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- Produção: Laura Urbano
- Categoria: Cidade e cidadania
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As principais reclamações são relativas à deficiência na segurança e dificuldade de locomoção no período noturno
A Portaria nº 55/99 do Ministério da Saúde regulariza o atendimento de pacientes em Tratamento Fora do Domicílio (TFD). Os serviços intermunicipais são de responsabilidade da Fundação Municipal da Saúde de Ponta Grossa (FMS/PG), que disponibiliza carros e ônibus (operados por empresa privada) para transporte de moradores que necessitam de consultas, exames e procedimentos cirúrgicos em hospitais de Curitiba e Região Metropolitana.
Os ônibus disponibilizados para este serviço saem de Ponta Grossa, de segunda a sexta-feira, em dois horários: às 04h e às 09h da manhã. Além do transporte intermunicipal, a FMS também se responsabiliza pelo pagamento de diárias de alimentação e, em casos específicos, pernoite para os pacientes e acompanhantes. Embora essencial, a iniciativa enfrenta problemas que impactam diretamente os usuários.
Os ônibus disponíveis para o serviço em Ponta Grossa operam de segunda a sexta-feira, das 04h e às 09h da manhã | Foto: Laura Urbano
Um dos principais desafios é o deslocamento dos pacientes que viajam às 04h, do trajeto de suas casas até a rodoviária nas primeiras horas da manhã. Sem transporte coletivo disponível, que não opera após a meia noite , muitos usuários, geralmente idosos ou pessoas debilitadas devido a problemas de saúde, precisam encontrar alternativas seguras e acessíveis para chegar ao local.
Silvana Rodrigues de Oliveira utiliza o serviço de transporte há mais de seis anos e conta com o auxílio de um vizinho, que trabalha na rodoviária, para a locomoção. “Se não fosse por ele, a gente não saberia o que fazer. Talvez a gente viesse de ônibus até aqui, mas amanhecer na rodoviária não dá porque a gente tem medo”, explica.
A Fundação Municipal da Saúde (FMS) oferece transporte, com carros e vans, aos pacientes, de suas residências até a rodoviária, e deve proporcionar mais comodidade e segurança aos usuários. Para utilizar esse serviço, os pacientes precisam ir até o Centro Municipal de Agendamentos da Saúde, onde realizam a solicitação e organizam o transporte de acordo com as suas necessidades. José Antônio Malkut da Silva, motorista da FMS, explica a rotina que leva ao buscar os pacientes nas suas residências. “Nós começamos a pegar as pessoas perto da 01h30 da manhã e chegamos na rodoviária às 03h30. Além de trazer até aqui [rodoviária de Ponta Grossa], nós motoristas também levamos, de carro ou van, as pessoas até as consultas nas outras cidades. Diariamente saem os dois ônibus da empresa fretada para o transporte e mais 9 carros”, conta.
A segurança na rodoviária é outra preocupação constante. O fluxo de moradores em situação de rua ou usuários de entorpecentes é frequente no local, o que gera um ambiente de insegurança para aqueles que aguardam a saída dos ônibus. Em agosto de 2023, uma empresa de segurança privada foi contratada para monitorar a área. Silvana conta que antes desta contratação, o local era bastante inseguro, mas a presença das equipes de vigilância traz mais tranquilidade para os usuários da rodoviária. “Agora eu fico mais tranquila porque tem guardas, mas antes não tinha e dava medo das pessoas que ficavam encarando a gente”.
Helena Kocicki depende do serviço para o transporte dos seus três filhos, que vão a consultas frequentes no Hospital de Olhos do Paraná, devido ao diagnóstico de doença genética que causa a perda total ou parcial da visão. Ela relata que, como vão até a rodoviária em quatro pessoas, precisaram investir em um carro popular para a condução até o local. “Eu pago pequenas parcelas do carro que saem mais baratas do que se eu precisasse comprar passagem das empresas de ônibus até Curitiba quase toda a semana. Mas seria melhor se a [Fundação Municipal de] Saúde disponibilizasse mais carros de transporte até o ponto de embarque”, comenta.
Apesar dos problemas, Helena acredita que o sistema facilita o tratamento de saúde dos filhos. “Eu uso o ônibus há 24 anos, desde que eu descobri a condição do meu primeiro filho e ele precisou passar por vários exames e procedimentos cirúrgicos. Nos anos seguintes, meus outros filhos nasceram com outras deficiências e todos eles são acompanhados por médicos em Curitiba”, explica.
