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- Produção: Karen Stinsky
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Em Ponta Grossa, a ação busca conscientizar e fomentar a construção de políticas públicas acerca da saúde mental materna
A Campanha maio furta-cor, realizada desde 2021 na cidade de Ponta Grossa, é uma iniciativa que busca sensibilizar e conscientizar a população a respeito da saúde mental materna. De acordo com o Guia para a integração da saúde mental perinatal em serviços de saúde materno-infantil, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2022, cerca de 20% das mulheres desenvolvem algum transtorno mental após se tornarem mães. Uma em cada cinco desenvolve distúrbios específicos durante a gravidez ou um ano após o parto. Pensamentos suicidas, mutilação, depressão e ansiedade são algumas das consequências desse período em que a saúde mental fica debilitada.
Annelise Moya Teixeira, representante da campanha em Ponta Grossa, informa que os dados da OMS podem ser maiores, devido à falta de detecção, acompanhamento e tratamento dos transtornos na fase perinatal [período que compreende a gravidez, o parto e o puerpério]. “Apesar dos dados disponíveis, ainda existem muitas subnotificações dos casos. Não é realizado o recorte do período crítico da mulher. Normalmente, não é feita essa conexão entre o adoecimento com a gestação próxima”, observa.
Segundo a OMS, a mulher está suscetível a desenvolver transtornos mentais durante a gravidez e no primeiro ano após o parto. No entanto, alguns grupos estão mais vulneráveis, por fatores como pobreza, migração, estresse extremo, exposição à violência (doméstica, sexual e de gênero), situações de emergência e conflito, desastres naturais e baixo apoio social.
Larissa Nataelen, expõe que desenvolveu depressão pós-parto devido ao quadro depressivo que se agravou decorrente de fatores externos. Durante a gravidez, ela passava por situações de extremo estresse, pois constantemente sofria violência física e psicológica de seu ex-companheiro. “A maternidade para mim foi muito difícil. Eu não tinha auxílio, chorei a gravidez inteira, todos os dias. A depressão não foi desencadeada pelo meu filho, mas sim por todo desgaste emocional e físico que eu passei”, conta. Larissa completa que foi diagnosticada tardiamente, oito meses após o puerpério. Ela defende a necessidade de existir auxílio psicológico para as mulheres desde o pré natal ao pós parto.
De acordo com Annelise, em novembro de 2023, ocorreu uma mudança na legislação, que inclui o pré-natal psicológico, que visa o aspecto psíquico da gestante. Porém, é necessário existir políticas públicas que também deem suporte após o parto. “No Brasil, não temos uma política específica, guias ou protocolos perinatais. Acredito que por ter um custo financeiro muito alto para o Sistema de Saúde, por diversos fatores, como: a perda de produtividade da mulher, o longo tratamento, e até pela infância, já que vai impactar na forma como as crianças são cuidadas”, expõe.
Jheniffer Rosa, também envolvida pela campanha, relata que foi diagnosticada com nível alto de estresse, mas apresentava sintomas durante a gravidez. Mesmo com os sintomas, buscou auxílio profissional após três anos do nascimento da filha. “Eu falava que minha cabeça estava cansada e as pessoas diziam que ser mãe é assim mesmo. E eu acreditei que isso era verdade.” Jheniffer diz que se sentia inviabilizada, e passou dois anos guardando o cansaço. “Eu não era mais a Jheniffer, eu era só a mãe da Mirela. Eu fiquei em um nível de estresse tão grande que eu tinha vontade de matar ela, de jogar na parede, ou sair andando sem rumo. Então percebi que estava doente”, relata. Durante um ano, Jheniffer teve que fazer uso de medicação para bipolaridade: “Eu perguntei se era bipolar, o psiquiatra me falou que o meu estresse estava tão alto que só um regulador de humor pra me fazer relaxar diante do dia a dia.”
