha para as aulas. A esteticista conta que na pandemia, ela, a filha e o marido ficaram em casa e que se sentia sobrecarregada. Para ela, a faculdade muitas vezes era um refúgio e que lá sentia-se jovem: “como uma menina de 21 anos e não uma dona de casa”. O apoio dos pais foi o que a impulsionou a terminar a faculdade. 

A estudante de Engenharia Química na UTFPR/PG, Natália Gruczka, ficou grávida no final do ano passado, no segundo período do curso, onde as atividades eram 100% on-line devido a pandemia. A gravidez foi planejada.

Com a volta do ensino presencial sofreu preconceito de alguns professores de disciplinas que eram realizadas em laboratórios, porque, segundo eles, era inviável que uma gestante fosse a essas aulas. “Diante disso, procurei ajuda com as assistentes sociais e psicólogas, e elas conversaram com esses professores. Parte do laboratório fez à distância. Outros professores foram acolhedores e me deixaram fazer aulas práticas com mais supervisão e cuidado quando haviam reagentes mais fortes. Os colegas também me ajudaram”.

O bebê nasceu há pouco tempo e ainda não completou um mês, então ela está nas funções de mãe e dona de casa. Natália pensa em trancar o curso porque a licença concedida é de apenas três meses, o que considera pouco tempo para poder deixar a criança em casa.

“Além de trancar a faculdade, penso em mudar de curso porque não me identifiquei com a engenharia. Os professores cobram demais a ponto de eu saber que não vou conseguir conciliar filho e faculdade, já senti isso quando entrei na graduação e trabalhava”, explica.

A Lei 6.202, de 1975, regulamenta o regime domiciliar para estudantes, e garante um afastamento de três meses, a partir do oitavo mês de gravidez. O período de afastamento, é determinado por atestado médico. A licença-maternidade também não garante, por exemplo, abono de faltas.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Ana Moraes

Edição e publicação: Kadu Mendes

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli 

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Engel Bronosky e Ricardo Tesseroli

Associações estudantis arrecadam donativos para ONGs de PG

Alimentos, agasalhos e outros produtos arrecadados são destinados a pessoas em situação de vulnerabilidade.

O Centro Acadêmico de Engenharia de Materiais (Caem) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) iniciou uma campanha no final deste mês para arrecadar doces que serão distribuídos a crianças da ONG Associação Reviver no Natal. Ao longo do ano, outras ações envolveram estudantes de diferentes cursos universitários e suas agremiações.

Josiane Borcz, integrante da Caem, diz que esta é a segunda arrecadação feita neste ano. Ela conta que na primeira ação, realizada em abril, foram arrecadados R$85,00, além de doces, para organizar kits que foram distribuídos às crianças na Páscoa. "Foi bem satisfatório porque eu lembro que todas as crianças ganharam doces e até sobraram alguns pacotinhos", afirma. 

Para Josiane, a realização do projeto foi marcante por conta da interação das crianças. "Algo que me marcou muito é que todas as crianças e adolescentes quiseram participar das brincadeiras que fizemos. Foi uma experiência muito engrandecedora que me fez perceber que as coisas simples, como atenção e carinho, continuam sendo as mais importantes", conta.

O centro acadêmico ainda não encerrou as arrecadações da ação em andamento. Para doar, interessados podem fazer a transferência de qualquer valor via Pix pela chave 334545910001 (CNPJ) ou diretamente na sede da instituição que está localizada no campus da UEPG, em Uvaranas. 

 

Agasalhos 

Associações atléticas da UEPG também fizeram arrecadações ao longo do ano. A atlética VI de Novembro, que reúne acadêmicos dos cursos de Administração, Comércio Exterior, Contábeis e Economia, e a AAJ Coringaço, do curso de Jornalismo, realizaram a campanha “Seu calor, meu agasalho - sua generosidade aquecendo corações” durante o mês de junho, com o objetivo de arrecadar agasalhos para o período de inverno em Ponta Grossa. 

Caixa de doação, agasalhos

Ponto de coleta de agasalhos no bloco A da UEPG. / Foto: Janaina Cassol

O setor social da VI de Novembro possui duas diretoras: Isabella John, estudante de Comércio Exterior e Thaysa Bueno, de Administração. Thaysa explica como foi o trabalho de arrecadação. “Junto com o Bruno Artero, do projeto social Reinventa, as duas atléticas deixaram caixas de coleta em dois pontos: um no bloco A e outro no bloco C da UEPG Central”, relata. As doações foram entregues à Ocupação Ericson John Duarte e à Instituição Social Cáritas. 