A Fundação Municipal de Saúde, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), esclarece os procedimentos para a solicitação do transporte nos casos de Tratamento Fora do Domicílio.
Os usuários devem agendar o serviço no endereço do CAT na Rua Visconde de Taunay n°750 , apresentando os documentos de Pedido médico local e RG do paciente ou acompanhante. Os acompanhantes são permitidos para menores de 18 anos, idosos acima de 60 anos, deficientes físicos ou neurológicos incapacitantes, e mulheres pela Lei nº 14.737/2023. Recomenda-se o comparecimento dos pacientes na rodoviária com 20 a 30 minutos de antecedência. Caso os pacientes ainda tenham problemas com a locomoção, deve enviar os documentos pelo e-mail: altaspontagrossa@gmail.com
Ficha Técnica
Produção: Laura Urbano
Edição e publicação: Ana Beatriz, Mariana Borba e Gabriel Ribeiro
Supervisão de produção: Carlos Souza
Supervisão de publicação: Kevin William e Candida Oliveira
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- Produção: Luísa de Andrade
- Categoria: Cidade e cidadania
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A iniciativa visa aumentar a população de abelhas e educar a comunidade sobre a importância da polinização
Poliniza PG é o nome da iniciativa municipal que dispõe sobre a criação, manejo e transporte de colméias de abelhas nativas sem ferrão para escolas do município e outras instituições educacionais. A lei 14320/2022 foi aprovada pela Câmara Municipal de Ponta Grossa em 2022. O projeto é ligado à Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e conta com o assessor Edson Maciel, que tem 8 anos de experiência na apicultura e é o responsável técnico pela efetivação e monitoramento das colméias instaladas no município.
As abelhas sem ferrão são cultivadas em caixas de madeira. | Foto: Luísa de Andrade
Uma derivação do Poliniza PG é o projeto Jardins de Mel, vinculado à Secretaria Municipal de Educação de Ponta Grossa, que tem por objetivo a implantação de caixas de abelhas melíponas (sem ferrão) em escolas, CMEIs e instituições filantrópicas. Maciel explica que a Prefeitura dá o apoio necessário para os professores responsáveis pela ação. “A gente vai lá, conversa com os estudantes e com a equipe da escola. Damos esse apoio aos professores para repassar ensinamentos sobre as abelhas nativas sem ferrão, e a sua importância para o meio ambiente e para a polinização de árvores frutíferas e flores”.
O secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Ponta Grossa, Izaltino Cordeiro dos Santos, destaca a importância da atividade de conscientização ambiental principalmente por ser direcionada aos alunos e às unidades de ensino do município. O objetivo principal do projeto é a educação ambiental, que começa nas escolas parceiras. Para o assessor Maciel, é fundamental que os educadores abracem a ideia e ajudem na consolidação do projeto em Ponta Grossa. “Hoje, o projeto tem uma aceitação de quase 100%” , comenta Edson. Atualmente os Jardins de Mel são desenvolvidos em 19 instituições, entre eles escolas, CMEIs municipais, a Universidade Estadual de Ponta Grossa e em algumas instituições filantrópicas como a Irmãos Cavanis e Aproaut.
A Escola Municipal Prefeito Engenheiro Eurico Batista Rosas foi uma das entidades que recentemente adotou o projeto Jardins de Mel. De acordo com a diretora da escola, Andréa de Fátima Kret Teixeira, a ideia de trazer o projeto para a unidade surgiu de uma professora da educação infantil, inspirada na implementação bem-sucedida dessa atividade em um CMEI da cidade. Para garantir a sua execução adequada, a escola conta com a supervisão e orientação de Maciel, a fim de desenvolver atividades educativas focadas no estudo das abelhas nativas, especificamente a espécie Mandaçaia, introduzida na instituição.
Andréa destaca que o projeto é uma oportunidade para promover conceitos de preservação ambiental e responsabilidade ecológica entre alunos e professores. "Este projeto será como uma sala de aula ao ar livre, em que os professores realizarão observações e atividades riquíssimas com seus alunos", afirma a diretora, enfatizando o impacto positivo da iniciativa na formação educativa.