Conforme a pesquisa “De Mãe em Mãe”, realizada por profissionais de nutrição e pediatria da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 97% das mães brasileiras se sentem sobrecarregadas quase todos os dias da semana, e 94% dizem que estão desgastadas. A pesquisa também mostra que 75% das mães entrevistadas revelaram que já tiveram um comportamento explosivo e sentiram culpa. Com base nisso, Annelise reforça os perigos da romantização da maternidade. “Socialmente é relegada a mulher as caracteristicas de cuidado, amor incondicional, e a beleza da maternidade. O sofrimento, a angústia, e o peso, não podem ser sentidos porque significa que eu amo menos”, completa. O sofrimento mental das mães pode ser tão intenso a ponto de levá-las ao suicídio. Segundo dados mundiais, esta é uma das principais causas de morte de mulheres no primeiro ano de vida após o parto.
Neste ano, a campanha maio furta-cor, leva o lema “Uma mãe leva a outra”, com o objetivo de viabilizar o suporte feminino na maternidade. A campanha teve fortalecimento no mês de maio, em que ocorreram diversas ações de conscientização, como oficinas, rodas de conversas, palestras e marchas. Porém durante todo o ano são feitas ações que fomentam o debate e a construção de políticas públicas.
Roda de conversa permitiu que mães compartilhassem medos e anseios relacionados às experiências na maternidade. Foto: Eloise da Silva
Ficha Técnica
Produção: Karen Stinsky
Edição e publicação: Karen Stinsky, Louren Leuch e Mariana Borba
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos
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- Produção: Laura Urbano
- Categoria: Cidade e cidadania
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Questões legais, ambientais e religiosas são determinantes na escolha para cremação
A prática da cremação de cadáveres é um processo milenar, que surgiu nas civilizações grega e romana, como forma nobre de destino após a morte. Nessa técnica, o corpo é submetido a temperaturas entre 900 a 1300 graus celsius em câmaras crematórias, a fim de ser reduzido em cinzas. No Brasil, até meados dos anos 1990, apenas um crematório, em São Paulo, estava em atividade. Em 2020, segundo o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), o país contava com 132 crematórios registrados e 70 em funcionamento.
Forno crematório pode chegar até 1300 graus celsius | Foto: Laura Urbano
O Paraná acompanhou o crescimento do rito fúnebre. No início dos anos 2000, apenas duas empresas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) faziam o procedimento. Em 2023, treze crematórios estão em atividade, sendo seis na RMC, e os demais no interior do estado. Ponta Grossa, mesmo com quase 400 mil habitantes, conta com apenas uma opção de crematório: o Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais. Segundo o proprietário Ricardo Lievore, a procura pela cremação na região ainda é baixa. “Em Ponta Grossa acontecem em média 300 óbitos por mês, cerca de 10 por dia. Nós fazemos aproximadamente 7 cremações por mês.”, explica.
Questões legais da cremação
A Legislação Brasileira determina que, em casos de morte violenta, como suicídio, acidente de trânsito e homicídio doloso ou culposo, a cremação é vedada ou só pode ser realizada mediante autorização judicial. Ricardo explica que os crematórios devem manter unidades de conservação dos corpos, com temperaturas entre 0 graus a 10 graus negativos. “Nós precisamos manter os corpos armazenados por 24h, em casos de óbitos violentos. Nestas situações, os corpos podem passar por perícia. Além de que nós respeitamos a religião espírita que recomenda esperar 72h do óbito para que o corpo seja cremado”, explica.
Sala crematória é composta por câmara fria e forno crematório | Foto: Laura Urbano
A burocracia por trás do procedimento envolve a apresentação de atestado de óbito assinado por dois médicos, autorização de cremação assinada por um parente de grau direto (cônjuges, pais, avós, filhos, netos e irmãos) e duas testemunhas, além de documentos pessoais do falecido. Nos casos em que a pessoa a ser cremada não tenha parentes diretos, deve ser requisitada por parentes do segundo grau uma autorização judicial para a cremação.
Relações entre a cremação e o meio ambiente
O engenheiro ambiental e mestre em engenharia sanitária, Rhuan Felipe Jeranoski, conta que em Ponta Grossa, os cemitérios públicos foram construídos há mais de um século. Na época, as preocupações com o meio ambiente eram mínimas por parte da sociedade e o poder público não estabelecia determinações legais sobre as condições ideais estruturais e ambientais para a instalação de túmulos.