A atlética VI de Novembro, conta Thaysa, também fez arrecadação de alimentos em seletivas de preparação para os Jogos Inter Atléticas, o JOIA. "Foram várias seletivas, tanto feminina, quanto masculina. A diretoria social e a do esporte se uniram nessa ação, e as doações foram entregues à Casa da Acolhida de Ponta Grossa”. 

A estudante ressalta a importância de iniciativas sociais como essa. “Nosso dever é ajudar a melhorar pouco a pouco o mundo. Nesses pequenos projetos que fazemos, conseguimos engajar outras pessoas a ajudar ou também a fazer ações sociais”.

 

Ficha técnica

Reportagem: Vinicius Sampaio

Edição e publicação: Maria Luiza Pontaldi

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli e Marcelo Bronoski

Outubro Rosa: campanha incentiva a realização de exames preventivos

Em Ponta grossa, ações de prevenção contra o câncer de mama e de colo do útero ocorrem de forma gratuita 

O câncer de mama é a causa da morte de milhares de mulheres em todo o Brasil. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 66 mil casos são diagnosticados por ano. Outro tipo de câncer com grande incidência é o de colo do útero. Somente no Paraná, entre janeiro e maio deste ano, foram registrados 13,67 casos positivos para cada 100 mil mulheres. Os dados alertam sobre a importância de realizar os exames preventivos. Tradicionalmente, neste mês, entidades públicas e privadas realizam a campanha Outubro Rosa com atividades para conscientização sobre o tema em todo o país.

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Sede da Rede Feminina de Combate ao Câncer em Ponta Grossa | Foto: Millena Lopata / Foca Foto (UEPG)

Para marcar essa data, a enfermeira do Programa Saúde da Família, Débora Viviane Stadler, comenta que a Prefeitura de Ponta Grossa está realizando ações em empresas e Unidades Básicas de Saúde (UBS). Nas UBSs são ofertados exames preventivos de câncer de colo do útero e a mamografia aos sábados. Interessadas devem realizar um cadastro no site da Prefeitura. O público alvo são mulheres a partir dos 50 anos; em casos de histórico da doença na família, a faixa etária cai para 35 anos. Ao todo, foram disponibilizadas 800 vagas para a realização dos testes, porém a adesão no município está sendo baixa. De acordo com a enfermeira, "isso ocorre pela falta de interesse das mulheres por cuidarem da própria saúde, onde a desculpa é a falta de tempo por conta do trabalho". 

Joselba Hass é paciente oncológica paliativa do tratamento de câncer de mama desde 2016 e coordena o Grupo Gratos, que busca dar apoio a pacientes oncológicos de Palmeira. Para ela, é necessário que as campanhas de prevenção aconteçam durante todo o ano, pois o número de mulheres acometidas pelo câncer de mama e de colo do útero vem crescendo. "É necessário que a mulher se conscientize, que seu amor próprio a leve a ter cuidados com a saúde", declara Joselba. 

Em relação às políticas de saúde direcionadas para mulheres, Joselba comenta que aquelas precisam ocorrer de forma menos burocrática e mais acessível, além de necessitar de maiores investimentos em profissionais da saúde para atender a demanda, "quando fazemos palestras de conscientização ouvimos muitas reclamações sobre filas de espera para realizar mamografias". 

A voluntária da instituição beneficente Rede Feminina de Combate ao Câncer em Ponta Grossa, Alane Guimarães, explica que neste mês, além das ações ofertadas durante o ano inteiro, como a assistência às pacientes e a realização de exames preventivos, a entidade intensificou as palestras. Segundo ela, os exames são oferecidos na Clínica Solidária, entretanto, são beneficiadas mulheres com 40 anos ou mais e renda de até 2 mil reais. Em casos de histórico familiar, o benefício é acessível a partir dos 32 anos. Alane enfatiza que os exames preventivos são realizados por médicos acompanhados por estudantes do curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa e as coletas são enviadas para análise no laboratório da Universidade.