Conscientização ambiental contra práticas nocivas
Ainda que o governo municipal esteja desenvolvendo práticas que visem a conscientização ambiental, o cenário não favorece a preservação das abelhas nativas e de outros animais. Guto Rotta é educador da área de Ciências Sociais e secretário da Associação dos Apicultores e Meliponicultores dos Campos Gerais. Ele afirma que existe negligência do legislativo referente a ações que visem efetivamente a preservação do meio ambiente da cidade. “A gente já teve até projeto de lei engavetado que era contra a plantação de árvores extremamente tóxicas às abelhas em Ponta Grossa, as espatódeas, populares bisnagueiras, árvores exóticas que vieram da África e que não matam apenas as abelhas, matam beija-flor, passarinhos e qualquer espécie de polinizador que chega na flor extremamente tóxica”, explica Rotta. Além disso, outra prática nociva adotada pelo governo municipal é o fumacê, utilizado para combater o mosquito da dengue. O método, que apresenta apenas 40% de eficácia no combate ao aedes aegypti, é mortal para as abelhas, conforme Rotta.
A preservação das abelhas nativas impacta diretamente o funcionamento da vida humana. Mais de 70% da alimentação humana em todo o mundo depende da polinização das abelhas. Essa atividade tem sido muito afetada pela monocultura, esterilização dos solos e por devastações. “O Brasil é um país continental, com diferentes biomas e todos dependem diretamente da abelha e da polinização. Mas, elas acabam sofrendo as consequências da falta de cuidado com o meio ambiente, porque onde teriam o seu alimento natural do bioma, este alimento foi completamente varrido pelo plantio da soja”, avalia o secretário.
Ficha Técnica:
Produção: Luísa de Andrade
Edição e Publicação: Loren Leuch e Vitória Schrederhof
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Kevin Furtado
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- Produção: Maria Tlumaski
- Categoria: Cidade e cidadania
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A medida desagradou profissionais e usuários do transporte público
A partir do dia 20 de maio, mais nove linhas de ônibus ficam sem cobradores em Ponta Grossa. As demissões dos profissionais estavam previstas desde a última votação de reajuste salarial dos trabalhadores, feita em dezembro de 2023. Em contato com a Viação Campos Gerais (VCG), a decisão foi tomada para incentivar os passageiros a utilizarem o cartão de transporte ou que possuam o dinheiro trocado, para facilitar o embarque.
Porém, a medida não agradou a categoria. Carlos Henrique Vieira trabalhou por 12 anos como cobrador de ônibus e acha sua profissão importante. “Trabalhei por muito tempo cobrando dentro do ônibus, ajudava muito o motorista, porque aí ele não precisava perder muito tempo para fazer a troca do dinheiro, ter tirado essa profissão apenas deu um trabalho a mais”. Para ele, colocar o motorista para fazer mais uma função pode acabar sobrecarregando e tomando mais tempo da viagem. “Agora o tempo que vai levar para o ônibus parar, esperar o motorista trocar o dinheiro de todos os passageiros, e embarcar todos será muito mais longo, coisa que não precisa com o cobrador”, comenta.
A estudante Isabela Ferreira, utiliza o ônibus diariamente, e é contrária à mudança. “Acho que o cobrador facilitava o embarque, nem todo mundo tem tempo de ir fazer o cartão de ônibus ou anda com dinheiro trocado no bolso”. Para ela, o cobrador ainda ajudava na hora da organização. “São muitas pessoas embarcando, o cobrador ajudava a manter um controle, pedindo para as pessoas irem para trás, ou avisando o motorista que não havia mais espaço”, aponta.
Diversas linhas já se encontram sem cobradores | Foto: Wesley Machado
Atualmente, a empresa opera 60 linhas sem cobradores pela cidade. A medida começou em fevereiro e março deste ano, com 31 linhas, no mês de abril, a empresa anunciou mais 20 linhas com o motorista realizando a função da cobrança da passagem. As novas linhas sem cobradores são Cachoeira, Cará-Cará, Catarina Miró, Leila Maria, Núcleo Pitangui, Ouro Verde, Parque Nossa Senhora das Graças, Shangrilá – Terminal Central, Vila Liane. Segundo a VCG, os trabalhadores já haviam sido informados da medida desde 2023. Ainda de acordo com a empresa prestadora de serviço, há o movimento de demitir todos os cobradores de todas as linhas.
Ficha Técnica
Produção: Maria Tlumaski
Edição e publicação: João Victor Lemos e Vitória Schrederhof
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos
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- Produção: Karen Stinsky
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Em Ponta Grossa, a ação busca conscientizar e fomentar a construção de políticas públicas acerca da saúde mental materna
A Campanha maio furta-cor, realizada desde 2021 na cidade de Ponta Grossa, é uma iniciativa que busca sensibilizar e conscientizar a população a respeito da saúde mental materna. De acordo com o Guia para a integração da saúde mental perinatal em serviços de saúde materno-infantil, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2022, cerca de 20% das mulheres desenvolvem algum transtorno mental após se tornarem mães. Uma em cada cinco desenvolve distúrbios específicos durante a gravidez ou um ano após o parto. Pensamentos suicidas, mutilação, depressão e ansiedade são algumas das consequências desse período em que a saúde mental fica debilitada.