Rhuan explica que a estrutura dos cemitérios, sem licenciamento ambiental correto, afeta diretamente o meio ambiente. “Esses cemitérios são fontes poluidoras por serem construídos sem qualquer preocupação com a drenagem superficial das águas das chuvas e sem o revestimento das camadas inferiores do solo para retenção de fluídos de necrochorume, liberados na decomposição dos corpos”, detalha.
Processo de sepultamento nos cemitérios convencionais emitem necrochorume em aquífero | Ilustração: Duncan Urban
Para Jeranoski, além da questão ambiental, a liberação do necrochorume, dos corpos sepultados em cemitérios convencionais, é uma questão de saúde pública. “A contaminação do lençol freático pelo necrochorume pode trazer consequências adversas à saúde pública pela grande presença de vírus e bactérias causadoras de doenças, principalmente em locais que a água subterrânea, proveniente de poços rasos e cisternas, seja fonte de abastecimento de água para a população”, ele explica.
Um estudo realizado pela Associação Nacional dos Diretores Funerários dos Estados Unidos revela que a preocupação com o meio ambiente vem aumentando a procura por planos de cremação, um procedimento ecologicamente correto. Jeranoski explica que mesmo indo de encontro com normas ambientais, esse método também pode causar impactos para o meio ambiente, como a emissão de partículas, devido à incineração, na atmosfera e, em algumas situações, o consumo elevado de energia elétrica.
Ainda assim, a cremação segue sendo uma alternativa menos prejudicial ao meio ambiente em relação ao sepultamento em cemitérios convencionais. “Na cremação não ocorre a geração de necrochorume e não requer espaço físico extenso, gerando economia de área, especialmente em meio urbanos onde o espaço é limitado”, conclui Rhuan.
Alternativas de destino para as cinzas
O destino das cinzas é uma preocupação para familiares e amigos do ente querido que partiu. A escolha da família e crença em determinada religião é fundamental para o armazenamento. Nos casos em que a decisão seja mantê-las armazenadas, as urnas cinerárias podem ser colocadas em espaços destinados à elas, como os columbários, um memorial, ou ainda, em pequenos espaços em túmulos e jazigos.
Outras alternativas são: confecção de acessórios com pequena quantidade de cinzas; urnas feitas de materiais biodegradáveis que, ao serem plantadas, tornam-se árvores; manter no lar da família do falecido ou espalhar as cinzas por lugares que foram significativos durante a vida da pessoa que partiu.
Em Ponta Grossa, caso o desejo seja o armazenamento em jazigos familiares, nos cemitérios públicos, o Serviço Funerário determina que seja solicitada uma guia, no valor de 55 reais, para a abertura das gavetas ossuárias dos túmulos. No momento da solicitação deve ser apresentada a documentação de propriedade dos túmulos ou declaração de permissão de abertura, assinada pelos proprietários.
O subsolo da Catedral Sant’Ana de Ponta Grossa conta com a estrutura da cripta, local destinado a armazenar os ossos de pessoas falecidas há mais de cinco anos ou urnas cinerárias. A edificação, mantida pelo Cemitério Parque Jardim Paraíso, abriga 8858 lóculos e, atualmente, menos de mil espaços estão ocupados. Os lóculos vazios estão disponíveis para compra no valor de 1500 reais e pagamento de taxa anual de 130 reais, destinada à manutenção, válida para 2024. Enquanto que, no mesmo cemitério, um jazigo está sendo vendido por 5700 reais, além da taxa anual de 350 reais. O espaço da cripta também abriga os túmulos dos dois primeiros bispos de Ponta Grossa, Dom Antônio Mazarotto e Dom Geraldo Micheletto Pellanda.
Cripta na Catedral Sant'Ana conta com 8858 lóculos | Foto: Laura Urbano
A estrutura do Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais, além de disponibilizar salas para velórios, copa e salas de descanso, mantém o columbário, como forma de memorial aos falecidos. As cinzas são guardadas em gavetas com portas de vidro, de maneira que possibilite à família guardar a urna cinerária, objetos, cartas, fotografias e lembranças da pessoa que faleceu. O espaço no columbário pode ser locado, anualmente, por 650 reais.