 

Serviço:

Unidades Básicas de Saúde que prestam atendimento para exames em Ponta Grossa:

- UBS Egon Roskamp, no Santa Paula, (42) 3901-1716;

- UBS Cyro de Lima, em Oficinas, (42) 3220-4454;

- UBS Luiz Conrado Mansani, em Uvaranas,(42) 3220-4495;

- UBS Rômulo Pazinato, na Nova Rússia, (42) 3220-4509;

- UBS Sharise Angélica Arruda, no Recanto Verde, (42) 3220-4517.

 

Ficha técnica

Reportagem: Rafaela Koloda

Edição e publicação: Victória Sellares

Supervisão de produção: Ricardo Tesseroli

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Ricardo Tesseroli.

Cemitérios reproduzem cultura local

Túmulos chamam a atenção de pesquisadores por indicar questões sociais

 

“O cemitério é feito para quem? Os túmulos são feitos para quem?” São questionamentos que o historiador Bruno Sanches levanta sobre as necrópoles, locais destinados à última morada. Os cemitérios são obra dos vivos e, por isso, reproduzem seus hábitos, crenças, classes e problemáticas. Sanches realizou estudo sobre os espaços para a especialização em Patrimônio e História e diz que novos olhares podem ser feitos a partir de diferentes áreas de conhecimento. 

A questão religiosa também é marcante na estrutura de composição dos cemitérios, além da presença dos “santos populares” que reforçam as manifestações de fé. “É uma forma de expressão religiosa que vai se combinando com qualquer coisa, sem ser uma igreja específica.”, aponta o pesquisador.

As mensagens que estampam os túmulos, os chamados epitáfios, também podem ser analisados por uma ótica social. Não são apenas mensagens de saudade e lembrança, mas podem transparecer a influência e poder da pessoa quando viva. “São sempre textos elogiosos, é um discurso repetido. Mostra que aqueles que formulam os epitáfios se preocupam com a memória dos que morreram”, diz. Quanto à memória, ele destaca que há uma preocupação com status. Não raro, os títulos, diplomas e outras honrarias compõem os epitáfios. “Quem ocupa posição de destaque enquanto vive, ocupa quando morre também”, pontua Sanches. 

Além de tudo isso, a arquitetura dos túmulos e mausoléus - as tumbas de destaque para figuras notáveis de uma comunidade - são sintomas da distinção social póstuma, de acordo com o professor. Podem ser feitos túmulos com estátuas, elementos da cidade e até de casas, como se a pessoa fosse para sempre descansar na sala de sua residência. A construção desses monumentos, de acordo com ele, relaciona-se ao aspecto de fabricar a imagem da pessoa morta à sociedade, e familiares e amigos. Neste caso, se preocupam com essa aparência. 

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Arquitetura dos túmulos e mensagens dos epitáfios despertam atenção na cidade. | Foto: Cassiana Tozati

Em relação ao Cemitério Municipal Ponta Grossa, o historiador acredita que sua presença, no centro, parece uma provocação. “As pessoas são forçadas a pensar sobre a vida e a morte. Além disso, o cemitério é um campo de memória.” Para ele, apesar de estudos sobre prejuízos ambientais causados pelos cemitérios, e do espaço que a cremação tem ganhado, é quase impossível tirar um cemitério do lugar. “Os cemitérios são elementos de formação da identidade coletiva”, comenta. 

Mudanças

Apesar da dificuldade de mover um cemitério, o feito fez parte da história de Ponta Grossa. A arquiteta Cristina Schilder explica que o Cemitério Municipal São José, no centro de Ponta Grossa, antes se localizava na Praça dos Polacos, há aproximadamente 300 metros do atual local. “No final do século XIX, o cemitério, que estava no centro, foi transferido para a periferia, como forma de higienizar a cidade com a onda de modernidade da Belle Époque”, informa.

Com o crescimento da cidade, o cemitério volta a se localizar no novo centro da cidade, onde permanece. Devido a essa mudança, encontraram ossos durante a época da revitalização da avenida Vicente Machado. Schilder explica que não foi possível transportar todos os ossos, e alguns permanecem no antigo local.

 

Ficha técnica:

Reportagem: Cassiana Tozati

Edição e publicação: Leriany Barbosa e Maria Helena Denck 

Supervisão de produção: Muriel E. P. Amaral

Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira, Marcelo Bronoski e Ricardo Tesseroli