Annelise Moya Teixeira, representante da campanha em Ponta Grossa, informa que os dados da OMS podem ser maiores, devido à falta de detecção, acompanhamento e tratamento dos transtornos na fase perinatal [período que compreende a gravidez, o parto e o puerpério]. “Apesar dos dados disponíveis, ainda existem muitas subnotificações dos casos. Não é realizado o recorte do período crítico da mulher. Normalmente, não é feita essa conexão entre o adoecimento com a gestação próxima”, observa.
Segundo a OMS, a mulher está suscetível a desenvolver transtornos mentais durante a gravidez e no primeiro ano após o parto. No entanto, alguns grupos estão mais vulneráveis, por fatores como pobreza, migração, estresse extremo, exposição à violência (doméstica, sexual e de gênero), situações de emergência e conflito, desastres naturais e baixo apoio social.
Larissa Nataelen, expõe que desenvolveu depressão pós-parto devido ao quadro depressivo que se agravou decorrente de fatores externos. Durante a gravidez, ela passava por situações de extremo estresse, pois constantemente sofria violência física e psicológica de seu ex-companheiro. “A maternidade para mim foi muito difícil. Eu não tinha auxílio, chorei a gravidez inteira, todos os dias. A depressão não foi desencadeada pelo meu filho, mas sim por todo desgaste emocional e físico que eu passei”, conta. Larissa completa que foi diagnosticada tardiamente, oito meses após o puerpério. Ela defende a necessidade de existir auxílio psicológico para as mulheres desde o pré natal ao pós parto.
De acordo com Annelise, em novembro de 2023, ocorreu uma mudança na legislação, que inclui o pré-natal psicológico, que visa o aspecto psíquico da gestante. Porém, é necessário existir políticas públicas que também deem suporte após o parto. “No Brasil, não temos uma política específica, guias ou protocolos perinatais. Acredito que por ter um custo financeiro muito alto para o Sistema de Saúde, por diversos fatores, como: a perda de produtividade da mulher, o longo tratamento, e até pela infância, já que vai impactar na forma como as crianças são cuidadas”, expõe.
Jheniffer Rosa, também envolvida pela campanha, relata que foi diagnosticada com nível alto de estresse, mas apresentava sintomas durante a gravidez. Mesmo com os sintomas, buscou auxílio profissional após três anos do nascimento da filha. “Eu falava que minha cabeça estava cansada e as pessoas diziam que ser mãe é assim mesmo. E eu acreditei que isso era verdade.” Jheniffer diz que se sentia inviabilizada, e passou dois anos guardando o cansaço. “Eu não era mais a Jheniffer, eu era só a mãe da Mirela. Eu fiquei em um nível de estresse tão grande que eu tinha vontade de matar ela, de jogar na parede, ou sair andando sem rumo. Então percebi que estava doente”, relata. Durante um ano, Jheniffer teve que fazer uso de medicação para bipolaridade: “Eu perguntei se era bipolar, o psiquiatra me falou que o meu estresse estava tão alto que só um regulador de humor pra me fazer relaxar diante do dia a dia.”
Conforme a pesquisa “De Mãe em Mãe”, realizada por profissionais de nutrição e pediatria da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 97% das mães brasileiras se sentem sobrecarregadas quase todos os dias da semana, e 94% dizem que estão desgastadas. A pesquisa também mostra que 75% das mães entrevistadas revelaram que já tiveram um comportamento explosivo e sentiram culpa. Com base nisso, Annelise reforça os perigos da romantização da maternidade. “Socialmente é relegada a mulher as caracteristicas de cuidado, amor incondicional, e a beleza da maternidade. O sofrimento, a angústia, e o peso, não podem ser sentidos porque significa que eu amo menos”, completa. O sofrimento mental das mães pode ser tão intenso a ponto de levá-las ao suicídio. Segundo dados mundiais, esta é uma das principais causas de morte de mulheres no primeiro ano de vida após o parto.