Valores da cremação e de sepultamentos convencionais
O Crematório Parque Campos Gerais, único crematório de Ponta Grossa, está em atividade desde 2014 e, em média, realiza sete cremações ao mês. Segundo a tabela de valores do crematório, o procedimento, que conta com cremação, aluguel da câmara fria e locação do columbário por um ano, custa, aproximadamente, cinco mil e quinhentos reais. O crematório disponibiliza planos funerários que facilitam as formas de pagamentos. Em relação ao sepultamento no Cemitério Parque Campos Gerais, apenas a compra de jazigo custa entre sete mil e oitocentos reais até nove mil reais. Estes valores desconsideram procedimentos de preparação do corpo, caixão e salas de velório, além de que, em casos de planos funerários, os valores podem apresentar variação.
Ciclo da cremação é composto por armazenagem em câmara fria, incineração do corpo e armazenagem em urnas cinerárias | Ilustração: Duncan Urban
Ficha Técnica:
Produção: Laura Urbano
Edição: Joyce Clara e Iolanda Lima
Publicação: Radmila Baranoski e Lucas Veloso
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Cândida de Oliveira
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- Produção: Cristiane Melo
- Categoria: Cidade e cidadania
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O Paraná lidera o ranking nacional de acidentes por choques elétricos e curto-circuitos. Neste ano, somente no mês de janeiro, foram registradas 30 ocorrências. Nove delas, por choque elétrico, com quatro mortes. Os números aumentaram 28% nos últimos dois anos, subindo de 92 acidentes, no ano de 2021, para 127 no ano passado. O crescimento levanta um alerta sobre os perigos de acidentes dentro de casa, onde qualquer pessoa pode ser a vítima.
Segundo relatório da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (ABRACOPEL), um dos principais motivos dos curto circuitos é a instalação elétrica interna. Os eletrodomésticos ou aparelhos eletrônicos são os maiores causadores de choques, com 21,5%. Em segundo lugar, o fio partido ou sem isolamento, com 16,8%. As manutenções aparecem com 10,7% e os acidentes com benjamim, popularmente chamado de T, tomadas e extensão com 14,1%.
De acordo com o engenheiro eletricista Jorge Guedes a falta de conscientização é também um dos maiores causadores de acidentes elétricos domésticos. “As pessoas possuem muitos aparelhos elétricos dentro de casa, mas não buscam saber os riscos que eles trazem quando não manuseadas de forma correta”, analisa. O profissional ressalta que a informação pode ajudar a salvar vidas. “São coisas pequenas e simples de serem evitadas, mas por falta de conhecimento acabam gerando grandes problemas, muitas vezes, resultando em mortes”, completa.
Carlos Monteiro foi uma vítima de acidente doméstico. Ele conta que não desligou a chave geral para trocar a fita isolante do chuveiro de sua casa e levou um choque, necessitando de ajuda médica. “Era um pequeno reparo e acreditei que tomando os cuidados, como não pegar na parte descascada não aconteceria nada[...] estava num dia corrido e quis fazer às pressas, mas acabei no hospital por choque elétrico e muitas dores pelo corpo”, revela.
Desligar a chave geral para realizar manutenções está entre as principais formas de prevenir acidentes elétricos domésticos. Outros cuidados são recomendados, como a manutenção preventiva do imóvel, não ligar vários aparelhos em uma única tomada e não utilizar aparelhos elétricos próximos a locais molhados. Em casas com crianças e animais, também é importante manter as tomadas protegidas para evitar acidentes.