Neste ano, a campanha maio furta-cor, leva o lema “Uma mãe leva a outra”, com o objetivo de viabilizar o suporte feminino na maternidade. A campanha teve fortalecimento no mês de maio, em que ocorreram diversas ações de conscientização, como oficinas, rodas de conversas, palestras e marchas. Porém durante todo o ano são feitas ações que fomentam o debate e a construção de políticas públicas.
Roda de conversa permitiu que mães compartilhassem medos e anseios relacionados às experiências na maternidade. Foto: Eloise da Silva
Ficha Técnica
Produção: Karen Stinsky
Edição e publicação: Karen Stinsky, Louren Leuch e Mariana Borba
Supervisão de produção: Muriel Amaral
Supervisão de publicação: Cândida de Oliveira e Luiza Carolina dos Santos
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- Produção: Laura Urbano
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Questões legais, ambientais e religiosas são determinantes na escolha para cremação
A prática da cremação de cadáveres é um processo milenar, que surgiu nas civilizações grega e romana, como forma nobre de destino após a morte. Nessa técnica, o corpo é submetido a temperaturas entre 900 a 1300 graus celsius em câmaras crematórias, a fim de ser reduzido em cinzas. No Brasil, até meados dos anos 1990, apenas um crematório, em São Paulo, estava em atividade. Em 2020, segundo o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), o país contava com 132 crematórios registrados e 70 em funcionamento.
Forno crematório pode chegar até 1300 graus celsius | Foto: Laura Urbano
O Paraná acompanhou o crescimento do rito fúnebre. No início dos anos 2000, apenas duas empresas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) faziam o procedimento. Em 2023, treze crematórios estão em atividade, sendo seis na RMC, e os demais no interior do estado. Ponta Grossa, mesmo com quase 400 mil habitantes, conta com apenas uma opção de crematório: o Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais. Segundo o proprietário Ricardo Lievore, a procura pela cremação na região ainda é baixa. “Em Ponta Grossa acontecem em média 300 óbitos por mês, cerca de 10 por dia. Nós fazemos aproximadamente 7 cremações por mês.”, explica.
Questões legais da cremação
A Legislação Brasileira determina que, em casos de morte violenta, como suicídio, acidente de trânsito e homicídio doloso ou culposo, a cremação é vedada ou só pode ser realizada mediante autorização judicial. Ricardo explica que os crematórios devem manter unidades de conservação dos corpos, com temperaturas entre 0 graus a 10 graus negativos. “Nós precisamos manter os corpos armazenados por 24h, em casos de óbitos violentos. Nestas situações, os corpos podem passar por perícia. Além de que nós respeitamos a religião espírita que recomenda esperar 72h do óbito para que o corpo seja cremado”, explica.
Sala crematória é composta por câmara fria e forno crematório | Foto: Laura Urbano
A burocracia por trás do procedimento envolve a apresentação de atestado de óbito assinado por dois médicos, autorização de cremação assinada por um parente de grau direto (cônjuges, pais, avós, filhos, netos e irmãos) e duas testemunhas, além de documentos pessoais do falecido. Nos casos em que a pessoa a ser cremada não tenha parentes diretos, deve ser requisitada por parentes do segundo grau uma autorização judicial para a cremação.
Relações entre a cremação e o meio ambiente
O engenheiro ambiental e mestre em engenharia sanitária, Rhuan Felipe Jeranoski, conta que em Ponta Grossa, os cemitérios públicos foram construídos há mais de um século. Na época, as preocupações com o meio ambiente eram mínimas por parte da sociedade e o poder público não estabelecia determinações legais sobre as condições ideais estruturais e ambientais para a instalação de túmulos.
Rhuan explica que a estrutura dos cemitérios, sem licenciamento ambiental correto, afeta diretamente o meio ambiente. “Esses cemitérios são fontes poluidoras por serem construídos sem qualquer preocupação com a drenagem superficial das águas das chuvas e sem o revestimento das camadas inferiores do solo para retenção de fluídos de necrochorume, liberados na decomposição dos corpos”, detalha.
Processo de sepultamento nos cemitérios convencionais emitem necrochorume em aquífero | Ilustração: Duncan Urban
Para Jeranoski, além da questão ambiental, a liberação do necrochorume, dos corpos sepultados em cemitérios convencionais, é uma questão de saúde pública. “A contaminação do lençol freático pelo necrochorume pode trazer consequências adversas à saúde pública pela grande presença de vírus e bactérias causadoras de doenças, principalmente em locais que a água subterrânea, proveniente de poços rasos e cisternas, seja fonte de abastecimento de água para a população”, ele explica.