Em casos mais graves curto circuitos podem causar incêndios
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- Produção: Vitória Testa
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O Hotel Santa Cruz localizado na esquina das ruas Tenente Hinon Silva e Tenente Pinto Duarte, no Centro, foi o mais recente a ser incendiado na cidade
O incêndio que atingiu o Hotel Santa Cruz aconteceu na madrugada do dia três de maio deste ano. O imóvel foi construído na década de 1960 e, neste ano, foi interditado pelos bombeiros antes do incêndio. Mesmo assim, vizinhos relataram que o local continuava sendo usado por moradores de rua. As causas do fogo e o número de pessoas envolvidas ainda não foram esclarecidos.
Embora não se saiba exatamente o que originou o incêndio que destruiu o imóvel, há muitas divergências nas informações que circularam sobre o assunto. O Corpo de Bombeiros afirmou que não houve vítimas socorridas no local, já relatos de vizinhos do prédio contam que uma pessoa teria sido resgatada das chamas. De acordo com os bombeiros, nenhum inquérito será aberto para investigar as causas do incêndio no hotel.
O imóvel estava na lista do Departamento de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura entre imóveis inventariados para tombamento. Em 2023 o processo de reconhecimento do valor histórico do prédio, que foi iniciado em outubro de 2003, completaria duas décadas. Neste ano, em comemoração aos 200 anos de Ponta Grossa, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural (COMPAC) retornou a discussão de tombamento desses imóveis. Depois do incêndio, o prédio do hotel Santa Cruz foi parcialmente demolido pela Defesa Civil por risco de desabamento.
Hotel Santa Cruz após a destruição causada pelo fogo | Foto: Vitória Testa
Incêndios recorrentes
Não é incomum que imóveis indicados para tombamento sejam incendiados. Em Ponta Grossa já ocorreram casos parecidos com o do Hotel Santa Cruz, como o caso do prédio histórico do Clube Sírio-libanês, construído na década de 1930 por imigrantes, que pegou fogo em 2007 na Rua XV de Novembro. O Clube estava listado entre os imóveis inventariados para tombamento fazia 8 anos, mas o processo não havia sido concluído ainda.
Em caso semelhante no início dos anos 2000, o prédio histórico do antigo Hotel Dallas, localizado próximo à Estação Saudade, também pegou fogo. Já em janeiro deste ano outro imóvel histórico foi incendiado e depois demolido, localizado na avenida Carlos Cavalcanti, esquina com a rua Pereira Passos, ao lado do Colégio Estadual General Osório. A história se repete: um prédio antigo que apresenta deterioração é sondado para tombamento, acontece um incêndio e demolido por risco de tombamento.
O artigo nº 43 da Lei Municipal nº 6.183/2001 prevê uma multa de R$ 1.760,00 a R$ 176.000,00 em casos de demolição, destruição ou mutilação da propriedade tombada. No entanto, como o processo de tombamento dos imóveis incendiados citados não foi finalizado, a multa não se aplica.
Nas redes sociais o internauta André Rosa lamenta: “Outra vez a conveniência de uma demolição estupra o que resta da memória daquela que já foi chamada ‘Princesinha dos Campos Gerais’. Sua antiga beleza, que unia o natural ao arquitetônico, foi pervertida, deformada e prostituída pela elite nefasta, estúpida e ignorante, que contou com a conivência de um povo submisso, para realizar seu intento”.
Por que não querem tombar?
Nem sempre o reconhecimento do valor histórico de um imóvel é comemorado pelos proprietários. Isso ocorre porque as normas de preservação, segundo a Lei Municipal nº 6.183/2001, preveem que a proteção e conservação de um bem tombado é responsabilidade dos proprietários, sem permitir reformas que descaracterizem o local.
De acordo com a lei, os casos de reformas devem ser encaminhados ao COMPAC, para que o Conselho determine os procedimentos a serem seguidos pelos donos das propriedades. Porém, a burocracia para realizar qualquer tipo de reforma em imóveis tombados faz com que os proprietários sejam contrários ao tombamento.
A casa de Tereza Chemin (83), comprada pela família Chemin por volta da década de 1940, foi tombada como patrimônio cultural de Ponta Grossa no ano passado. Esse foi o primeiro tombamento de um imóvel de madeira na cidade. A casa fica localizada na Rua Theodoro Rosas, 64, e é conhecida pelo seu tom amarelado e pelos ornatos em madeira conhecidos como lambrequim.