Um estudo realizado pela Associação Nacional dos Diretores Funerários dos Estados Unidos revela que a preocupação com o meio ambiente vem aumentando a procura por planos de cremação, um procedimento ecologicamente correto. Jeranoski explica que mesmo indo de encontro com normas ambientais, esse método também pode causar impactos para o meio ambiente, como a emissão de partículas, devido à incineração, na atmosfera e, em algumas situações, o consumo elevado de energia elétrica.
Ainda assim, a cremação segue sendo uma alternativa menos prejudicial ao meio ambiente em relação ao sepultamento em cemitérios convencionais. “Na cremação não ocorre a geração de necrochorume e não requer espaço físico extenso, gerando economia de área, especialmente em meio urbanos onde o espaço é limitado”, conclui Rhuan.
Alternativas de destino para as cinzas
O destino das cinzas é uma preocupação para familiares e amigos do ente querido que partiu. A escolha da família e crença em determinada religião é fundamental para o armazenamento. Nos casos em que a decisão seja mantê-las armazenadas, as urnas cinerárias podem ser colocadas em espaços destinados à elas, como os columbários, um memorial, ou ainda, em pequenos espaços em túmulos e jazigos.
Outras alternativas são: confecção de acessórios com pequena quantidade de cinzas; urnas feitas de materiais biodegradáveis que, ao serem plantadas, tornam-se árvores; manter no lar da família do falecido ou espalhar as cinzas por lugares que foram significativos durante a vida da pessoa que partiu.
Em Ponta Grossa, caso o desejo seja o armazenamento em jazigos familiares, nos cemitérios públicos, o Serviço Funerário determina que seja solicitada uma guia, no valor de 55 reais, para a abertura das gavetas ossuárias dos túmulos. No momento da solicitação deve ser apresentada a documentação de propriedade dos túmulos ou declaração de permissão de abertura, assinada pelos proprietários.
O subsolo da Catedral Sant’Ana de Ponta Grossa conta com a estrutura da cripta, local destinado a armazenar os ossos de pessoas falecidas há mais de cinco anos ou urnas cinerárias. A edificação, mantida pelo Cemitério Parque Jardim Paraíso, abriga 8858 lóculos e, atualmente, menos de mil espaços estão ocupados. Os lóculos vazios estão disponíveis para compra no valor de 1500 reais e pagamento de taxa anual de 130 reais, destinada à manutenção, válida para 2024. Enquanto que, no mesmo cemitério, um jazigo está sendo vendido por 5700 reais, além da taxa anual de 350 reais. O espaço da cripta também abriga os túmulos dos dois primeiros bispos de Ponta Grossa, Dom Antônio Mazarotto e Dom Geraldo Micheletto Pellanda.
Cripta na Catedral Sant'Ana conta com 8858 lóculos | Foto: Laura Urbano
A estrutura do Cemitério e Crematório Parque Campos Gerais, além de disponibilizar salas para velórios, copa e salas de descanso, mantém o columbário, como forma de memorial aos falecidos. As cinzas são guardadas em gavetas com portas de vidro, de maneira que possibilite à família guardar a urna cinerária, objetos, cartas, fotografias e lembranças da pessoa que faleceu. O espaço no columbário pode ser locado, anualmente, por 650 reais.
Valores da cremação e de sepultamentos convencionais
O Crematório Parque Campos Gerais, único crematório de Ponta Grossa, está em atividade desde 2014 e, em média, realiza sete cremações ao mês. Segundo a tabela de valores do crematório, o procedimento, que conta com cremação, aluguel da câmara fria e locação do columbário por um ano, custa, aproximadamente, cinco mil e quinhentos reais. O crematório disponibiliza planos funerários que facilitam as formas de pagamentos. Em relação ao sepultamento no Cemitério Parque Campos Gerais, apenas a compra de jazigo custa entre sete mil e oitocentos reais até nove mil reais. Estes valores desconsideram procedimentos de preparação do corpo, caixão e salas de velório, além de que, em casos de planos funerários, os valores podem apresentar variação.
Ciclo da cremação é composto por armazenagem em câmara fria, incineração do corpo e armazenagem em urnas cinerárias | Ilustração: Duncan Urban
Ficha Técnica:
Produção: Laura Urbano
Edição: Joyce Clara e Iolanda Lima
Publicação: Radmila Baranoski e Lucas Veloso
Supervisão de produção: Carlos Alberto de Souza
Supervisão de publicação: Luiza Carolina dos Santos e Cândida de Oliveira