Mas a casa nem sempre foi dessa maneira. Tereza afirma que quando seus pais compraram a casa ela tinha “cor de pinhão” e durante os anos foram feitas diversas reformas em decorrência das marcas do tempo. Agora, com o tombamento, os moradores da casa lamentam não poder reformar a residência, que apresenta deteriorações devido ao tempo de uso. Mesmo com lambrequins quebrados e problemas no telhado eles não podem manter os reparos em dia.
Ficha técnica:
Reportagem: Vitória Testa
Edição: João Iansen
Publicação: João Iansen
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos
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O museu Campos Gerais abre nova exposição que mostra a história de Ponta Grossa durante seus dois séculos de existência
O que representa Ponta Grossa? Seriam os sítios arqueológicos da região, como o Parque Vila Velha ou o Buraco do Padre? Talvez a cidade seja conhecida por conta do seu time de futebol que há tantos anos leva o nome do município para campeonatos estaduais e nacionais, ou até mesmo por algum prato típico. A pergunta sobre o que realmente representa a “Princesa dos Campos Gerais” não possui uma resposta simples. Em setembro se comemora o bicentenário da cidade, e ao longo desses dois séculos muitos elementos foram fundamentais para a sua construção.
A cidade se prepara desde o ano de 2022 para a celebração do aniversário de 200 anos, que ocorre no dia 15 de setembro. Um dos espaços a entrar na comemoração foi o Museu Campos Gerais (MCG), que recentemente inaugurou a exposição “Duzentos”, com o objetivo de mostrar a história e a formação da cidade, evidenciando principalmente os aspectos locais e regionais.
A exposição conta com diversos espaços e elementos que mostram a diversidade da cidade, além de ressaltar a importância de cada fragmento na formação do município. A mostra conta com objetos fundamentais na história da cidade: um exemplo é a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A instituição possui um papel significativo para o desenvolvimento de Ponta Grossa em diversas áreas, desempenhando uma função crucial na formação de profissionais através dos cursos de graduação e pós-graduação.
Outra característica muito forte na cidade é a comunicação, que na exibição é representada por equipamentos cinematográficos antigos da RPC, afiliada da rede Globo no estado. Há também materiais do Diário dos Campos, o jornal impresso mais antigo da cidade, criado em 1907, sendo atualmente o maior em circulação na região. Além de também contar com discos da Rádio Clube Pontagrossense, a rádio mais antiga em atividade no Paraná.
A Ponta Grossa que tem o amor pelo time local, o Operário Ferroviário, também é representada no salão do MCG. Ao longo de tantos anos a história do clube esteve relacionada de forma direta com a história da cidade. Na mostra estão expostas fotos das primeiras equipes, troféus importantes para o clube, como a primeira taça conquistada pelo time em 1916, títulos conquistados na Série D (2017) e Série C (2018) do Campeonato Brasileiro, além da bola que levou o time à vitória no Campeonato Paranaense de 2015.
A diversidade da cidade também é retratada a partir das diferentes religiões praticadas, como o catolicismo, as macumbas do candomblé e a umbanda, e da pluralidade cultural. Na mostra, a presença dos sírios, libaneses e árabes é retratada, com suas tradições culinárias, culturais e religiosas.
A cultura também é representada, através da banda Lyra dos Campos, banda marcial com mais de 70 anos na cidade e que já ajudou na formação musical de mais de 700 músicos. A influência do hip hop também é mostrada, com elementos característicos da arte da cidade, destacando o grafite e o skate.
A exposição revela uma Ponta Grossa que não está nos livros de história, com figuras e nomes importantes que não viraram monumentos e nem nomes de rua. A história desses duzentos anos é resgatada conjuntamente com as memórias mais recentes da cidade.
Ficha técnica:
Reportagem: Vanessa Galvão
Edição: Heloisa Ribas Bida e Carolina Olegário
Publicação: Heloisa Ribas Bida
Supervisão de produção: Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Supervisão de publicação: Marizandra Rutilli e Luiza Carolina dos Santos